Unboxing, outra das palavras da pandemia
Em verdade, os que são fissurados em tecnologia e gadgets, acostumaram-se, no correr dos últimos anos, com a palavrinha mágica, carregada de expectativas e emoções, unboxing! Que significa desembrulhar, abrir o pacote, revelar o produto comprado, ou o presente ganho, que acaba de chegar. Em verdade, repetindo, décadas depois, uma cena clássica dos aniversários em família e na firma.
Quando as pessoas chegavam com os presentes, abraçavam, diziam parabéns e entregavam. E aí brotava a maior curiosidade em todos para ver o presente. Em muitas situações, o presenteado explodia em felicidade e dizia coisas como: “você adivinhou, era o que eu estava precisando”, ou “que lindo, muito obrigado”, mas, em algumas vezes, o agradecimento era quase que sussurrado, na mesma proporção da decepção ao se conhecer o presente recebido.
Com a multiplicação dos gadgets, computadores, smartphones, tablets, relógios inteligentes, dezenas de críticos e analistas de produto multiplicaram-se pelo YouTube. E o grande momento, a maior expectativa, é quando, antes de entrarem na análise e avaliação do produto, procedem o unboxing, o desembrulhar do produto comprado. Hoje o unboxing é tema de psicólogos e integra a pauta de congressos.
Alguns até colocam uma musiquinha de fundo, enquanto vão dizendo: “uau, que maravilha, capricharam na embalagem, olha o design”, e por aí segue até começarem a falar das funcionalidades. Isso posto, muito rapidamente, com o delivery de comidas escalando ao infinito, a palavra migrou para as quentinhas. No início, discutia-se qual a melhor embalagem. Rapidamente os restaurantes aprenderam, com a prática, qual embalagem preservava mais e melhor as características de seus pratos.
E foi aí que nasceu a expressão boa para viagem. Comida que consegue suportar mais e preservar suas características principais, sobrevivendo com dignidade aos solavancos e descuidos do transporte. Superada essa fase, e agora, o unboxing passou a ser verbalizado à exaustão. Além de resistirem à viagem – boa para viagem – ainda têm de proporcionar ludicidade e encantamento no unboxing, no desvendar do conteúdo. E assim, a partir do segundo semestre, matérias e mais matérias em jornais e revistas sobre como se comporta a comida entregue na Unboxing Proof, na prova de “desemboxamento”.
Num dos melancólicos sábados da pandemia, o Estadão, no caderno Paladar, conferiu nota 10 ao unboxing do restaurante Isla Oriente, que, na opinião da jornalista Danielle Nagase: “Não se trata mais e apenas de uma embalagem para delivery. É a identidade do restaurante integrando o unboxing à totalidade da experiência”. Uma espécie de última linha ou etapa derradeira, prova final e definitiva. Onde se ganha o jogo, ou se decepciona.
Explicando os cuidados com o tal de unboxing, Helena Rizzo, do Mani, diz: “Toda a energia que colocávamos quando o restaurante permanecia aberto, agora concentra-se no delivery… além de, num primeiro momento, adaptar o cardápio e valorizar os pratos que funcionam bem para viagem – os tais dos bom para viagem -, fomos buscar todas as maneiras de levar e elevar a experiência…
Já que não podemos recorrer às louças, ao empratamento, que ao menos tenhamos uma embalagem bonita, instigante, com personalidade, que aumente o apetite dos clientes, e produza indissimulável encantamento no movimento de abertura, no unboxing…”. Existem muitos registros de discretos orgasmos durante o unboxing… É isso, amigos, dia após dia, o dicionário das palavras da coronacrise foi aumentando…