Zaragoza não morreu

O Prêmio Colunistas foi o palco à estreia de Zaragoza em grande estilo. Já na sua segunda versão (1968), ano de fundação da DPZ, emplacava uma medalha de ouro com a campanha da Fotoptica, na verdade criação coletiva dos três depezianos, junto com o Ênio Basílio e Ronald Perischetti. No ano seguinte (1969), os três e mais o Laerte Pedrosa conquistariam o “hors concurs” do Colunistas, o correspondente ao Grand-Prix, com campanha para o mesmo cliente. A qualidade da direção de arte dos catalães já se evidenciava nos rostos com óculos estourados, fora do contexto de um leiaute convencional.

Foi uma das raras campanhas da agência, naquele tempo, com direção de arte a oito mãos. Logo mais Zaragoza formaria a sua equipe, a turma do sexto andar, como ficou conhecida, enquanto Petit formaria a sua, a turma do quinto andar. Disputavam entre si e a qualidade das duas equipes permitiria a agência remanejar contas, de uma turma para outra, sempre que se evidenciava a necessidade de mudar. Estratégia que dava certo.

Em 1973, Zaragoza recebeu duas boas notícias. Seu anúncio “Costurar é um ato de amor”, para a Singer, criado em parceria com J. A. Palhares e Duailibi, emplacava mais um “hors concurs” do Colunistas e ainda obtinha um destaque de Anúncio do Ano com uma peça de criação coletiva para o Juizado de Menores de São Paulo: “Neste Natal lembre-se de mim”. A peça levava a assinatura do novo redator da agência: Washington Olivetto. No mesmo ano, Zaragoza conquistava um leão de prata com o filme “Menino sorrindo”, da Seagram, produção da ABA filmes, no Festival de Cannes. Era o seu segundo leão, já que no ano anterior recebera um de bronze com um comercial para a Duratex.

Enquanto os prêmios se acumulavam na sala de Zaragoza, as ruas exibiam, no ano já referido, belas mulheres em outdoor, incluindo Leila Diniz e a Garota de Ipanema, com o mote “Toda mulher tem Charm”, uma revolução no leiaute e no conceito da marca de cigarros; o próprio criativo se fez garoto propaganda, anos depois, em outra face da campanha para a mídia impressa.

No décimo ano de existência da DPZ, a agência vivia um momento excepcional. No quinto andar, a dupla Petit e Olivetto trabalhava freneticamente e conquistava todos os prêmios possíveis; no sexto, a dupla Zaragoza/Neil Ferreira não deixava por menos. A chegada de Neil, em 1977, fizera a diferença. Tinha a responsabilidade de substituir o J. A. Palhares, redator preferencial do catalão. A nova dupla formada criou alguns dos clássicos da propaganda brasileira: a morte do orelhão, para a Telesp; o menino de olhos vendados, da Sadia; o Leão do Imposto de Renda; a campanha do OB, para Johnson & Johnson; os rostos com espuma, dos cigarros Charm; série prazeres, da Artex; o anúncio das nuvens, para a Rhodia; o de título “Família vende mansão”, para uma imobiliária; e o baixinho da Kaiser, dentre outros.

O cliente Rhodia merece um aparte. Incorporou no criativo o estilo solo. Zaragoza fazia a direção de criação, direção de arte, criava o título e o texto quando tinha. A partir de 1979, várias peças do cliente saíram das páginas das revistas direto para o Advertising Age Criative; o Graphis; o Photo Graphis; o Anuário do CCSP; e o Prêmio Colunistas. Nas campanhas da Rhodia, Zaragoza exibia dois talentos: de fotógrafo e diretor de arte.

Um dia Neil desentendeu-se com Zaragoza e foi embora da DPZ em busca de novos rumos. Zaragoza vestiu as sandálias da humildade e publicou nos jornais um anúncio com o apelo: “Neil, queridinho. Volte para a casa. Tudo está perdoado”. Não seria fácil, e não foi, formar outra dupla com esse grau de entrosamento, assim revelou certa feita em entrevista ao PROPMARK: “No futebol, um jogador que conhece bem o outro nem precisa olhar onde o companheiro está no campo para dar o passe, sinto isso quando falo do Neil, ele me encontrava nos traços e eu o achava nas palavras. Um toque leve, refinado e criativo”.

Zaragoza não morreu na segunda-feira, 15 de maio de 2017. Vive no recall de memoráveis anúncios, marcas e campanhas criadas na JWT, no Metro 3 e na DPZ, em mais de 60 anos de profissão.