A concorrência chinesa tem assombrado empresas brasileiras de vários setores desde o começo do século 21 e a tendência é que a ameaça seja observada também no e-commerce. Segundo o novo relatório WebShoppers, divulgado nesta quarta-feira (4) pela E-bit, em pesquisa com 1.843 consumidores brasileiros, dos 67% que adquiriram produtos em sites internacionais no ano passado, 55% realizaram a última compra em um site chinês. O estudo mostra que 12  dos 20 sites internacionais de vendas mais usados no Brasil já pertencem ao país asiático, entre eles o líder Aliexpress, que no último mês de dezembro aparece na frente de marcas consolidadas do comércio eletrônico como eBay e Amazon.

Gráfico do WebSoppers mostra que compras em sites chineses já superam vendas eletrônicas de outros países para os brasileiros

De acordo com Pedro Guasti, diretor executivo da E-bit, especializada em levantar informações do e-commerce, o grande motivador é o preço. “Mesmo sabendo que o prazo de entrega é muito maior, as pessoas estão buscando os baixos preços da China”, diz. O especialista reflete que a maior adesão a lojas virtuais asiáticas vem forçando uma redução no tíquete médio de compras eletrônicas internacionais – de U$ 214,40 para U$ 163,21 – e, consequentemente, obriga o comércio eletrônico brasileiro a baixar os preços.

Segmentos de produtos com maior valor agregado, como eletrônicos, ainda não estão sendo impactados de maneira tão forte pela concorrência asiática na internet. “Principalmente por causa dos problemas no prazo de entrega, a busca é por mercadorias mais baratas que não representarão grandes perdas caso a compra seja extraviada”. Segundo o relatório, a categoria de moda e acessórios é a mais procurada em sites chineses. Já nas páginas de outros países, como Estados Unidos, os eletrônicos são os mais comprados.

Para Guasti, a melhor estratégia de combater a invasão chinesa no e-commerce brasileiro é promover campanhas que reforcem as vantagens de comprar em sites nacionais, que estão obrigados a seguir o código de defesa do consumidor e oferecem mais segurança em relação à entrega do produto. Além disso, a nova realidade deve empurrar as empresas a desenvolverem o conceito de multicanais de venda – omnichannel -, integrando as lojas online e off-line e oferecendo, por exemplo, a possibilidade de comprar pela internet e retirar no balcão da loja física. “É preciso criar um diferencial e mostrar as vantagens de compras por sites nacionais”, sugere.

O executivo reforça que as empresas chinesas demoram, em média, 40 dias para efetuar a entrega, o que contribui para as avaliações negativas do serviço. Apenas 13% dos clientes de sites chineses mostraram satisfação com a experiência de compra, enquanto que entre as lojas virtuais brasileiras o índice fechou o ano com 57% de aprovação. Em relação aos sites internacionais de outros países, a satisfação também ficou abaixo (23%), mostrando por onde as empresas nacionais podem começar a reagir.

Balanço

Apesar de a concorrência chinesa ter ganhado força em 2014, o e-commerce brasileiro registrou bons números no decorrer do ano. O faturamento atingiu R$ 35,8 bilhões, o que representa um crescimento de 24% em relação ao ano anterior.

De janeiro a dezembro, o número de pedidos feitos via internet foi de 103,4 milhões, quantidade 17% superior em comparação ao ano anterior. O tíquete médio ficou em R$ 347, 6% maior que em 2013, quando era R$ 327. Para este ano, a expectativa é que o gasto médio por compra chegue a R$ 350.

Ao todo, 51,5 milhões de pessoas fizeram pelo menos uma compra online. Destes, 10,2 milhões adquiriram um produto na internet pela primeira vez.

Moda e acessórios se mantém como a categoria mais vendida, seguida por cosméticos e perfumaria, cuidados pessoais e saúde, eletrodomésticos, telefonia e celular, e livros e assinaturas e revistas.

M-commerce

Segundo a E-bit, o uso de tablets e smartphones na hora de comprar pela internet está plena expansão. No Brasil, a participação deste segmento do comércio eletrônico chamado m-commerce saltou de 0,1%, em 2011, para 9,7%, em janeiro de 2015.