Nise Da Silveira, de Maceió, 1905, morreu aos 94 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro no dia 30 de outubro de 1999. Notável e revolucionária aluna de Carl Jung. Acreditava na riqueza interior. Emocionava-se com Otis Redding, Try a Little Tenderness. Apostava nas artes, na dança, no lúdico e no amor. E, dizia: “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas”. Nise abominava a violência. Quando começou, a boa e consagrada técnica era a da porrada, confinamento, choque, insulina e lobotomia. Dia desses assisti seu filme da TV Zero, magistralmente interpretada por Glória Pires, a atriz oficial de algumas das mulheres notáveis do Brasil.

Começa com Nise/Glória tentando entrar num estabelecimento. Bate, ninguém se manifesta. Soca, ninguém se manifesta. Esmurra, a porta abre. Assim era Nise Da Silveira. Não desistia. Em 1954, estabelece uma troca de correspondência profícua e reveladora com Carl Gustav Jung. Estimulada pelo amigo, realiza uma mostra da produção artística de seus pacientes – que chamava clientes – ocupando cinco salas no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, 1957. Jung recomendou que Nise mergulhasse na mitologia para decifrar o inconsciente de seus clientes.

Seus principais ajudantes eram os animais. Muito especialmente cachorros e gatos. Mais colaboradores abnegados que subscreviam suas contravenções. Mudou a vida, a história, o tratamento e o respeito aos esquizofrênicos de todo o gênero. Talvez, todos nós, em maior ou menor intensidade. Terminado o filme, veio o entendimento. A riqueza interior. Mesmo naquelas pessoas supostamente maluquinhas da silva pelo comportamento, gestos, gritos, atitudes, uma gigantesca e descomunal riqueza interior. Que jamais se revela, eventualmente transparece, excepcionalmente brota. Mas, sensível, sujeita a fugacidades e retraimentos.

E a certeza que todos nós, seres humanos, ao fazermos nossas escolhas, temos diante de nós duas alternativas. Privilegiar a construção e o armazenamento de uma riqueza interior, ou dedicarmos nossas vidas a construir e multiplicar uma Riqueza Exterior. Não existe incompatibilidade entre as duas, mas é quase impossível privilegiar uma sem prejudicar ou desconsiderar a outra. A opção pela riqueza exterior tem componentes e caminhos que a própria razão desconhece, que tropeça e constrange recorrentemente a busca pela Riqueza Interior. Assim, concluindo, existe uma riqueza que só pertence a você. É a riqueza interior. É sua. Repito, pertence a você. E a mais ninguém.

Nasce com você, desenvolve-se com você, parte com você. E, talvez, quem sabe, continue com você. Não se trata de dinheiro. Muito menos de bens materiais. Essa é a tal de riqueza exterior. A riqueza interior é uma espécie de síntese da essência decorrente de leituras, vivências, relacionamentos, observações, registros, encontros, tristezas, alegrias, encantamentos, emoções, beijos, abraços e amores. O que você colheu durante a trajetória. É cumulativa. Não retrocede, jamais diminui. Aconteça o que acontecer. É ilimitada. Você é quem determina a velocidade de seu crescimento, o tamanho de sua felicidade.

Também é intransferível. Os ao redor desconfiam ou percebem por seus gestos, movimentos, palavras, olhares, sorrisos e inflexões. E procuram permanecer ao máximo próximos de você para gravitarem na órbita de sua felicidade. No fim do dia, da jornada, da vida, é o que conta. Você parte sozinho. Você, e sua riqueza interior. Aquela que vale a pena. E que conduzirá você a algum céu qualquer em outra dimensão. A mesma que Nise e seus clientes carregaram consigo. Já a riqueza exterior…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing