Whopper Páscoa: por trás da fake news mais deliciosa do ano
“Essa cebola tem que derreter mais”, comentei com o diretor. Realmente, os anéis de chocolate branco, meticulosamente cortados, inclusive com seus cortes laterais, eram réplicas exatas de cebola. E cebola com chocolate não era bem o appetite appeal que a gente estava buscando. Rapidamente, uma culinarista chega com um pequeno frasco e pincela os anéis com chocolate branco. Roda a cena. O chocolate branco derrete e ainda escorre uma única gota de chocolate branco do anel. Oh, yeah.
No começo deste ano, tive o imenso prazer de participar da criação e produção de um produto inusitado: o Whopper Páscoa. O Burger King já tem um histórico de trolar o consumidor e neste ano surgiu uma oportunidade única: em 2018, a Páscoa cairia justamente no dia 1º de abril. Surgiu então a ideia do Whopper de chocolate. Um lançamento, só que não.
O que começou como um projeto local rapidamente cresceu quando o time global de BK topou fazer. E, por ser um projeto global, decidimos produzir com o mesmo diretor que filma os assets globais de Burger King, Kevan Bean, da produtora MacGuffin Films em Nova York. Kevan é o cara que mais entende desse ícone que é o Whopper. E sabe exatamente como fotografar o sanduíche: grelhado, suculento, imperfeito. É um dos poucos caras que o Fernando Machado curte e confia, então não tivemos dúvida. Por isso, quando cheguei a Nova York, sabia que estava indo filmar com bons profissionais. Mas a verdade é que não tinha ideia do nível de produção que me aguardava.
Kevan não fotografou apenas o que estava no deck. Primeiro ele pegou o que a gente havia criado, jogou tudo fora e fez o seu próprio sanduíche. E, claro, era muito melhor. Quando fizemos a reunião de produção, Kevan e sua equipe já haviam passado dias pesquisando e experimentando o sanduíche com ingredientes diferentes. No final, ele conseguiu “traduzir” o Whopper e todos os seus ingredientes para o mundo da confeitaria. Desde os picles feitos de chocolate ao leite ao molho de framboesa para simular o ketchup até o pão de chocolate, tudo tinha um propósito, tudo tinha uma história. Se a gente fosse enganar o mundo todo, era importante que a gente fizesse para valer.
E foi isso que aconteceu. O estúdio no Lower East Side da MacGuffin é dividido em três partes. A cozinha com uma equipe de culinaristas (pode-se dizer até artistas), o estúdio com as câmeras e o tabletop, e uma salinha para clientes com video assist e uma assistente que traz todas as comidas que você possa imaginar (um dia nachos, outro dia dim sum, e por aí vai…). Passamos o dia aí, engordando nos snacks e montando essa invenção maluca de chocolate.
A filmagem foi feita na ordem do build do sanduíche: primeiro, o hambúrguer na grelha (um rice crispy coberto de chocolate derretido), depois o pão (de bolo de chocolate) com chantilly, picles (chocolate ao leite), cebolas (chocolate branco), etc. Não tinha como voltar. Por isso, a cada ingrediente, a gente se reunia na cozinha com o time todo, via as opções – o tamanho da marca de grelha no hambúrguer de chocolate, a consistência do molho de framboesa, o tamanho das nozes no pão de chocolate – e rodava.
Vendo no telão na sala dos clientes, a gente ficava com água na boca. Quando chegamos à última cena, o clima já era de comemoração. “Posso morder?”, perguntei ao produtor no final da filmagem. Infelizmente, pela lei americana, o pão já tinha dois dias, então, por questões de liability, eles não deixaram. Mas tudo bem.
O material foi editado no dia seguinte na Cosmo Street, que edita grande parte dos filmes de Burger King que a DAVID produz, então foi bem rápido. Até porque o editor acompanhou a filmagem. E posso afirmar que, além da correção de cor mínima, não houve nenhum efeito especial. Tudo que vemos no vídeo é real, apesar de ser um produto fictício. Real mesmo foi a reação da galera. O que gerou de conversa foi incrível. Vídeos de “react”, Whoppers feitos em casa e muita zoeira. Ao todo foram mais de 3 bilhões de impressões globais!
E foi assim, graças a um cliente corajoso, uma equipe dedicada e uma ideia de dar água na boca, que trolamos metade do mundo no 1º de abril. Maybe.