O que muitas vezes, pra mim, era só minha mãe trabalhando de um jeito que parecia até brincadeira, para os entendedores de arte era mais uma linda e valiosa escultura de Eliana Kertész. 

 

Crescer nesse ambiente e conviver com a paixão de minha mãe pelas formas – as que ela criava são de mulheres arredondadas – me levou para o design, mesmo que eu tenha relutado, como ela, e me formado em administração de empresas primeiro. Trabalhei em agências de publicidade como a Duda Propaganda e a Africa; tive a própria empresa de design estratégico e me mudei para os Estados Unidos. Aí, algumas outras coisas também mudaram. Mas não a arte, o desejo de dar formas, de me expressar através dos traços… 

 

Com essa mudança, dois filhos e uma casa pra cuidar, comecei a trabalhar em casa. E, confesso, não é fácil como parece. Mas foi nesse ambiente: família, criança, brinquedo, escultura, amigos, quadros, grama e jardim que comecei a caligrafar em fotos. Fui me inspirando em uma foto aqui, outra ali, e aos poucos minha experiência do passado como empreendedora foi dando forma de negócio para o que poderia ser só um hobby.

 

Mas ainda lá atrás, no começo do ano, quando era mais hobby do que negócio, fui convidada com outros seis publicitários para montarmos uma exposição aqui em Nova York mostrando o nosso lado B, o que fazíamos quando não estávamos trabalhando. Achei interessante e provocativo por entender que realmente temos de ser criativos em casa, mesmo que em pequenas atividades. Nascia ali a AdverSide_B, que levou mais de 20 trabalhos para a 4W43 Gallery, na Rua 43 com a 5ª Avenida. 

 

Minha inspiração, desde o início – e desde sempre – foi minha mãe. E mulheres que, como ela, são fortes, invencíveis, inegáveis e também românticas. Resolvi escrever palavras que potencializassem esse poder, com tinta preta em pratos de louça branca. Um contraste simples e direto pra falar dessas personagens da vida real. 

 

Foi uma delícia ver meu trabalho exposto ao lado de criações tão incríveis como as dos também publicitários Bernardo Romero, Paulo Junger, Hugo Aranha, Ana Paula Esteves, Marcelo Kertész e Harisson Santos. Deu uma sensação de unidade, mesmo diante de linguagens tão diferentes. Porque ali tinha uma coisa em comum: criatividade. Essa que insiste em nos perseguir principalmente quando decidimos nos expressar sem briefings, regras ou budgets. Lado B? Talvez.