Inspiração: O monge nadador e o criativo
Inspiração: O monge nadador e o criativo
Eu já tive chefe que, todos os dias, às 17h, pegava seis latas de cerveja e sentava em sua mesa para trabalhar até umas 22h. Também já tive chefe que era triatleta e, quando eu chegava à agência pela manhã, ele já tinha nadado, corrido ou pedalado mais do que eu o mês inteiro.
Prefiro ter o esporte na minha vida, mas não julgo quem não o tem. Cada um é feliz à sua maneira. E, cá pra mim, tenho certeza de que quem pratica esporte odiando o que está fazendo não tem os mesmos benefícios de que quem o faz morrendo de amor. Eu sou desses, morro de amor.
Escolhi virar o chefe que, quando as equipes chegam, já fez muito mais atividade física do que eles imaginam. E acredito, do fundo do meu coração, que ser um atleta amador faz de mim um profissional melhor.
Existem vários paralelos entre tudo aquilo que o esporte e a profissão exigem de nós. Disciplina, método, autoconhecimento e resiliência são os mais óbvios.
Mas ao longo do tempo eu descobri uma vantagem inesperada: eu trabalho melhor enquanto corro ou nado. Percebi que, por não estar no escritório, sem a demanda das equipes e dos clientes pela minha atenção e pelo meu tempo, e sentindo prazer por estar praticando os esportes que curto tanto − no meu caso, natação e corrida −, meu raciocínio fica mais leve e mais rápido, faço associações que não fiz durante as reuniões e chego a soluções que eu não enxergava antes.
Não sou médico para me atrever a justificar esse achado com o maior fluxo de sangue no cérebro oxigenando as ideias durante a atividade física. Tampouco, acredite, sou daqueles que acha legal pensar em trabalho 24 horas por dia nos 7 dias da semana. Na verdade, repudio isso. Mas, sem que eu controlasse, esse método foi ocorrendo e hoje não me incomoda nem um pouco. Passei a fazer esporte para me encontrar com o trabalho e não para fugir dele.
O esporte me faz acordar mais cedo todos os dias e dormir muito melhor, mesmo quando as preocupações do trabalho insistem em tentar me manter acordado às 4 da manhã. Obriga-me a não pular refeições o que, consequentemente, me faz ter uma agenda mais organizada e a focar quando um problema precisa ser objetivamente resolvido.
Também tive de aprender algumas questões fisiológicas para render mais durante os treinos. A principal delas é como o corpo estoca diferentes tipos de energia, seja para os movimentos rápidos seja para os esforços de longa duração.
Como sócio criativo da Lew’LaraTBWA, sou o principal responsável em promover junto a todas as equipes da agência, e aos nossos clientes, a ideia de que criatividade pode mudar o jogo. Um caso claro de doping autorizado.
Essa tarefa exige resistência para as ideias que precisam de uma insistência absurda para serem aprovadas. Em outros casos, precisa de explosão para aproveitar uma oportunidade que surgiu diante de nós.
Bagagem cultural, interesse genuíno pelo cliente e conhecimento de marketing são fundamentais em propaganda. Mas entender que a natureza da criatividade varia e precisamos recrutar a musculatura certa, conforme os problemas dos nossos clientes, é o que nos faz vencer o jogo.
Pensei nisso correndo no parque.
Segundo Felipe Luchi, a musculatura exata para o exercício criativo requer disciplina, treinamento e repetição
Felipe Luchi é sócio e CCO da Lew’LaraTBWA
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