Quando eu saí da engenharia e entrei no universo do marketing e da comunicação, descobri um admirável mundo novo. Vindo de uma pequena cidade do interior de São Paulo, de repente, o acaso me jogou no meio do turbilhão de emoções do marketing. Tive sorte: trabalhei em empresas que valorizavam as boas ideias e em agências que se destacavam pelos trabalhos criativos feitos para seus clientes.

Conviver com alguns dos melhores criativos do Brasil (na DPZ e na Loducca) foi uma dádiva, mas também um foco de inquietação e de grande curiosidade. De onde esses caras tiram tantas ideias?! E logo percebi que aquela coisa romanceada do processo criativo, do ficar com os pés sobre a mesa esperando pintar um click ou uma luz, era furada.

Atuando no atendimento, aprendi a valorizar o trabalho da Criação. Vi que não era simples ter meia dúzia de briefings sobre a mesa na segunda e gerar seis ideias fantásticas até o fim da mesma semana. Cheguei a escrever um artigo, publicado na Folha de S.Paulo – na seção Criação & Consumo – la no fim dos anos 1990, enaltecendo o esforço dos criativos das agências na geração de ideias fantásticas o tempo todo.

Reproduzo aqui a parte final desse artigo: “Criar peças diferenciadas, vendedoras, capazes não só de atrair a disputada atenção de consumidores cada vez mais arredios, como fazê-los adotar uma marca ou comprar um produto, não é uma tarefa simples. Se você está neste momento com uma folha de papel ou um teclado de computador à frente, tente escrever algo realmente interessante. Não vale um texto qualquer, tem de ser algo realmente original, impactante. Pense também em uma imagem que ajude a ilustrar esse texto, fazendo do conjunto – texto e imagem – algo realmente inusitado e atraente. Conseguiu desenvolver algo bom? Agora desenvolva outro e mais outro e mais outro… Sentiu o drama?”

De lá para cá, meu interesse pelo processo criativo se ampliou muito, a ponto de eu estudar profundamente o tema e procurar desvendar os caminhos da criatividade. Li livros de Edward de Bono (considerado um dos maiores estudiosos da criatividade), Roberto Mena Barreto, Roger von Oech, dentre muitos outros; passei a buscar toda e qualquer informação que me ajudasse a entender o processo da criatividade.

Tive também a sorte de ser um dos profissionais de atendimento escolhidos pela DPZ para ir pela primeira vez ao Cannes Lions Festival. Até então, só iam os criativos. Depois que vivi aquela experiência, coloquei Cannes como uma das minhas prioridades, o que me levou a coordenar dois workshops por lá (2008 e 2010). Mas o que me intrigava não era só a criatividade na propaganda, no marketing, mas aquela aplicada nos negócios, nas artes, nas situações da vida, no dia a dia.

Tal interesse me fez chegar a algumas conclusões, até ousar a repassar os meus conhecimentos para outros interessados, o que resultou na formatação de palestras e workshops com o objetivo de ajudar as pessoas a destravar sua criatividade e aplicá-la na vida pessoal e profissional. E é muito bom ver que funciona! É só as pessoas se convencerem de que podem ser criativas, abrirem-se para essa possibilidade e usarem algumas técnicas para isso, e as ideias chegam.

Em recente apresentação do Busarello, da Tecnisa (ele também um entusiasta do tema), vi um case interessante de criatividade. Um vendedor de milho cozido na Paulista passou a oferecer um pedaço de fio dental para quem estava disposto a desembolsar alguns centavos a mais. Milho cozido: R$1,50. Com fio dental incluído, R$ 2,00.

Pois bem, aqueles poucos centímetros de fio dental, que não custam mais do que uns 5 centavos, geram um significativo rendimento extra ao vendedor criativo. Isso é criatividade pura, intuitiva. Isso tudo me animou em colocar no ar um blog específico para a Criatividade. Lá, vou inserir cases do Cannes Lions, mas também exemplos simples do dia a dia. Vou dividir dicas, técnicas e estímulos para quem estiver interessado.

E, para começar, já usei recursos de crowdsourcing e colaboração criativa: joguei no Facebook um shortlist de nomes para o blog e pedi que me ajudassem a escolher. Tivemos mais de 130 votantes.

Os nomes mais votados foram: “Criatividade viva!” e “Criatividade: simples assim”. Ainda não decidi qual adotar, mas é muito bom ver o quanto a criatividade está viva nas pessoas. Às vezes, só falta um empurrão.

*Presidente MPI e VP da Ampro