Cena de “Ilegal”, filme sobre maconha medicinal com mães que lutam pelo direito de tratar os filhos

A 3Film é uma prova de que nem sempre uma empresa precisa de planejamento para nascer e prosperar. Em um mercado onde a criatividade é o elemento-chave, a produtora de audiovisual surgiu “quase por acaso” e, em três anos de existência, já coleciona prêmios importantes e obras que influenciam o comportamento de pessoas e até mesmo autoridades.

Os sócios Raphael Erichsen, Rodrigo Braga, Clarice Laus e Tiago Berbare iniciaram a operação a partir da intenção de colocar em prática projetos que tinham em mente – como o “Rally Mongol”, iniciativa de viajar de carro do Reino Unido até a Mongólia. O canal Multishow comprou a ideia e financiou a aventura. “Felizmente deu tudo certo e voltamos vivos. Foi uma loucura que eu e alguns amigos do Rio de Janeiro fizemos e aproveitamos para filmar”, conta o carioca Erichsen, o Rapha, jornalista de formação e diretor de criação da casa.

Ele conheceu seu sócio Rodrigo Braga, diretor de fotografia, quando os dois participavam do curso de trainee das revistas Capricho e Superinteressante. Títulos que, se não ganharam dois jornalistas, abriram as portas para trabalhos realizados pela produtora, como “No Capricho”, filme que retrata os bastidores do festival teen homônimo, e “Esqueça o filtro solar e acredite no conhecimento”, um curta-metragem encomendado pela revista Superinteressante que traz 12 conselhos científicos para uma vida mais interessante, desmistificando uma série de teorias – e ainda parodiando um vídeo narrado por Pedro Bial no início dos anos 2000. “A Abril foi quem nos abriu as portas e outros clientes vieram a partir disso”, revela Erichsen.

Porém, foi apenas dois anos após abrirem a produtora – que está com três anos de atividade –, e terem emplacado trabalhos de reconhecimento, inclusive internacional, que os sócios finalmente começaram a acreditar que tinham uma produtora em mãos. Neste sentido, dois casos se destacam.

O primeiro é o documentário “Radical: a controversa saga de Dadá Figueiredo”, feito em parceria com a marca Vans, que conta a história do surfista brasileiro e proporcionou prêmios no Festival Internacional de Cinema de Long Beach, em Nova York, melhor documentário no Quiksilver Mimpi Film Festival, no Rio de Janeiro, e menção honrosa no SAL, encontro direcionado para filmes de surfe, em Lisboa.

O segundo e mais importante ainda é o “Ilegal”, trabalho baseado na história de personagens que precisam da maconha para fins medicinais e enfrentam obstáculos devido à proibição da droga. O filme foi exibido em 23 salas de cinema do Brasil e rendeu para as personagens o prêmio Arquitetas da Mudança no Poder, evento promovido anualmente em Miami pela fundação ABC. Além disso, a produtora é responsável pela campanha “Repense”, planejada em parceria com o jornalista Tarso Araújo, também relacionada à maconha medicinal, e que vem incentivando a opinião pública a refletir sobre o tema. A campanha é uma das finalistas da premiação “Faz Diferença”, do jornal O Globo.

Há duas semanas, a 3 Film comemorou o fato da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ter retirado o canabidiol da lista de princípios ativos proibidos da lista de medicamentos controlados, considerando que a substância tem efeitos terapêuticos e é uma alternativa eficaz no tratamento de casos de epilepsia grave. “Queremos fazer mais do que trabalhos audiovisuais. Queremos criar conteúdos que tenham mensagem”, explica Erichsen.

A produtora também realiza trabalhos para grandes anunciantes como Petrobras, Triton, Renner, Avon e Garnier, mas foge do estilo de comercial convencional. “A gente traz o jornalismo e o conteúdo audiovisual para empresas que não sabem como fazer isso. Não fazemos propaganda no seu formato tradicional. O foco é criar publicidade com conteúdo para as marcas – e sem ‘enfiar logotipos e produtos’ pela goela das pessoas”, afirma o diretor de cena.

A 3Film ainda conta com os sócios Tiago Berbare, diretor de pós-produção e idealizador dos projetos mais “cabeças” de um braço experimental da empresa chamado Tilt, e Clarice Laus, a mulher que, segundo os sócios, “faz tudo funcionar”. “Nós não queremos dominar o mundo, queremos mudá-lo”, brinca a produtora-executiva.