UFC quer se consolidar no Brasil

 

No octógono, dois lutadores se enfrentando com fúria, técnica e força. Fora dele, uma ótima iniciativa de negócios. Embora exista desde 1993, o UFC (Ultimate Fighting Championship), modalidade de luta do MMA (Mixed Martial Arts), começou a atingir grande popularidade no Brasil apenas em 2011, apesar de estar entre os esportes de mais audiência no mundo – nos Estados Unidos, perde apenas para o Super Bowl. Na esteira do sucesso de “gladiadores do 3° milênio” – expressão usada por Galvão Bueno na primeira transmissão global oficial do MMA – as lutas se popularizaram e atraíram consumidores, adeptos e, especialmente, patrocinadores.

Em 2011, a estrela da vez foi Anderson Silva. Além do desempenho quase perfeito dentro do ringue, o lutador de mãos pesadas e voz fina protagonizou uma série de campanhas para clientes como Burger King, Ford e Honda, além de ter aparecido em inúmeros programas de televisão, capas de revista e se tornado comentarista da modalidade na Globo. Agora  mais difundido no Brasil, o ideal é que o UFC “se desprenda” da imagem do lutador, baseado em bons resultados que já apresenta no país. Segundo César Gualdani, sócio-diretor da Sport+Markt, o crescimento do número de praticantes e fãs, além do apoio da mídia, dizem que o evento chegou para ficar. “O UFC está diretamente ligado ao entretenimento, ao espetáculo. É uma propriedade muito importante dentro do mix de comunicação, pois o público está aprendendo os mecanismos e não mais rejeitando o MMA pelo rótulo de violento. A modalidade vai ser considerada um business de entretenimento no Brasil, assim como já é nos outros países”, diz o especialista, que também comenta que o evento chegou para tomar o lugar que era do boxe com a mistura.

A última série de embates, o UFC 142, ocorreu no Rio de Janeiro, na semana retrasada, e teve como luta principal o embate entre José Aldo, vencedor por nocaute e que manteve o título mundial dos leves, ainda no primeiro round, e Chad Mendes. Além do HSBC Arena lotado de fãs, as lutas atraíram grande popularidade fora do ginásio: apesar do horário, a transmissão da TV Globo contou com o principal narrador da casa e alcançou 14 pontos no Ibope e 55% de share, algo pouco usual para a faixa das 2 horas da manhã. Ao redor do mundo, estima-se que a audiência do UFC 142 tenha batido a marca de 1 bilhão de pessoas.

Percebendo uma boa alternativa de entretenimento, a emissora de Roberto Marinho comprou os direitos televisivos do UFC no Brasil e de três embates no exterior neste ano, recebendo aporte de Volkswagen, Ambev (com o energético Fusion e a cerveja Budweiser), Procter & Gamble (Gillette) e Hyundai. Segundo a própria Globo, cada marca pagou R$ 8,5 milhões por uma das cotas de patrocínio à transmissão. A RedeTV! também exibiu um dos eventos em 2011. Na televisão por assinatura, os direitos televisivos são de propriedade da Globosat – dona do canal Premiere Combate,  no qual exibe todas as lutas, e do Sportv, que transmite alguns dos eventos – até 2014.

O sucesso dos eventos do Ultimate Fighting no Brasil salta tanto aos olhos que uma terceira edição em solo brasileiro já está agendada. Desta vez a cidade-sede será São Paulo, e o estádio do Pacaembu, até semana passada, era tido como o local mais provável da edição paulistana, apesar da restrição municipal que exige que eventos no local terminem no máximo à 1h, “muito cedo” para atender os patrocinadores e a audiência nos Estados Unidos, devido ao fuso horário.

Para César Gualdani, receber o UFC é extremamente benéfico ao país. “É um campeonato de potencial consideravelmente alto. Em um curto espaço de tempo tivemos dois grandes eventos para o mundo inteiro sediados no Brasil, que antes só recebia a Fórmula 1”, diz o sócio-diretor da Sport+Markt.

Futebol

Com o aumento da popularidade do MMA no Brasil, não demorou para os times de futebol se alinharem à nova moda. Depois do Corinthians contratar Anderson Silva – empresariado pela 9ine de Ronaldo – diversos outros clubes atrelaram sua imagem a lutadores. O Flamengo acertou com o torcedor rubro-negro José Aldo por um ano e viu a marca do clube ganhar projeção com a vitória deste no último embate em solo brasileiro, medida repetida pelo Internacional ao apoiar Minotauro, embora esta “parceria informal” (segundo o clube) esteja ameaçada devido a problemas de pagamento.

Até agremiações menos tradicionais adotaram a iniciativa: também no UFC 142, o Avaí patrocinou o lutador Thiago Tavares (também com um ano de contrato), e foi recompensado com exposição internacional positiva, ao ter seu escudo no boné, calção e na bandeira que o lutador exibiu após nocautear o americano Sam Stout. “Como o Avaí é um clube que não tem o mesmo espaço na mídia nacional que os grandes do futebol brasileiro, temos que encontrar outras formas de ganhar essa exposição. E atrelar a marca do clube com outros esportes é uma saída”, ressalta Thiago Pravatto, diretor de marketing do Avaí, que tem como expectativa a consolidação do UFC, inclusive com o lançamento de uma linha de produtos customizados.

Entretanto, o link entre futebol e MMA pode ser prejudicial por possivelmente exacerbar um dos piores fatores do esporte: o fanatismo cego e a tendência à violência entre as torcidas. Assim que um atleta vincula sua imagem à de um clube, na maioria dos casos por tabela ele pega a antipatia do rival. Somando a histórica rixa entre torcidas organizadas a um evento que pode ser caracterizado como violento, pode haver confronto também fora do ringue. “É um assunto delicado. Existem problemas de violência no futebol, relações de torcida, e o UFC já é um evento que acirra ânimos. Normalmente um lutador profissional cria um ambiente de rivalidade com o adversário, mas assim que termina a luta eles convivem juntos normalmente”, diz César Gualdani, que também cita um argumento mercadológico para provar que associar a imagem de um lutador a um clube pode não ser tão benéfico. “Se vincular a um time regionaliza demais a exposição e pode gerar resistência por parte do público. Os lutadores deveriam apostar mais na imagem de brasileiro, assim como o Ayrton Senna, que era corinthiano, mas representava o Brasil, e, por isso, foi um ídolo de grande dimensão”.

Vale lembrar que o próximo adversário de Anderson Silva pode ser o americano Chael Sonnen, que há mais de um ano vem alimentando essa rivalidade com o brasileiro em aparições na TV e vídeos colocados no YouTube, o que se intensificou ainda mais com a atitude do americano de vestir a camisa do Palmeiras em suas produções – inclusive, convocando os torcedores do grande rival do Corinthians a torcerem para ele.