WPP deve voltar a fazer aquisições

 

O grupo britânico WPP, que desde 2011 não faz uma aquisição no Brasil, pode voltar às compras. A desaceleração da economia, que impactou o balanço financeiro das empresas brasileiras e desvalorizou o real, pode tornar o país um mercado interessante para a compra de empresas. “Meu entendimento é de que há mais oportunidades aqui”, disse Martin Sorrell, CEO do WPP, em encontro com jornalistas na semana passada.

Desde que comprou, há três anos, as agências digitais F/Biz e Gringo, o conglomerado não realizou nenhuma outra aquisição no Brasil e o motivo é a alta de preços, afirmou o executivo. “Tem havido um problema aqui no Brasil, que ficou um mercado superaquecido. Nos últimos anos, três transações aqui, em particular, foram supervalorizadas porque nossos concorrentes estavam muito desesperados para nos alcançar”, provocou. “Os preços ficaram fora de controle.”

Para Sorrel, a economia mais lenta “deve deixar as pessoas mais realistas”. “É difícil generalizar, mas vejo que a atitude local mudou. Com o crescimento global em baixa, o faturamento está em queda também, assim como as moedas estão desvalorizadas, especialmente a brasileira. A atitude para a gestão de longo prazo mudou. As empresas estão mais preocupadas com o curto prazo, algo que acontece quando há incerteza no mercado, e isso provalvemente trará mais oportunidades para nós no mercado local.”

O setor de agências de publicidade foi um dos mais movimentados do Brasil no ano passado, de acordo com estudo da KPMG. Relatório da consultoria aponta que houve 35 movimentos de aquisições e fusões no Brasil em 2013, uma alta de 45,8% em comparação a 2012. Desses acordos, 12 envolveram empresas estrangeiras.

De acordo com Sorrell, o objetivo é comprar agências de pequeno e médio porte no Brasil. “Se tivéssemos a oportunidade de dobrar o tamanho do nosso negócio no Brasil agora, com certeza o faríamos. Mas precisamos das oportunidades certas, das pessoas corretas.” Segundo o executivo, o WPP tem cerca de 400 milhões de libras disponíveis para aquisições no mundo todo, o equivalente a um terço do fluxo de caixa do grupo.

Brasil ainda no foco

Apesar das incertezas políticas e econômicas que rondam o país, Sorrell disse que o grupo se mantém otimista sobre o Brasil. No ano passado, a receita do WPP no mercado local alcançou US$ 800 milhões. O volume faz do país a sexta maior operação para o conglomerado, que faturou US$ 18,4 bilhões no ano passado. O principal mercado para a companhia são Estados Unidos (faturamento de US$ 6 bilhões em 2013), seguido de Reino Unido (US$ 3 bilhões), China (US$ 1,5 bilhão), Alemanha (US$ 1,4 bilhão) e França (US$ 850 milhões).

Nos primeiros cinco meses do ano, o WPP afirma ter crescido entre 6% e 7% no Brasil, contra uma evolução global da companhia de 3,8%. “O mercado brasileiro teve desempenho melhor do que a média”, reforçou. O país também teve desempenho melhor do que a China e a Rússia para o grupo. Entre os Brics, o mercado brasileiro só teve resultado inferior ao da Índia, que cresceu 8% no período.

“O Brasil, na verdade, surpreendeu positivamente nos primeiros meses do ano. Logicamente, você pode esperar que, após a Copa do Mundo, as coisas irão desacelerar. Há as Eleições e isso naturalmente traz incertezas para o mercado. A previsão para o PIB brasileiro [em 2014], em torno de 1%, com o mundo crescendo em torno de 3,5% em termos nominais, não faz o país parecer bem. Mas, surpreendemente, tivemos bons negócios no país no primeiro semestre”, afirmou o executivo.

Sorrell reforçou que a empresa continua otimista sobre o país. “Apesar de ter desacelerado, o Brasil está no nosso radar. O foco do WPP é colocar a atenção em economias em crescimento”, revelou ele.

Hoje 31% do negócio do conglomerado vêm desses países e a companhia espera elevar esse percentual para 44%. Outras duas áreas de atenção são dados, que responde por 25% da operação da empresa, e digital, que representa 36% do faturamento do grupo. “Nosso objetivo é elevar digital para 44% e esse segmento tem taxas de crescimento muito elevadas no Brasil. O país está presente nas três áreas estratégicas para nós.”

Fusão fracassada

Sorrell não poupou seus adversários e fez duros comentários sobre a fusão fracassada entre Publicis Groupe e Omnicom. Nove meses depois de anunciarem que iriam se unir, as empresas desfizeram o acordo em maio. “Eu nunca acreditei que isso pudesse funcionar. O acordo era estrategicamente ruim, a estrutura proposta era desajeitada e não havia uma explicação clara de como ele iria beneficiar os clientes e os trabalhadores das duas companhias.” Para o executivo, a operação “estava destinada a fracassar”.

Para Sorrell, há ainda duas possibilidades de fusões envolvendo grandes grupos de comunicação. “Acreditamos que é provável a Dentsu [dona de agências como mcgarrybowen e 360i] comprar o IPG [dono de empresas como McCann e R/GA]. Outra possibilidade é a Vivendi incorporar o Havas.” As duas são empresas francesas e ambas têm o executivo Vincent Bolloré como chairman. “Talvez seja bom para a França ter um ‘grande campeão nacional’”, arriscou Sorrell.