Discutir da forma como a publicidade empodera as mulheres pode ser um bom começo para aumentar a representatividade feminina neste mercado. Para quem faz a propaganda, como para quem a recebe, tratar de assuntos relacionados ao feminismo podem evoluir o pensamento da sociedade como um todo a respeito dos estereótipos, preconceitos e violências contra a mulher.

Com o objetivo de levar do mercado para dentro da agência um pensamento inovador e disruptivo, a Dentsu organizou um encontro com Fernanda Cerávolo, diretora do YouTube Brasil, Maíra Liguori, co-fundadora da Think Eva e diretora da Ong Think Olga e Cristina Naumovs, diretora de criação da Revista Cosmopolitan, para discutirem o tema “Conteúdo e canais para as mulheres empoderadas”.

Segundo Mario D’Andrea, presidente e CCO da Dentsu, é preciso entender as verdades do consumidor, construindo pontes e analisando públicos específicos. “Precisamos fugir dos estereótipos e dos truques fáceis da propaganda. Se fizermos isso, acreditamos que a relação vai ser bem mais duradoura. E por isso, temos promovido na agência conversas que abordam diferentes públicos. Mais do que ser empoderador, qual o real interesse e qual a realidade dessas mulheres?”

Cláudia Colaferro, presidente da Dentsu Aegis Network América Latina, destacou que não existe mais a criação de branding, mas sim de reputação das marcas. “Estamos em um momento de transparência, porque a internet desmistificou e deu poder para todo mundo. E essa transformação aconteceu rapidamente. Com isso, acabou-se as marcas, temos que criar reputação, porque o branding deixou de existir”. 

Fernanda iniciou o debate falando sobre a participação das mulheres na publicidade. Em um ambiente como o YouTube, em que a publicidade e o conteúdo produzido pelo público fazem a plataforma ser referência na visualização de vídeos, o que as mulheres assistem vai além do universo de beleza e maternidade. “Empreendedorismo, educação e empoderamento são temas pesquisados por elas. Os games, entre as mulheres com mais de 25 anos, é um assunto que está evoluindo cada vez mais”.

Alguns dados trazidos por Fernanda ajudaram a ilustrar a seleção de gênero nas agências digitais. No Google, por exemplo, a executiva disse que globalmente 69% dos colaboradores são homens e, apenas, 31% são mulheres. “Somos conscientes dessa situação e podemos estudar formas de modificar o ambiente, porque é só desta forma que a gente vai conseguir que o ecossistema seja mais diverso. Hoje, existe uma série de iniciativas para trazer mais mulheres, tentamos fazer uma seleção de candidatos equilibrada, mas é muito difícil em algumas regiões. É preciso ter paciência e trabalhar muito para que as mulheres estejam mais presentes no mercado”.

Com um trabalho voltado para a transformação da comunicação, a Think Eva trabalha em parceria com marcas e agências para ajudar na identificação real das necessidades do público feminino, garantindo relevância de conteúdo e construção de um diálogo honesto e responsável. 

“Se você entende com quem você está falando, a dúvida sobre o que falar vai diminuindo com o tempo. As mulheres querem ser vistas como elas realmente são. Tentamos então trazer essa visão para as marcas e instituições, fugindo dos estereótipos”.

Esse é o grande momento da mulher e do empoderamento, segundo Maíra, e a internet é responsável por isso. Ela deu espaço e voz para que as mulheres pudessem se colocar. Nesse ambiente, elas têm acesso as informações, podem se mobilizar, se expressar e se encorajar.

“O que a gente está fazendo é feminismo e quando citamos o empoderamento feminino estamos falando sobre isso. Esse é um conceito radical para dizer que as mulheres são pessoas, ou seja, seres humanos complexos e com necessidades que não são atendidas. Colocar-se no mundo como mulher e ter os seus desejos expostos é ser feminista”, explica Maíra.

Segundo ela, as marcas do futuro são plataformas de discussões relevantes e é necessário ter responsabilidade para honrar os consumidores. “É preciso encontrar o papel da marca na sociedade para conseguir ter valor nos próximos anos. Cerca de 75% da Geração Z não se importam se as marcas desparecerem. Agora, o importante é a experiência”.

Diretora de criação da Cosmopolitan, Cristina falou sobre as barreiras que as mulheres encontram ao falar sobre o sexo. “Na primeira capa da Nova em 1973, a chamada trazia a frase ‘como dizer adeus ao homem que você ama’, isso porque na época não existia divórcio. Depois de 40 anos, me pergunto onde a gente se perdeu e porque essa mulher só lia a revista escondida, como algo velado. A mulher brasileira é sexy, mas ela é uma ‘piranha’ se gostar de sexo. É preciso acertar esse relógio, porque a vida sexual de muita gente não funciona”.

“Estamos falando muito sobre liberdade, e o feminismo existe para garantir isso. O sexo vende, não é à toa que as cervejas venderam usando mulheres nuas. Essa via sensual vende, porque nós vendíamos revistas na banca com uma alta tiragem, mas não conseguíamos vender publicidade. Com a crise, a conta não fechou mais e precisamos repensar para que as marcas percebessem o que a mulher que lê a revista quer”.