O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais provocou reação inequívoca no mercado. A ascensão de Aécio na reta final e sua consequente habilitação ao segundo turno fez a Bolsa apresentar alta inédita no ano, o dólar cair e o humor do mercado mudar.

Não vou me meter a analisar programas de governo e capacidades de partidos e candidatos – há outros espaços e articulistas muito mais habilitados para isso –, mas gostaria de propor uma análise mais macro do momento, mais precisamente da expectativa 2015 perante esse quadro.

No momento em que escrevo este artigo ainda não temos o resultado da primeira pesquisa de intenção de votos para o segundo turno, mas a expectativa é que o candidato da oposição apareça à frente da postulante à reeleição. Se isso se concretizar, teremos aí umas duas semanas de muita especulação e expectativa até o pleito de 26 de outubro.

Mas o mais importante virá após a definição do nosso novo presidente (ou reeleição da atual). Outubro e novembro são meses marcados pelo planejamento do próximo período e a formatação do budget. Excluindo-se as eleições da análise, a formatação de planos encontra uma situação macroeconômica no mínimo nebulosa. Estima-se um crescimento tímido de 0,3% do PIB brasileiro neste ano e um pouco mais de 1% para o seguinte. O nosso futuro governante, independente de quem seja, encontrará um terreno minado, com bombas de efeito retardado, prontas para afetar a economia, principalmente no tocante à inflação.

Todos sabemos do represamento artificial dos preços da energia e do combustível, por exemplo. Em 2015 não será mais possível adiar um reajuste de preços nesses setores com um previsível encadeamento de elevações nos demais produtos e serviços. Administrar inflação dentro de patamares aceitáveis perante esse quadro não será tarefa fácil. Uma visão externa nos traz um quadro igualmente nebuloso.

Os Estados Unidos apresentaram um crescimento surpreendente em 2014 enquanto a Europa continua patinando. A Ásia continuará crescendo a taxas bastante expressivas, embora se espere uma pequena redução das demandas da China, o maior motor de crescimento mundial. Na América Latina, apenas Argentina e Venezuela crescerão menos do que o Brasil. Pela importância da economia brasileira nesta região, o número será puxado para baixo, ficando próximo a 1,5% de crescimento. Ok, este é o quadro geral da macroeconomia, mas sabemos o quanto o humor do mercado é importante para reverter previsões pessimistas.

O momento atual é um exemplo disso: bastou o candidato da oposição passar ao segundo turno para o mercado financeiro reagir positivamente. Pensando especificamente em marketing e comunicação, sabemos o quão sensíveis são as decisões nessas áreas perante o humor de mercado.

Estamos no último trimestre de um ano cheio de emoções contraditórias. A Copa do Mundo deu um colorido diferente a este ano, impactando fortemente alguns segmentos do marketing. A área de eventos corporativos, por exemplo, foi prejudicada por um calendário de apenas dez meses. Sim, porque os meses de junho e julho foram riscados do calendário desse tipo de evento.

E os eventos paralelos à Copa frustraram a expectativa e não substituíram aqueles cancelados ou adiados por conta do megaevento. Se o resultado final da Copa não foi catastrófico para a imagem do Brasil, ele foi ruim para a maioria dos players do live marketing, por exemplo. Aí vieram as expectativas das eleições, que confirmaram a atipicidade deste ano de 2014. E todos foram para o lado da precaução da gangorra, adiando planos, represando investimentos.

Pois bem, o atual momento, portanto, não deixa de ser alvissareiro. Repito que não farei juízo de valor, mas a verdade é que a chance de termos um novo governante mexe com os ânimos do mercado. E a concretização deste fato pode ser determinante para mudar o humor do mercado e justificar planos mais ambiciosos e menos cautelosos para 2015.

Aparentemente muitos decisores da economia estão bandeando para o outro lado da gangorra, que parece estar paralela ao chão. Nossa esperança é que ela se projete definitivamente para o lado da esperança de um 2015 melhor.

*Entre em contato com o autor no email alexis.pagliarini@sheratonsaopaulowtc.com.br