O fim de uma época

 

Como ocorre há 33 anos, em Londres, na noite de 18 de janeiro de 2018, realizou-se, seguramente, o último encontro de 360 personalidades do ambiente empresarial, de um mundo canalha, cafajeste e machista. No grande salão de baile do Hotel Dorchester. Existem formas infinitamente melhores de se fazer eventos beneficentes. Mas neste, prevaleceu, uma vez mais, a escrotice e a devassidão. A instituição que recebe as doações é o Great Ormond Street Hospital. Um dos hospitais pediátricos melhor reputado em todo o mundo. Mas, mesmo assim, jamais deveria aceitar o dinheiro desse absurdo…

O Financial Times infiltrou jornalistas no evento, e fez duas de suas bonitas colaboradoras trabalharem como hostess no evento. Aos detalhes:

1 – No decorrer das seis horas do evento, todas as hostess foram apalpadas por homens que enfiavam suas mãos por baixo de suas saias…

2 – Uma das hostess reclamou de ter de ser apresentada ao pênis de um dos empresários…

3 – O WPP, um dos três maiores grupos de comunicação do mundo, patrocinou uma mesa no evento, como nos anos anteriores. O todo-poderoso Martin Sorrell desta feita não compareceu, embora estivesse presente nos anos anteriores…

4 – As candidatas a hostess eram selecionadas através de entrevista presencial. Todas deveriam vir trajadas com roupa de baixo sexy, pretas e arrumar os cabelos de forma provocante. Vestidos decotados…

5 – Dentre as que aceitaram a missão, estudantes esperançosas em começar uma carreira como advogadas ou executivas de marketing, assim como dançarinas, atrizes, modelos, recepcionistas em busca de um extra para completar o orçamento…

6 – Finalmente as selecionadas – altas, magras, bonitas e peitudas – receberam os tais vestidos pretos decotados tipo peitos ao vento… Entraram no salão em duas filas, à semelhança dos rodeios e demais eventos onde se exploram animais. No hotel quartos reservados para eventuais romances…

No exato momento em que todas as podridões referentes a um mundo machista e canalha afloram, explodem e contaminam todo o ambiente, onde todos assédios de todas as formas, dimensões e intensidade são denunciados, algumas das maiores empresas do mundo continuam comportando-se como fizeram em toda a sua trajetória.

Uma das razões da decadência das agências de propaganda, além da obsolescência decorrente da perda de relevância pelo prevalecimento de novas plataformas que prescindem dos serviços que tradicionalmente prestavam, ainda são as graves denúncias de corrupção pela parceria que celebravam com profissionais de marketing corruptos e bandidos.

Assim, no momento maior de toda a crise, explode essa espécie de “baile da ilha fiscal”, manifestação rançosa e tóxica do mundo velho em que mulheres eram e foram, 18 de janeiro de 2018, tratadas como objetos e acessórios. Era tudo o que a velha e boa propaganda não precisava.

O marketing, o branding e a propaganda de qualidade definitivamente continuam sendo, mais que em qualquer tempo, essenciais para o sucesso, crescimento e sustentabilidade de todas as empresas de todos os portes e setores de atividade. E abominam aventureiros que migraram de outros territórios em busca de ouro e riquezas a qualquer preço com as mesmas práticas criminosas de um mundo que felizmente vai ficando para trás.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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