A voz é de Monica Salmaso. Como de hábito, perfeita. A composição de Guinga e Paulo César Pinheiro. A música, Fim dos Tempos: “Nós somos todos/Todos aflitos/De um lado os doidos/De outro os malditos/Com o fim dos tempos/No coração/E pelos becos, pelas ruas/Pelo mundo andamos sós…”. Agora a voz é de Leila Pinheiro. Como de hábito, irretocável. De novo Guinga. Desta vez com Aldir Blanc. A música, Catavento e girassol: “Eu respeito os sinais, você de patins na contramão”… “Eu te pedi sustenido e você riu bemol”… “Um torce para Mia Farrow, o outro é Woody Allen”… “Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora de teu girassol…”.

Elie Horn é considerado o maior expoente do mercado imobiliário da cidade de São Paulo. Na opinião de quase todos, muito especialmente, de seus concorrentes: Cyrela. Mayer Nigri é outro expoente do mercado imobiliário da cidade de São Paulo. Caracteriza-se pela coragem, arrojo e determinação: Tecnisa. Que agora coloca sua empresa em situação difícil por ter decidido levar adiante e colocar em pé o mais arrojado e ambicioso projeto da pauliceia desvairada pelo furação que se abateu sobre as incorporadoras: o Jardim das Perdizes.

Mayer procurou Elie em busca de socorro. Em menos de 12 meses Elie aportou R$ 100 milhões e passou a deter 14% da Tecnisa. Maria Luiza Filgueiras é uma das mais competentes repórteres da revista Exame. Foi entrevistar os dois. Produziu, talvez, a melhor matéria sobre o mercado imobiliário deste ano. Título: Time de Rivais.

Relata Maria Luiza; “Quando os dois empresários se conheceram, a Cyrela era apenas incorporadora – dona do projeto e do dinheiro –, mas Horn queria partir para a construção. Ligou a todos os construtores de São Paulo, incluindo um jovem de 25 anos que fundara a Tecnisa dois anos antes. A sondagem deu início a uma parceria. De lá para cá, fizeram cerca de dez projetos juntos”. Seria tudo, não fosse o acidente de percurso da Tecnisa, que apostou e plantou na alta, e naufragou na vazante. E um permanente “namoro” que não se resolve.

Antes do socorro à Tecnisa, a Cyrela já tentara por três vezes comprar a empresa concorrente. Na primeira vez, e segundo Horn, ele desistiu porque sabia que Mayer ia se arrepender. Já Mayer afirma que quem recusou a oferta foi ele. Da segunda vez, com o caixa vazando dinheiro pela abertura do capital, Horn e seu filho foram à casa de Mayer para comprar a Tecnisa. Mayer afirma que foi antes da abertura do capital e Horn queria engordar a Cyrela para uma capitalização maior… Na terceira vez foi Mayer quem procurou Horn para vender a Tecnisa, mas não chegaram a um acordo e também abriu o capital… Há quatro anos, antes da vazante, a Cyrela era três vezes maior que a Tecnisa em receitas. No fim de 2016, mesmo tendo reduzido as suas receitas pela crise, aumentou significativamente a distância: dez vezes maior.

O impacto dos distratos na vazante afetou muito mais a Tecnisa do que a Cyrela, diz Horn, “por trabalharmos mais com a baixa renda, segmento em que há pouca rescisão”. Segundo Exame, em 2016, a Tecnisa fechou o ano com um prejuízo de R$ 450 milhões tendo de receber de volta 83% de todas as unidades vendidas no ano. Os dois se gostam e se respeitam. São diferentes e complementares, o que é ótimo. Mas o pior momento para se fazer qualquer negócio é quando se chega ao fundo do poço. Mesmo que depois tudo evolua positivamente, algum tipo de ressentimento permanecerá. De qualquer maneira, poucas situações traduzem melhor e mais emblematicamente o que aconteceu com o mercado imobiliário da cidade de São Paulo, quando a tal da “nova matriz econômica” revelou sua trágica e patética realidade.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)