Não sei você, mas eu comprei algumas coisinhas na Black Friday. A cada ano que passa o Brasil assume mais e mais a data promocional como sua e um número crescente de empresas embarca na onda, praticando ofertas excepcionais.

Existem as espertinhas, que praticam a Black Fraude, fingindo baixar preços simplesmente trocando etiquetas, sem na verdade alterar nada. Mas é inegável que a data, o principal fato promocional nos EUA, se consolidou no nosso país.

Segundo o E-bit, as vendas online no Brasil beiraram os R$ 2 bilhões, um aumento de 17% em relação ao ano passado. E segundo o Serasa Experian, o aumento em lojas físicas foi de mais de 10% sobre o mesmo período do ano passado.

Estima-se em mais de 200 mil o número de produtos com redução efetiva de preços, o dobro do ano passado.

As grandes estrelas são os eletrônicos. Destaques para celulares e TVs. Mas, num ano difícil como este, embarcaram na Black Friday todo tipo de empresa, inclusive de serviços.

Vi instituição financeira propondo pagamento de dívida com desconto e até faculdade reduzindo matrículas pela metade. Isso tudo tem a ver com a crise, mas tem a ver também com a “importação” de termos e conceitos americanos por plagas tupiniquins.

Já nos acostumamos a ver placas de “Sale” em lojas brasileiras, numa tentativa de dar algum charme para uma mera liquidação. Mas é também a tentativa de criar um fato novo para impulsionar vendas. E aí a criatividade brasileira chega a ser engraçada (se não demonstrasse o desespero para vender).

Teve gente estendendo a Black Friday para todo o fim de semana em Black Weekends, ou até para todo o mês, com Black Month.

Se pudessem, começariam em janeiro com um Black Year, tal o desespero que abate nosso comércio em crise.

Muitas empresas estenderam a Black Friday e, se bobear, você ainda encontra boas ofertas por aí, chamadas de “última chance”, para aproveitar a tal Black Friday. Na segunda-feira, pós-Black Friday, era possível ver campanha de uma das maiores redes de eletrônicos do país anunciando uma Cyber Monday, com descontos especiais de produtos do universo Cyber.

Imagino que possam surgir novos nomes para datas promocionais na esteira da Black Friday, como Master Blaster Tuesday ou Super Hiper Wednesday ou ainda Extra Plus Thursday… Mas a data foi também um destaque às avessas no Cannes Lions deste ano.

Um dos cases de maior sucesso no festival foi o da rede americana de lojas REI, que simplesmente fechou suas lojas em plena Black Friday de 2015.

A rede vende roupas para uso “outdoor” e aproveitou a data promocional para fortalecer seu posicionamento por uma vida menos estressante, propondo que seus consumidores optassem por ir passear na Black Friday, em vez de se enfiar em lojas ou em computadores em busca de ofertas. O mote da campanha foi #optoutside. Uma atitude corajosa que motivou outras 170 lojas a fazerem o mesmo.

Parques americanos aderiram ao movimento #optoutside e franquearam ingressos durante a data promocional. A REI deixou de faturar alguns milhões de dólares para fortalecer seu posicionamento perante um segmento de consumidores que opta em resistir a impulsos de compra e evita entrar no frenesi de datas promocionais.

De fato, tem muita gente que questiona essas datas promocionais. Dia das Mães, Dia dos Pais, Natal e até Dia dos Namorados, ok. Mas tem gente inventando Dia da Avó, Dia da Sogra e um sem fim de datas para atrair movimento.

Na China, o Midas Jack Ma, do Grupo Alibaba, criou uma nova data que já é um sucesso: o Dia dos Solteiros. O fato é que, para o Brasil, a Black Friday caiu como Golden Opportunity para tentar mobilizar vendas de um comércio enfraquecido e tentar minimizar um RedYear e tentar chegar a um Blue Balance porque a situação continua Black.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br