E se houvesse uma forma de ter mais interação com marca e seguidores sem precisar mobilizar, ou até mesmo parar uma figura grandiosa de marketing. Será que o mercado iria aceitar bem?

Sim, ele aceita. Aliás, aceita tão bem, que o questionamento virou uma afirmativa. A realidade é que o virtual está em eterna evolução, e a imagem ganha variantes tão poderosas quanto a persona principal. A ideia de uma personalidade disseminando sua figura e poder sem ter que dividir holofotes com outras personalidades tornou-se algo concreto, mesmo existindo apenas no abstrato mundo digital.

Estamos entrando na realidade do metaverso, que é um mix entre a realidade aumentada e realidade virtual.

É como se com apenas um acessório de realidade aumentada (um óculos), você pudesse curtir uma festa com um amigo que mora em outro país, ou jogar tênis sem precisar se mover, mas mantendo todas as experiências sensoriais.  É importante reforçar que o metaverso vai muito além de um jogo. É a expansão do mundo virtual onde se pode trabalhar, comprar, se divertir, ganhar dinheiro, tudo isso por meio de avatares, ou personagens virtuais.

O metaverso e os influenciadores digitais estão alinhados em mais uma forma de criar conteúdo, impulsionar marcas e vender, em uma realidade que já impacta o mercado e move muito dinheiro.

E falando nisso, já vemos por aí esses influencers virtuais que trabalham a favor de personalidades e influencers reais, algo que seguiu um caminho inverso ao que acontece normalmente, mas que se mostra positivo e extremamente lucrativo, modificando lógicas de mercado e formas de atuar.

No metaverso, esses influenciadores também podem ser conhecidos como influenciadores de inteligência artificial, um nome que se traduz por si só. Essa versão digital de alguém real gera receita, emprego e cliques. Da matéria que comenta o surgimento de algum deles, ao investidor que paga pela “presença” digital em um evento.

Se ter a Sabrina Sato em um lançamento pode ser um desafio para sua marca, ter uma versão/irmã em formato digital trabalhando a favor de uma marca ou lançamento pode ser um tanto quanto mais prático, e gerar tanto impacto quanto a original. O mercado reconhece a importância de visibilidade e de estar e ser digital, e dessa forma, os avatares totalmente maleáveis, que tiram fotos, falam e se expõem ganham mais espaços.

Essa idealização e construção digital de alguém real, e que por isso consegue ser abstrata na existência e real no faturamento, indicam novas possibilidades. Essa extensão digital garante que a pessoa consiga fazer mais trabalhos com menos deslocamentos, ou seja, deixa-se de gastar com transporte, segurança e tudo mais relativo à presença real, mas sem perder o impulsionamento que pode ser gerado.

Dois bons exemplos se destacam no momento. Do lado das marcas, temos a Lu, do Magalu. Um avatar já conhecido, que teve sua transição de marca fechada de empresa para influencer digital com comportamento, escolhas e presença feita de uma forma muito didática para o grande público.

No primeiro momento, a marca apresentou a influencer ao mercado, e depois a cada passo ou evento, ela ganhava voz, corpo, forma e outras possibilidades até culminar no momento atual em que ela faz fotos, viaja, faz presença vip e até mesmo aparece em lives interagindo com outras celebridades.

Quase uma apresentação do metaverso elevada a potência máxima.

Por outro lado,  podemos usar como exemplo a própria Sabrina Sato, que lançou a sua versão digital, denominada Satiko. Esta por sua vez, após o nascimento digital já se transforma em fenômeno e case, uma acumuladora de likes sem esforços.

Com uma personalidade baseada na “mãe” do mundo real, ela já surge ditando moda e sendo acolhida pelo grande público, afinal de contas, não se trata de alguém novo, mas de uma versão de alguém que eles já gostam e acompanham, ou seja, um plus/extensão do que já funciona e já é acolhido.

Ter uma influencer que esteja em todas as plataformas, aproximam do público, que por sua vez resulta em influência, venda, acompanhamento, like e muito mais.

Essa atualização, pode até parecer algo novo, mas na verdade é algo para o qual já nos preparamos há algum tempo. Os chatbox em sites, as respostas automáticas em contatos com grandes empresas, além de outros formatos, nos serviram como forma de preparação. A novidade em si está na personalização de um avatar, ou seja, em ter um rosto conhecido, assumindo os posicionamentos daquele personagem digital.

O metaverso não é mais conceito, é realidade de mercado, e saber se posicionar e explorar essa forma de ligação é o destino de marcas e personalidades. Não é um acaso a corrida virtual para lançar, apoiar e priorizar este tipo de conteúdo. Grandes marcas apresentam seus projetos e botam muito dinheiro nisso, exatamente enquanto você lê este texto.

Em um momento pandêmico, tal qual o que vivemos, essa possibilidade consegue garantir segurança tanto de saúde, por evitar a exposição da celebridade em locais de aglomeração e risco, tanto quanto por estar em total harmonia com as necessidades do mercado e com as práticas contemporâneas, em que o digital ganha ainda mais importância e valor.

Essa transformação de relação com os consumidores, precisa ser vista com bons olhos, pois são naturais e ditam os próximos passos do mercado, assim como as próximas evoluções e entendimentos.

O modelo de vida e consumo atual solicitam e apoiam os meios digitais de consumo, não é rentável nadar contra a corrente e buscar investir no antigo, mas é muito valoroso estar na ponta da onda mais moderna e que promete mais lucros.

É claro que toda mudança apresenta lados positivos e negativos. Existem boas discussões sobre como influencers digitais de inteligência artificial podem gerar prejuízos em função da distorção de imagem, falas programadas em resultado a um feeling robotizado, ou se até mesmo se esses personagens tiram espaço dos criadores reais. Mas um perfil não compete com o outro, tem espaço pra todo mundo (real ou virtual).

É preciso aceitar essa evolução, sabendo que o mundo digital está linkado ao mundo real. Cabe aos profissionais e a sociedade buscar a melhor forma de interação.

Flávio Santos é CEO da MField