Um ano sem eventos presenciais
Imaginar o Brasil sem seus grandes eventos, nos mais variados segmentos, parece que perde a essência de aproximar pessoas. Em 95 anos de existência, 2020 viu a Corrida de São Silvestre ser adiada pela primeira vez. Mas outros eventos não foram realizados, festivais de música, shows, competições esportivas, as grandes feiras, o tradicional réveillon, entre tantos outros e chegamos em 2021 com o cancelamento da maior festa do país, o carnaval (só essa situação deixou um buraco de mais de R$ 5,5 bilhões, somados Rio de Janeiro e São Paulo). O mundo viu os Jogos Olímpicos serem adiados, fato que só tinha ocorrido anteriormente por motivo de guerra.
Depois de um ano de paralisação das atividades presenciais, o setor de eventos passa por uma grande crise em função da Covid-19, fazendo repensar todo seu planejamento e tentar se reinventar. Segundo a Abeoc (Associação Brasileira de Empresas de Eventos), a pandemia atingiu o segmento de forma drástica, com redução de 76%, chegando até 100% para muitas empresas. São espaços específicos, buffets, cerimonialistas, artistas, técnicos de som e luz, esportistas, produtores, enfim, não só o público foi impactado, mas todas as pessoas que integram essa indústria.
Sem dúvida, os eventos movem não só a economia, mas a área de entretenimento (com os shows e outras atrações culturais), esportivo, congresso, feira, exposição, desfile, fórum, palestra, curso, workshop, incluindo também as festas sociais. Em todos esses tipos, busca-se apresentar inovações, surpreender e atrair mais pessoas e parceiros. Os megaeventos, por exemplo, atingem a grande massa e alimentam uma importante rede de comunicação urbana. Mas nem só de mega vive a área, na sua ampla atuação quer impactar seu público e ser a referência como organização e resultado. Quando se fala de eventos corporativos, podem ser entendidos como um grande desafio à mídia tradicional, pois estabelece o contato face-a-face, integrando de forma importante os programas de comunicação organizacional.
Em 2020, observou-se a ruptura de paradigmas, onde o futebol perdeu um grande aliado, o calor da torcida presente nos jogos. Os artistas cancelaram seus shows e o público começou a participar de encontros em um movimento crescente de lives. Até mesmo o networking mudou em função da ausência de eventos corporativos presenciais. Isso tudo fez com que a experiência face a face e a aproximação com os atletas, cantores, instrutores dos cursos, palestrantes passassem por muitas mudanças.
Dessa forma, abriu-se espaço para outra modalidade, os eventos virtuais. No início da década passada já se discutia amplamente a relevância desse tema e era apontado o crescente interesse do mercado brasileiro pelos eventos virtuais com expectativa de grande expansão nos anos seguintes. Mas mesmo no mundo online, a tecnologia depende daquilo que foi planejado e programado pelo homem, que será sempre o protagonista na realização dos eventos.
O ano que passou marca, de forma acentuada, o momento de mudanças e transformação digital, que vinha ocorrendo de maneira gradativa, mas que o cenário atual acelerou, dando espaço para novos desafios ao setor. A internet é a grande aliada e, no formato digital, os eventos são adaptados e realizados sem aglomerações.
Com a pandemia, os eventos presenciais ainda vão demorar muito para retomar e voltar a acontecer normalmente, foi o primeiro setor a parar suas atividades e, com certeza, será o último a voltar. Mas muitos formatos podem ser realizados a distância e todos precisam se adaptar a isso, a tecnologia possibilita o contato e, obviamente, alcança muitas pessoas.
A escola e a universidade não são diferentes, tiveram que se reinventar para que os alunos continuassem com suas aulas. Os cursos, workshops, palestras, conferências continuam sendo oportunidades de desenvolvimento e aprendizado, utilizando as plataformas e inovando nos modelos. São fatores fundamentais para avançar em qualificação, pensar em como estar preparado para esse novo tempo.
Um ano depois do início do isolamento social, faz compreender que o mundo físico se transformou e os ambientes presenciais e digitais serão complementares. Aprimorar-se em eventos para aprendizado, como cursos, por exemplo, é uma realidade que deve ser considerada como algo valioso e cabe buscar a adaptação e reorganizar a gestão do conhecimento.
O envolvimento digital, a relação com o mercado durante todo esse ano que passou traz novas experiências e possibilidades para as estruturas virtuais síncronas e assíncronas. Seja no aspecto do ensino, entretenimento ou qualquer outro segmento, cabe analisar as oportunidades e sem esperar para “voltar ao normal”, pois o mundo se transformou. Utilizando os pilares da educação da Unesco, “Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Viver Juntos e Aprender a Ser”, é fundamental construir as novas experiências e dar significado ao conhecimento e às relações entre as pessoas.
Ana Maria Malvezzi é coordenadora geral de Pós-Graduação e Extensão da Universidade São Judas, professora da São Judas, Mestre em Comunicação, especialista em Comunicação Empresarial e membro da comissão de jurados do Prêmio Caio de Eventos desde 2015