O filme ‘Não Olhe para Cima’, com Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Meryl Streep, é uma metáfora que está chamando a atenção do mercado para os efeitos da grave crise climática que o mundo vive.

Que afeta a todos, sem exceção. No blockbuster da Netflix, candidato a prêmios, a ciência fica em segundo plano em relação à militância mercantilista, que usa o deboche para desqualificar a questão ambiental.

Os efeitos da crise climática já são sentidos há alguns anos. Não obstante as temperaturas extremas de calor e frio sentidas em diversos cantos do planeta, ainda há negacionismo para algo tão essencial à vida humana.

Por isso chamou a atenção na semana passada a carta assinada por 450 cientistas pedindo para que agências de publicidade e de relações públicas não dessem continuidade ao atendimento a contas de empresas de combustíveis fósseis.

A missiva, publicada pela Ad Age, foi escrita em parceria com a Clean Creatives e a organização sem fins lucrativos Union of Concerned Scientists. Também foi endereçada aos grupos globais IPG (Interpublic Group) e WPP, de publicidade, e Edelman, de PR. E para grandes anunciantes, como Amazon e Microsoft.

Certamente a publicidade e seus clientes não podem ficar isolados dessa discussão. E não estão. Ocorre que as alternativas ao combustível fóssil verdadeiramente limpas, como os motores movidos a hidrogênio, ainda são muito caras, portanto inviáveis à maior parte do planeta.

Os veículos elétricos, realidade ainda distante de nós brasileiros, mas já bastante disseminados nos ditos países ricos, são controversos como fonte de energia limpa tendo em vista que em muitos lugares a eletricidade para abastecê-los foi gerada em usinas de carvão, muito mais poluentes ao ar que os escapamentos dos motores a combustão.

Outra preocupação reside na bateria dos veículos elétricos, cuja vida útil estima-se em aproximadamente 10 anos. A produção cada vez maior desses carros implicará no descarte sabe-se lá onde dessas baterias que contêm material tóxico.

Portanto, se o bom senso nos diz ser cedo em demasia para se demonizar o automóvel a combustão, razão não há para as agências de publicidade deixarem de atender empresas que produzem combustíveis fósseis.

Os 450 cientistas que assinam a carta publicada na Ad Age estão no seu pleno direito de liberdade de expressão. Mas a liberdade de expressão plena pressupõe crítica e neste caso ela se faz necessária.

O pedido deles, em suma, não deve ser atendido. Ao menos não neste momento da história, em que a substituição dos motores movidos a combustível fóssil por motores elétricos ainda é cheia de controvérsias.

Atender ao pedido desses cientistas poderá ser visto lá na frente como um grande erro ao próprio meio ambiente. Claro que aguardamos ansiosos para que cidades poluídas como São Paulo tenham cada vez mais veículos elétricos. Sonhamos com o fim da faixa cinza de poeira que no inverno avistamos no horizonte paulistano.

Mas em cidades pequenas, muitas europeias por exemplo, onde a qualidade do ar é boa e a energia elétrica provém de usinas de carvão, o veículo movido a combustível fóssil ainda é a melhor alternativa. Porque o ato em larga escala de se abastecer rotineiramente o carro elétrico demandará das usinas maior queima de carvão na atmosfera.

Nem é preciso dizer que a publicidade é aliada das grandes causas da humanidade e do nosso planeta, como está sendo desde o início da Covid-19. As campanhas pró-vacinação são mais eficazes do que o negacionismo imprudente. Estimulados pelo uso publicitário que podem e devem fazer ao adotar novas práticas empresariais, muitos anunciantes são estimulados a rever seus procedimentos industriais. A Ambev, por exemplo, comprou mil caminhões elétricos da startup FNM. E já fez encomendas a outras montadoras.

Renner, Magazine Luiza, Claro, MRV, Banco do Brasil e a própria Ambev já usam o sistema fotovoltaico como matriz energética e assim divulgam a seus clientes, stakeholders e ao público em geral por meio de peças publicitárias.

Não atender à carta dos 450 cientistas publicada pela Ad Age não fará das agências de publicidade pessoas negacionistas ou desconectadas da realidade. Muito pelo contrário. Mostrarão que nem tudo é o que parece e são pessoas antenadas.

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Voluntariado
Matéria de capa nesta edição mostra o trabalho voluntário de profissionais do mercado da comunicação, que não apenas criam campanhas de cunho social dignas de premiações mundo afora. Eles também sabem arregaçar as mangas, extraindo do voluntariado verdadeiras lições para causas que sangram pelas ruas de uma cidade sofrida, mas ao mesmo tempo polo criativo, cultural e de diversidade. São Paulo, que chega aos seus 468 anos nesta terça-feira (25), encontra na propaganda mãos dispostas a estender ajuda por meio de projetos na área.

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Futebol
Duas das maiores emissoras de televisão no país, Record TV e SBT, têm novidades em suas transmissões futebolísticas. A Record TV retoma as transmissões e lança programas ligados ao futebol com o apoio dos patrocinadores Betfair, Claro, McDonald’s e Ipiranga. O canal promete forte interação multitelas do Paulistão e Carioca. Já o SBT anuncia os patrocinadores para a transmissão da Libertadores 2022. Amazon, Claro, Sanofi e Sportingbet fecharam com a emissora, que segue investindo no futebol para consolidar o seu plano de crescimento.