Começa que essa mágica não existe. Impossível enfiar-se os pés pelas mãos. Muitas pessoas tentam. Nenhuma consegue. Algumas insistem e se machucam. O mágico delira. Até aqui, salvo pequenos exageros, fez tudo direito. Do zero a dois bilhões em poucos anos. E, dotado de energia descomunal, jorrando empreendedorismo aos borbotões, Carlos Wizard Martins não sossega.

Desta vez, no entanto, permitiu que a vaidade tomasse conta do cérebro e incorresse em semelhante erro de 99,9% das organizações de varejo. Esquece-se de qual é seu negócio e decide colocar-se no lugar de seus principais fornecedores. Incapaz de se contentar com seu descomunal e comprovado repertório de mágicas, Wizard joga fora, espero, provisoriamente, sua autoridade e isenção, sua capacidade de oferecer e garantir a seus clientes os melhores produtos, e cai no engodo da marca própria.

Mais conhecido como perda de tempo, fragilização do negócio, tiro no pé. Ou a tal da mágica que comentei no início: enfiar os pés pelas mãos. Com uma caixinha na mão e o mesmo sorriso nos lábios, Carlos Wizard Martins concede entrevista a Moacir Drska, de IstoÉ Dinheiro: “A Mundo Verde é o nosso segundo maior ativo e representa 40% das receitas da holding… Vamos chegar a uma receita de R$ 600 milhões…”.

A “tonteria” começou em março deste ano. Com a marca própria Elixir, de produtos de beleza e de saúde para mulheres entre 30 e 60 anos. Sob esse guarda-chuva, seis novas linhas, incluindo produtos para pele, unhas e cabelos, suplementos, óleos e chás para controle de peso e prevenção de envelhecimento precoce, muito semelhante a outra “tonteria” protagonizada pelo enigmático, indecifrável, inconsistente e rei da pedalada, Sidney de Oliveira.
Ou seja, temos um novo e melancólico campeonato em andamento: quem comete a maior tolice, Sidney ou Carlos? Acreditando na mágica trágica e suicida que nos últimos 50 anos debilitou as principais organizações de varejo do país, Carlos mergulha no próprio engodo: “Nós queremos que as marcas próprias representem 50% da nossa receita em cinco anos. Hoje essa participação é de 12%…”.

Se por uma infelicidade a ambição de Carlos converter-se em realidade, seu negócio terá terminado. O Mundo Verde mergulhará numa crise insuportável de comoditização, perdendo por completo o sentido e a alma do empresário de quem Carlos comprou a empresa.

Não existe uma única história em todo o mundo, muito especialmente no Brasil, de qualquer organização que tenha conseguido sucesso e ganhar dinheiro com as amaldiçoadas marcas próprias. Tudo o que conseguiram foi perder tempo, energia, dinheiro e fragilizar a relação com os seus principais fornecedores. Carlos, não existe em nenhum dos melhores repertórios de mágica no mundo dos negócios, nenhuma que tenha conseguido fazer de um varejo uma indústria.

Isso posto, menos, Wizard, muito menos. Insista no seu repertório consagrado e pare de delirar. Não coloque em risco um dos mais espetaculares cases de sucesso protagonizado em nosso país nos últimos 30 anos. Evite tornar-se referência de alguém que o sucesso subiu tão absurdamente à cabeça que acreditou ser possível enfiar os pés pelas mãos sem maiores consequências.

Não repita a cena final de O Mágico de Oz, quando Dorothy, o Leão Covarde, o Homem de Lata e O Espantalho, ajudados pelo Totó, descobriram que o mágico era um impostor.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing