“Somos herdeiros da vida e do planeta em um país que precisa ser reconstruído”, afirma Antonio Luiz Seabra, fundador da Natura. O executivo participou do Encontro Exame CEO, realizado na manhã desta terça-feira (08), em São Paulo, como extensão do prêmio Maiores e Melhores, promovido pela revista na última segunda-feira (07).

Alê Oliveira

A apresentação do executivo abordou não só a história da Natura como a internacionalização da marca com a compra de The Body Shop, conluída em 26 de junho. A marca inglesa foi fundada por Anita Roddick em 1976 e a primeira a trabalhar o comércio justo se preocupando com origem de sua matéria-prima. Também foi pioneira em proibir os testes em animais no desenvolvimento de novos produtos, introduzindo o mercado de cosméticos na onda sustentável. Em 2009, Anitta faleceu, mas a marca há havia sido comprada pela L’Oreal em 2004.

De acordo com Seabra, a necessidade de internacionalização da Natura fez com que a companhia olhasse para The Body Shop, que já não evocava mais o mesmo encantamento e ativismo que a notabilizou. No entanto, por estar presente em muitos países e ter crenças parecidas com as de Natura, ofereceria uma boa acolhida internacional para a brasileira. “Nossas pesquisas nos fizeram concluir que, por estarem em 66 países, valeria a pena a ousadia e reconstruir o que Anita fez. Queremos voltar a falar sobre a participação da mulher na construção da sociedade, levantando a bandeira de respeito ao planeta e à vida”.

A compra da The Body Shop foi aprovada no último dia 25 de julho pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), mas ainda precisa da aprovação de autoridades regulatórias não só do Brasil, como dos Estados Unidos. A compra tem o valor de 1 bilhão de euros, pagos integralmente.

O processo de internacionalização da Natura já vem crescendo desde a compra da australiana Aesop em 2013, que hoje já tem 20 lojas no país. A brasileira também inaugurou uma loja em Nova York em maio de 2017, além de outra em Paris em 2016. A Natura também tem lojas físicas em países como México, Peru, Argentina, Chile e Colômbia. Com a integração de The Body Shop o faturamento deve chegar a R$ 11,5 bilhões para a companhia, com aumento de 45% sobre a receita líquida de 2016.

 Otimismo, bom humor e esperança 

Antonio Luiz Seabra também relembrou o dia em que conheceu Victor Civita, fundador do Grupo Abril, durante um almoço na editora em 1976. “Se alguém poderia conhecer de crise, era ele, produto de um século cruel na dor humana. Ele tinha um interesse genuíno por gente, pelo outro. O que o alimentava nas crises e na vida era o otimismo, o bom humor e a esperança”.

A crise vivida pelo país e as notícias ruins dadas todos os dias como decorrência do cenário política tem deixado Seabra longe desse entusiasmo que disse ter sido tão evidente em Civita. No entanto, ele está determinado a retomar isso. A Natura se aproxima de completar 50 anos e a humildade de sua família foi a motivadora de uma paixão não só pelos cosméticos, mas pelas relações pessoais.

“Percebi que os produtos melhoram a relação entre a mente e corpo. Os estereótipos desse mercado distanciam a indústria desse equilíbrio e quis desenvolver uma linha de produtos que privilegiassem a vida em vez do preconceito e das sombras, que afastam as pessoas do corpo. Essa concepção me encantou e tornou cada vez mais clara nossa bandeira ética”.

Aos 75 anos, Seabra fica feliz por ter ajudado a lançar um conceito de bem-estar que está tão presente na consciência social e é tão difundido pela Natura. “Ao longo das crises percebemos o sentimento de que aquilo que nos ameaçava nos faz mais fortes”.

A reportagem completa sobre o Encontro Exame CEO e mais informações sobre as palestras de Rubens Menin, da MRV, João Carlos Brega, da Whirlpool, Marcilio Pousada, da Raia Drogasil e Harry Schmelzer Jr., da Weg serão publicadas na próxima edição impressa do PROPMARK.