Supermercados, agências de viagem, fabricantes de cosméticos, lojas de roupas, eletrodomésticos, entre outros segmentos, se renderam à Black Friday, ideia que veio dos Estados Unidos e foi abraçada pelos varejistas brasileiros. O conceito inicial, trazido para o Brasil, era de promover um dia (sexta-feira) cheio de descontos para começar a temporada de férias. Por aqui, entretanto, algumas empresas oferecem descontos referindo-se ao termo “Black Friday” por todo mês de novembro.

A verdade é que a Black Friday é uma busca de ampliação de metas de vendas. Nesse ano, o fenômeno foi potencializado em função do processo de retração econômica que atravessa o País. Além disso, a aderência da promoção também deve-se ao fato de, no mês de novembro, acontecer o pagamento do 13º salário, que injeta dinheiro na economia e energiza os ânimos dos consumidores.

Segundo dados divulgados pela consultoria Ebit, o comércio eletrônico atingiu vendas de R$ 1,9 bilhão na Black Friday, 17% acima do registrado na mesma data de 2015. O número de pedidos cresceu 5%, para 2,23 milhões. O gasto médio por compra foi de R$ 653, valor 13% maior do que no ano passado. Segundo dados apurados pela mesma consultoria, até o dia 24 de novembro, o faturamento com a ação promocional já superava em 60% o registrado no mesmo período de 2015 (consolidado do mês de novembro). 

Entretanto, nem tudo é comemoração para varejistas e consumidores. Nesse período, muitas marcas ficam ainda mais expostas às críticas e olhares criteriosos dos cidadãos. Algumas foram acusadas de aumentar preços de produtos no período que antecedeu  a ação para reduzir durante a semana da promoção, gerando reclamações e descontentamento dos consumidores.

A exposição das marcas é muito grande na atual sociedade da comunicação digital. O patrulhamento de preços ocorre de maneira bastante ostensiva e as empresas devem efetivamente estar comprometidas com os descontos propostos para o período, sob pena de terem prejuízos à imagem.

Quem quase se perdeu pelo caminho nessa semana foi a Netshoes. A empresa, após aumentar o preço, no último dia 29 de novembro, da camisa do time de Chapecó, viu sua imagem balançar nas redes sociais.  Isso porque, após a queda do avião que levava os jogadores do Chapecoense, tragédia que comoveu o Brasil e  do mundo, a empresa elevou o preço do produto de 159 para 249 reais.

Em clima de patrulhamento e ativismo, os consumidores reagiram imediatamente pelas redes sociais ao aumento e a Netshoes se justificou, dizendo que a elevação havia sido decorrente de resquícios da ação Black Friday. “… em virtude da Black Friday, a camisa da Chapecoense estava com preço promocional”, afirmou em nota. Na manhã do acidente, a camisa teria tido suas últimas unidades vendidas e, com o esgotamento do item, o valor teria retornado ao normal.

O fato é que em era de ativismo do consumidor, as marcas precisam ficar atentas. A Black Friday, segundo dados do Reclame Aqui, terminou com um saldo de quase 3 mil reclamações contra organizações. Os três principais motivos foram propaganda enganosa, responsável por 22%; divergência de valores, 15%; problemas na finalização da compra, 12%. Os consumidores estão atentos e as marcas precisam acordar para esse fato.

Jonathan Dagues é CEO da SPAR Brasil