Não é nenhuma novidade dizer a que tecnologia altera cada vez mais a forma como o mundo funciona. Consequentemente, mudanças em nosso dia a dia se tornam cada vez mais frequentes – não se via empresas crescerem a partir de uma ideia e virarem organizações bilionárias em uma década, assim como não se imaginava que estaríamos conectados ao mundo com algo que coubesse em nosso bolso. Mas ao mesmo tempo que a tecnologia traz oportunidades, não podemos deixar que ela guie a forma que fazemos as coisas.

Com as facilidades que temos hoje, ficamos tendenciosos a prestar menos atenção em algumas atividades ou situações. É maravilhoso podermos falar instantaneamente com qualquer pessoa em tempo real pelo nosso celular, mas não faz sentido em um restaurante ficarmos digitando, ao invés de conversar com quem está na nossa frente, por exemplo. E não quero parecer hipócrita, até porque já me peguei várias vezes fazendo isso, mas é inconsciente ficar o tempo todo olhando a tela para ver se tem alguma mensagem ou e-mail novo, e quando percebemos, já fizemos o ato.

Se não prestarmos atenção nas situações que estão ao nosso redor, acabamos fazendo coisas de forma automática sem nos dar conta, e o perigo é deixar as facilidades levarem o nosso dia a dia, impedindo nossos pensamentos e até mesmo os questionamentos. E isso vale tanto para o pessoal quanto para o profissional, pois não há como inovar e ser diferente deixando as coisas no “automático”. Inovação não vem da tecnologia. Na verdade, é na falta dela que temos que pensar fora da caixa para fazer as coisas acontecerem.

O mercado publicitário depende principalmente de inovação e criação, onde inclusive nosso país é referência mundial. Nos últimos anos, as mudanças foram intensas e vimos alguns segmentos sendo criados, enquanto outros passaram por uma crise. Essas alterações foram alavancadas grande parte pela forma como o público consome conteúdo, e se pararmos para pensar, de certa forma foram aceleradas pela instabilidade econômica.

Uma das novidades que crescem consideravelmente é a automação de compra de mídia, a “Mídia Programática”, que permite anunciantes e agências comprarem espaços publicitários em milhares de sites de forma segmentada para milhões de pessoas, por meio de uma plataforma. É uma solução brilhante, pois ao mesmo tempo que viabiliza uma veiculação em alta escala sem ter que negociar com cada veículo, as plataformas conseguem automaticamente otimizar a verba dedicada para cada veículo com a finalidade de trazer o melhor resultado, mas gastando menos. A dúvida que fica é – até onde essa facilidade e automação podem vir a prejudicar o diferencial e a criação de cada campanha? 

Como falei no início, as facilidades que as inovações tecnológicas nos proporcionam são excelentes desde que tenhamos o cuidado de não deixarmos elas nos levar. Uma ferramenta não consegue criar campanhas que marcam gerações, assim como não corrobora com o pensar “fora da caixa” quando é necessário fazer algo diferente. É claro que facilitam o nosso dia a dia, e inclusive podem reduzir custos e otimizar o dinheiro que investimos em nossas campanhas, mas redução de custo pode não significar aumento de performance. Por isso, o importante é acompanharmos e aproveitarmos as novidades sem deixar de nos atentar aos limites do que podem torná-las prejudiciais.

Victor Canô, CEO da Cazamba