Você é leitor, ou, ouvinte?
Pesquise-se. Conheça-se. Tire proveito de suas características, ou, atenue e proteja-se de suas limitações.
A primeira coisa a se saber, sempre, e em seu processo de autobranding, de construir a própria marca, é ter consciência se você é um leitor ou um ouvinte. Poucas pessoas nem ao menos sabem se são leitores ou ouvintes e que, e apenas, excepcionalmente, podem ter as duas características. Alguns exemplos revelam esse desconhecimento.
Quando Dwight Eisenhower ocupava o posto de comandante em chefe das forças aliadas na Europa, era o queridinho da imprensa. Suas coletivas eram concorridas por seu estilo. Demonstrava total conhecimento e domínio sobre qualquer pergunta que lhe fizessem, e respondia com frases elegantes e brilhantes. Exemplos literalmente selecionados a dedo… E eram!
Dez anos mais tarde os mesmos jornalistas que foram seus admiradores o desprezavam de forma escancarada. Nunca respondia às perguntas e ficava enrolando ao infinito sobre outros assuntos. Respostas longas, incoerentes e, ainda, repletas de erros gramaticais. Em verdade, Eisenhower não sabia que era um leitor, e não um ouvinte. Quando comandante em chefe da Europa, seus assessores certificavam-se que cada pergunta fosse apresentada no mínimo meia hora antes de cada coletiva. E então, quando começava a coletiva, ele tinha o comando total.
Quando se tornou presidente sucedeu Roosevelt e Truman, dois presidentes que sabiam que eram ouvintes e adoravam dar coletivas abertas. Eisenhower sentiu-se na obrigação de fazer o mesmo. E, arrebentou-se! Mais tarde, o mesmo aconteceu com Lyndon Johnson, porque não sabia que era um ouvinte. “O ouvinte que tentar ser um leitor sofrerá o destino de Johnson, e o leitor que tentar ser um ouvinte terá o mesmo destino de Eisenhower”. E vocês, queridos amigos, são leitores, ou, ouvintes? Ter-se consciência dessa característica, em vez de limitação, converte-se em virtude, e evita e previne desastres monumentais.
Você não precisa perguntar para ninguém no que você é bom. Você sabe. Tem facilidade, deita e rola numa discussão aberta, ou, é muito melhor preparando-se antes e, sempre que possível, tendo o suporte do teleprompter, quando vai gravar um vídeo… Não gostou do que acabei de dizer? Brigue com o mestre. 90% de tudo o que acabei de comentar com vocês foi escrito pelo adorado mestre e mentor Peter Drucker.
Assim que começava um trabalho de consultoria numa empresa procurava identificar, dentre as lideranças, os que eram leitores e os que eram ouvintes. E, na hora de escalar o time, cuidava, mediante recomendações, que cada um explorasse ao máximo suas virtudes e competências naturais. Tentar converterem-se leitores em ouvintes ou vice-versa, ouvintes em leitores, segundo o mestre, era perda burra e estúpida de tempo e os resultados seriam os piores possíveis.
Pior ainda, muitos grandes líderes, na medida em que tinham um desempenho pífio em suas manifestações, acabavam encerrando a carreira precocemente, ou, trabalhando à meia curva e velocidade.
Goleiro é leitor. Centroavante, ouvinte. Não tente transformar um goleiro em ouvinte e um atacante em leitor. O número de gols cairá para próximo de zero, em compensação os frangos vão se suceder e cantar até arrebentar seus ouvidos.
Respeite as pessoas como são. E tudo fica mais fácil e rende mais. Sempre.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
(famadia@madiamm.com.br)