Solidariedade e criatividade ajudam sociedade durante crise
Parece que 2019 acabou há muito mais tempo do que realmente faz: menos de três meses. Ainda no fim do ano passado e desde que o novo ano começou, o mundo praticamente só vê notícias sobre a Covid-19. O tema ganhou ainda mais força quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a questão como pandemia no dia 11.
Até o fechamento desta, haviam 209.839 casos confirmados e 8.778 mortes, segundo report da Organização Mundial da Saúde no dia 19. No texto, a OMS alertou que foram três meses para alcançar os primeiros 100 mil e apenas 12 dias para os outros 100 mil.
No entanto, em meio às questões negativas desse imenso desafio global, há muitas iniciativas positivas para ajudar não somente a população, mas o mercado e a indústria a atravessarem o drástico cenário da melhor forma possível.
Mesmo que não tão veloz quanto a doença, a onda de solidariedade se multiplica rapidamente pelo mundo. De bilhetes em prédios oferecendo ir ao mercado ou farmácia para que idosos não precisem sair, a doações de dinheiro, tempo, estruturas e serviços para produzir itens essenciais, é crescente o número de pessoas e empresas que buscam fazer a sua parte.
Na Itália, onde a doença segue mais devastadora do que na China, onde surgiu, são comoventes os vídeos da população isolada em casa, interagindo pelas janelas, se fazendo companhia e tocando a vida como podem.
Na França, a Louis Vuitton anunciou que usará sua instalação de perfumes e cosméticos (Parfums Christian Dior, Guerlain e Parfums Givenchy) para produzir álcool gel e distribuir a hospitais no país. E no Brasil, que tem neste instante 822 casos e 11 mortos, não é diferente.
Em recente post no LinkedIn, Ricardo Dias, CMO da Ambev, destacou que, além de criativo, o brasileiro é um povo solidário. “A sociedade está passando pelo que é, talvez, o período mais assustador da história recente, e mesmo assim vejo muitos exemplos de gente se colocando à disposição do próximo”, disse.
No lugar de cerveja, a empresa mexeu na linha de produção, e está produzindo álcool em gel para doar a hospitais públicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde se concentram a maioria dos casos. A empresa já fez 500 mil garrafas PET para envasar álcool em gel, e convidou outras companhias para ampliar o movimento. Novas parceiros devem ser anunciados em breve, e fontes afirmam que a produção vai ao menos triplicar.
O Boticário, por meio do Instituto Grupo Boticário, doou 1,7 tonelada de álcool em gel Cuide-se Bem para o Sistema de Saúde Pública de Curitiba (PR), onde a empresa está sediada. Além do produto, cada dia mais demandado no país, outros itens e serviços são oferecidos por dezenas de empresas que estão se mobilizando. A Riachuelo por exemplo, produziu mais de dez mil aventais hospitalares para órgãos e associações, e o Burger King vai doar parte da renda da venda de sanduíches para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Keka Morelle, CCO da Wunderman Thompson, conta que na agência as lideranças se juntaram para olhar as indústrias dos clientes e os possíveis impactos, com o objetivo de pensar em ideias para diminuir as consequências e auxiliar as marcas a serem agentes de mudança. “Marcas e agencias têm obrigação de pensar em soluções de negócios frente ao comportamento do consumidor. E precisamos ter o cuidado de fazer a economia girar porque muita gente vai precisar de ajuda. Não podemos deixar de fazer. Podemos trocar a mensagem, buscar formas de colaborar e agir positivamente. Somos o motor da economia, temos o poder de agir e impactar positivamente.”
Infinitas formas de ajudar
A tecnologia, tanto como plataforma, quanto como parte vital dos negócios, tem sido uma grande aliada, viabilizando projetos para manter a roda girando – especialmente para pequenos comerciantes e prestadores de serviço.
Além de disponibilizar ferramentas para auxiliar empresas no trabalho remoto, o Facebook vai investir US$ 100 milhões em 30 mil pequenas empresas pelo mundo para que mantenham as operações e ajudem quem não pode ir ao trabalho. “O comprometimento é essencial nestes casos”, ressalta a plataforma. Já o iFood vai doar R$ 50 mi para criar um fundo de assistência a pequenos restaurantes locais. A foodtech também vai antecipar recebimentos dos estabelecimentos para injetar até R$ 600 milhões no mercado brasileiro. Além disso, o valor das taxas de serviço dos pedidos Pra Retirar vão para o comerciante que enfrenta queda de circulação.
O potencial educador tem sido bastante explorado para auxiliar quem está em quarentena, seja entretendo, seja ensinando. Há dezenas de exemplos de liberação de conhecimento, entretenimento e conexão. O McDonald’s disponibilizou cursos online e gratuitos de formação para micro e pequenas empresas do setor de alimentação. A Universal Music e a GTS criaram o Festival Música em Casa, com shows ao vivo e online. E a Faber-Castell oferece online e gratuitamente cursos de desenho para pais e filhos nesse período. Vivo, Claro, GloboPlay, Oi, Sky e Amazon são mais exemplos de empresas que abriram conteúdo para brasileiros isolados em casa.
Na avaliação de Kevin Zung, COO da WMcCann, o movimento é necessário especialmente neste momento. Para ele, empresas precisam ter atitudes responsáveis com seus funcionários, clientes, parceiros e com a sociedade. Já os anunciantes precisam ter seriedade, transparência, união e, absolutamente, sem oportunismo nesse momento. “A nossa missão, ao lado das marcas, é contribuir com ações que tenham um papel relevante na vida das pessoas, diante do novo contexto cultural que estamos vivendo. As marcas precisam ajudar a dar força e conscientizar a população”, diz o criativo.
O profissional cita outros gestos, como o do SBT, de disponibilizar pílulas de informações feitas pelos apresentadores; ou do Google, de liberar gratuitamente ferramentas para o home office. O G Suite ampliou acesso de recursos avançados como reuniões para até 250 participantes e grandes transmissões ao vivo. Javier Soltero, general manager e VP do G Suite, afirma que a empresa está comprometida em expandir a infraestrutura interna para suportar uma demanda maior. “Vamos garantir o acesso otimizado e confiável ao serviço durante esse período. O G Suite continuará fazendo o possível para permitir que usuários e clientes façam o melhor trabalho possível durante esse período desafiador”, afirma.
Foco e ação
Para ser relevante e verdadeiro nesse momento, Keka defende que, assim como as pessoas esperam entregas com valor real, com responsabilidade e respeito, as empresas precisam ter a saúde no centro de tudo. “Tem de tomar todas as atitudes pensando no bem-estar e nas pessoas”, reforça.
No recém apresentado Conversas que importam – reflexões e urências do nosso tempo, a W3haus analisou reports, matérias, discussões sociais e reação das marcas, concluindo que “a vida não vai voltar a ser como antes tão cedo, e as conversas de marcas também não”.
No material, a agência chama a atenção para a necessidade do mercado ser responsável, propor uma comunicação que faça sentido com a missão e territórios de marca e com a necessidade do público. “As marcas podem ajudar a resolver problemas enquanto cuidam do negócio, abrindo novas portas para atuar positivamente em todo o ecossistema. Mais do que nunca, marcas, veículos e creators precisam ser úteis (e isso não pode ser chato)”, indica. Em resumo, a mensagem da agência é clara: “na crise, crie”.