Varejo muda para acompanhar novos hábitos do consumidor

Para o varejo, o ano de 2020 não foi nada fácil, assim como para a grande maioria dos segmentos da economia global. Na verdade, nas palavras de Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), o ano passado foi um desastre. “Muito ruim por conta da pandemia, mas também cheio de oportunidades. O e-commerce, por exemplo, que vinha crescendo, alavancou as vendas, mas não compensou as perdas como um todo”, analisa.

Ele comenta que o e-commerce conseguiu amortecer a queda, o que já foi bom, uma vez que o segmento cresceu entre 25% e 27%, na média, puxado principalmente pelos itens de escritório, smarphones e TVs. Tudo por conta do isolamento social e home office.

Segundo dados do Ibevar, o volume de vendas no varejo deve ter alta de 10,34% no acumulado do primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior. Já no varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos, motos, partes e peças e materiais de construção, a expectativa do setor é de um crescimento um pouco mais modesto no acumulado do primeiro trimestre: 9,5%.

A alta, segundo o instituto, deve ser puxada principalmente pelos segmentos de móveis e eletrodomésticos (38%); tecidos, vestuários e calçados (28%); e materiais de construção (24%). O setor, no entanto, espera uma forte queda na venda de livros, jornais, revistas e papelaria (-23%).

Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar (Divulgação)

Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em janeiro deste ano mostram que, após seis meses seguidos de alta, o volume de vendas no varejo perdeu ritmo e registrou queda de 0,1% em novembro de 2020. No acumulado de 2020 até novembro, comparado a igual período do ano anterior, o varejo apresentou alta de 1,2%.

A pandemia levou o consumidor a uma acentuada mudança de hábito e, consequentemente, empurrou o varejo. O movimento foi inevitável e o setor pisou no acelerador.

Angelo fala que as grandes mudanças foram na forma como as pessoas se relacionam com o comércio. “E o canal virtual se tornou a principal fonte tanto para os jovens como para os mais maduros”, argumenta. Para ele, o e-commerce é um caminho sem volta. “Está incorporado. Depois que você compra um carro automático nunca mais vai querer outro que não seja o automático”, compara. Ele afirma que as mudanças que algumas redes de varejo, como a Via, dona do Pontofrio, que agora é apenas Ponto, e Casas Bahia, vêm promovendo são um reflexo claro do quanto a crise provocou o segmento.

Segundo ele, os grandes investimentos daqui para frente serão no e-commerce. Angelo avalia que este ano ainda será complicado para o varejo, porque o Brasil passa por um momento bastante difícil. Para ele, enquanto a vacinação contra o coronavírus não chegar a pelo menos 70% da população, dificilmente a economia vai melhorar.

No entanto, ele projeta que o varejo deve sinalizar melhora nos próximos meses. Dados do Ibevar revelam avanço de 33,19% em abril e 16,49% em maio, quando comparados ao mesmo período do ano anterior. O instituto avalia ainda que no Dia das Mães, a segunda melhor data do ano para o comércio, o consumidor tinha baixa disposição para as compras, quando comparada ao mesmo período de 2020.

Angelo acredita que essa baixa está muito relacionada à falta de estabilidade financeira, em que muitas pessoas, pressionadas pela pandemia, estão se resguardando e não investiram em presentes mais caros. A pesquisa é feita com base no levantamento de expressões espontâneas de consumidores nas redes sociais.