Um novo Zeitgeist?
Zeitgeist significa espírito de época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. É uma palavra alemã. O Zeitgeist é o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características genéricas de um determinado período de tempo.
O conceito de Zeitgeist foi introduzido por Johann Gottfried Herder e outros escritores românticos alemães. Não é novo. Sua primeira citação se deu em meados do século 18. Mas o uso do termo ganhou modernidade nos anos 2000.
Trago esse termo para este texto para uma reflexão a respeito dos tempos atuais e a transformação catalisada pela pandemia, mas não só por ela.
Quando tudo parecia caminhar para uma sociedade mais sensível, tivemos, de uns 10 anos para cá, uma guinada conservadora e reacionária, fazendo reacender a chama da xenofobia, do preconceito e do crescimento de uma onda fascista.
O país símbolo da liberdade e da liberalidade de costumes, de repente, viu-se liderado por uma figura de difícil entendimento, que quase provoca um retrocesso histórico. Felizmente, a aventura Trump durou pouco, mas, mesmo assim, serviu de (mau) exemplo para outras lideranças, dando uma nova sobrevida a ultraconservadores.
Mesmo aqui, no Brasil, tivemos uma confusa guinada para o conservadorismo, expressa na eleição de um líder flagrantemente contrário à liberdade de costumes e de posicionamento difícil de interpretar, para além de uma insensibilidade quanto aos direitos das minorias e à pluralidade sexual, por exemplo.
Seria esse o novo Zeitgeist? Certamente aqueles de bom senso e de pensamento mais profundo não aceitam que esse seja o novo espírito dos tempos atuais.
Não é possível que todo o movimento histórico pela igualdade e contra o preconceito bata de frente com um grupo de conservadores toscos, terraplanistas desprovidos de um mínimo de sensibilidade. A chegada da pandemia pintou esse quadro com cores mais fortes, trazendo o negacionismo e a contradição ao bom senso e aos princípios mais óbvios de cuidado e atenção, tão necessários em tempos de pandemia. É essa insensibilidade um sinal característico de um novo Zeitgeist? Felizmente não.
Eis então que surgem três letras mágicas: ESG, do inglês Enviromental, Social, Governance. Os princípios traduzidos nesta sigla são finalmente um alento para uma sociedade mais justa e responsável.
Empresas não comprometidas com o meio ambiente, com a responsabilidade social e com uma governança justa e transparente tendem a se tornar párias, sem acesso a recursos e sem o respeito de stakeholders. Se não por uma espontânea sensibilidade, as empresas estão agora sendo obrigadas a rever as suas práticas e entrar em sintonia com as tais três letras redentoras. Não era sem tempo.
Estudos mais recentes demonstram que, se a humanidade não cuidar do meio ambiente, chegaremos a um ponto de não retorno, gerando uma catástrofe ambiental de consequências desastrosas.
É preciso, portanto, que todos se engajem na letra E e façam sua parte para neutralizar ou reverter os malefícios de uma atitude descuidada com o meio ambiente.
Focando a letra S, é também urgente o respeito às minorias, à liberdade e o respeito da empresa aos seus parceiros: clientes, colaboradores e funcionários.
Expressa ainda inclusão e diversidade; direitos humanos; engajamento dos funcionários; privacidade e proteção de dados; políticas e relações de trabalho; relações com comunidades e treinamento da força de trabalho.
E o G, de governança, trata de como a companhia adota as melhores práticas de gestão corporativa. Envolve diversidade no conselho; ética e transparência; estrutura dos comitês de auditoria e fiscal; e política de remuneração da alta administração; canal de denúncias.
ESG disseminado, não só no ambiente empresarial, mas em todo o tecido social. Seria este o novo Zeitgeist? Do fundo do coração, espero que sim!
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)