Uma única certeza: mais dúvidas!

O que você faria se sua empresa ou marca enfrentasse um pedido de boicote?

É importante ter em mente que o público espera algo, um posicionamento. Portanto, o silêncio não é a melhor resposta. No caso da Dolce & Gabbana, os fundadores mantiveram sua opinião e defenderam a democracia e o direito de liberdade de expressão, não esboçando um pedido de desculpa ou mudança de posicionamento. No caso da Natura, a marca seguiu o mesmo caminho e manteve seu patrocínio à novela “Babilônia”.

A marca italiana é forte entre os homossexuais, os donos, inclusive, são gays e, então, será que seus fundadores tomaram a melhor decisão ao manter um posicionamento que não acolhia a diversidade e os diferentes tipos de formação de família? Será que a marca não foi na contramão do que o seu público espera e do que é esperado nos dias atuais ou será que essa é a opinião também do seu público consumidor?

A convicção no posicionamento é algo positivo, mostra firmeza e crença nos valores. Porém, em rápida pesquisa na internet é possível ver que o comentário protagonizado pelo fundador da marca não agradou grande parte da opinião pública e dos consumidores. Tanto no caso da grife italiana quanto no caso da marca Natura, houve uma manutenção no posicionamento. Porém, no primeiro, foi uma atitude que não agradou grande parte do público por ir na contramão da luta pela igualdade de gêneros; no segundo, recebeu apoio, justamente por acolher e apoiar a igualdade. 

As tomadas de decisões de empresas são feitas por pessoas e um posicionamento preconceituoso e que fere a luta pelos direitos humanos, de certa forma, transmite os valores e as crenças internas da empresa também. E, sinceramente, você continuaria comprando algo de alguém que fere os direitos humanos e os princípios de igualdade? Achamos que não. 

Em alguns momentos talvez seja a hora de reconhecer um erro e mudar. Há batalhas que não existem mais. A luta pela igualdade, pelo respeito, pelos direitos humanos é uma realidade, não há mais como ser contrário. O mundo mudou. As marcas e empresas precisam acompanhar e mudar também, se não, sofrerão consequências e perderão espaço, enquanto as que apoiarem e fizerem parte desse novo movimento de luta pela igualdade sairão na frente e serão pioneiras, podendo colher os frutos no futuro.

A declaração do fundador da marca italiana enfureceu Elton John, Ricky Martin e Courtney Love, personalidades que possuem grande número de fãs que apoiam as causas defendidas por seus artistas preferidos. As pessoas estão mais conscientes e lutam por um ideal, seja contra o preconceito que a marca dissemina, pelo trabalho escravo, pelos testes em animais, etc. Hoje, não se compra apenas pelo preço. Há uma avaliação se a marca ou empresa defende e acredita nos mesmos ideias que você e, mais ainda, se ela faz algo para mudar o mundo.

É importante frisar que não há mais como se manter estático no mercado moderno. O público consumidor quer novidade, movimento e descobrir novas maneiras de pensar e lidar com o mundo. Não basta pensar que é necessário apenas achar um lugar e um posicionamento ainda não explorado e permanecer por anos no mesmo lugar e com a mesma visão. A teoria de que é necessário manter o mesmo posicionamento por anos está desgastada. É preciso continuar sendo diferente.

*Presidente da The Group Comunicação e chairman da holding WPI (Worldwide Partners Inc.) que tem sede em Denver (EUA)