Um Walt Disney brasileiro

Escrevo este artigo nos EUA, onde estive a convite da Disney World Resorts e da empresa de logística Pegasus. Foi uma visita técnica ao complexo Disney, que compreendeu, além dos bastidores de parques e hotéis, apresentações da DEG (Disney Events Group) e do Disney Institute.

É claro que tivemos ainda a oportunidade de vivenciar momentos especiais do Magic Kingdom e do Epcot Center. Não foi uma viagem de lazer, mas nossos anfitriões não deixaram escapar uma oportunidade de nos encantar com atividades especiais. Afinal, estamos na terra do encantamento.

Fomos convidados para enxergar o lado business do complexo: as múltiplas oportunidades que a Disney oferece para encantar também adultos em eventos e atividades especiais. Eu já havia estado duas vezes no complexo, mas nunca com esse olhar de business.

Fiquei surpreso, por exemplo, em saber que há mais de 20 hotéis operados e administrados pela Disney no complexo. Que há cinco convention centers junto a alguns desses hotéis. E tudo é superlativo por lá. Há salões onde é possível acomodar 6.500 pessoas (!). São empregadas mais de 75.000 pessoas em todo o complexo.

Aliás, Disney Resorts é o maior empregador individual dos EUA. Quando Walt Disney teve o sonho de construir seu grande parque fora de Hollywood (Disneyland foi inaugurada antes), ele procurou um lugar onde encontrasse terra abundante e barata. As terras pantanosas de Orlando eram uma opção que atendia a esses requisitos. E ali, em outubro de 1971, nasceu o complexo, plantado em mais de 574 quilômetros quadrados.

Não preciso dizer o tamanho do sucesso. Os parques batem recordes atrás de recordes de visitantes, que ultrapassaram o número de 50 milhões no último ano. A cidade de Orlando, que tem pouco mais de 300 mil habitantes, recebe nada menos do que 66 milhões de visitantes por ano.

Só para você ter uma ideia, o Brasil inteiro recebe perto de 6 milhões. Dez vezes menos! Não é à toa que Orlando é uma cidade constantemente em obras. Ampliações e novos parques estão sendo construídos. O imenso vulcão do Volcano Bay já pode ser visto das largas avenidas da cidade. E a Disney prepara o seu mais novo lançamento, que deve ser mais um grande sucesso.

Trata-se do Pandora, um parque sob o tema do filme Avatar, uma das maiores bilheterias do cinema. E atrás desses novos empreendimentos vêm o crescimento e a prosperidade da cidade, que é ágil em desenvolver a estrutura necessária para abrigá-los.

Fazer uma viagem dessa e constatar tanta prosperidade nos deixa com uma ponta de inveja. É claro que não é fácil replicar um sucesso dessa magnitude, mas por que o Brasil não tem um parque da Amazônia, por exemplo? Por que a Festa do Peão do Boiadeiro, de Barretos, não se transforma em um parque permanente, tematizado na rica cultura country? Temos alguns exemplos isolados no Brasil.

O Beto Carrero World é bastante elogiado, o Beach Park idem. Mas é muito pouco para um país tão rico em cultura e belezas naturais. A sensação que tenho é que faltam empreendedores corajosos. O fracasso do HopiHari e do Wet’n Wild brasileiros deve assustar alguns. Mas o potencial está aí.

Somos o maior país da região sul das Américas. Por que não conseguimos emplacar parques temáticos? Eventos como o Carnaval, as festas juninas e mesmo a Festa do Peão de Boiadeiro atraem milhões, mas são pontuais.

Temos também o Rock in Rio, que se transformou num sucesso que extrapola nosso país, mas que também tem começo, meio e fim. Tivemos um empreendedor atabalhoado, que se propôs a transformar espaços deteriorados no Rio em grandes atrações, mas, infelizmente, foram arroubos de curta duração.

Será que o nosso país, reconhecido pela criatividade dos seus habitantes, um dia terá um Walt Disney? O espírito de Disney era o do sonho que se transforma em realidade.

Não a criatividade vazia, mas aquela que sai do papel, se transforma em riqueza. Temos potencial para isso!

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br