“Vou ao shopping!”. Fui...

Qualquer estudo meia-boca conseguiria definir com elevada precisão a quantidade de shopping centers que um país como o Brasil comporta.

A grosso modo, esse número é 300! Mas, empreendedores entusiasmados e irracionais quase dobraram esse potencial e estamos batendo nos 500.

Nos últimos três anos, notícias e mais notícias de shopping centers antigos e tradicionais com lojas vazias, salvo raríssimas exceções. E os novos que acabavam abrindo suas portas com, exagerando, 50% das lojas ocupadas.

Semanas atrás uma fotografia tirada pelo Ibope Inteligência.

E na fotografia a situação desses 500 shoppings no Brasil: 12 mil lojas vazias, 41% de vacância. Assim, por esse estudo, se tudo corresse bem, se as razões e motivos para que esses shopping centers fossem construídos prevalecessem, mesmo assim, seriam necessários mais de quatro anos para ocupar todos os espaços vazios. Mas as razões e motivos ficaram pelo caminho.

A vida mudou, as cidades se reorganizam, as pessoas privilegiam o não ter de pegar condução mesmo porque o sistema de transporte é deficiente. E preferem, por decorrência, de um lado, comprarem o mais próximo possível de onde moram; e, depois, em centros comerciais menores ou lojas específicas. Deixando os shoppings para circunstâncias, momentos e, ou, compras especiais. Duas ou três vezes por ano.

Portanto, de nada adiantarão quatro anos para tentar ocupar-se todas as lojas. As pessoas são as mesmas, mas seus comportamentos, expectativas e motivações são outros. E, assim, gradativamente, retornaremos ao potencial. Exagerando e no máximo 300 shopping centers permanecerão em pé e abertos no Brasil.

E, ainda assim, com muitas mudanças, adaptações, novidades.

Idêntico fenômeno ocorre em quase todos os demais países, muito especialmente nos Estados Unidos. Lá, onde cresceram e se multiplicaram, vivem uma vazante e derretimento excepcionais.

Estudo recentemente divulgado pelo Credit Suisse fala que, sendo otimista, 25% dos shopping centers daquele país fecharão suas portas. Considerando-se que lá ainda existem 1.200, estamos falando do encerramento de atividades de 300 deles, que deixarão de existir.

No país onde a migração para as compras via digital se intensifica, só no ano passado, foram fechadas mais de 8 mil lojas, o maior número da história, superando inclusive o ano de 2008, o da crise das hipotecas. E a mais emblemática dentre todas as lojas de departamento, que abriu suas portas em 1886, a Sears, acaba de pedir concordata.

Voltando ao Brasil, os poucos shopping centers abertos nos últimos anos permanecem com mais da metade das lojas vazias, e, nos dois últimos anos, mais lojas fecharam do que abriram. Ou seja, o ciclo chegou ao fim. Como em tudo na natureza e na vida. Primavera, verão, outono e inverno.

E mesmo os shoppings sobreviventes, nunca mais terão o mesmo brilho dos primeiros anos, e muito menos provocarão o encantamento das primeiras vezes que as pessoas iam conhecer, passear e fazer compras nos shopping centers. E, felizes e sorridentes, exclamavam: “Eu vou ao Shopping!”

Fui!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)