É preciso que se registre para a história a existência de uma importantíssima entidade, para a qual todos nós, cidadãos conscientes, desejamos longa e frutuosa vida. Os intelectuais Paulo Pires, João Pimentel e Cláudio Uchoa, embebidos do mais alto espírito cívico e imbuídos das mais altas intenções republicanas, fundaram há anos – e a mantém com esforço e desapego – um bloco carnavalesco que é um marco na história do Carnaval carioca. Como, leitor, leitora, vossas excelências não acham esta notícia digna de registro, principalmente numa publicação séria como o PROPMARK? Ora, porra, querem algo mais cidadão que isso, querem outra contribuição mais importante do que esta para a cultura nacional? Calem a boca e vão lendo que eu estou impregnado de intenções político-participativa. Estes já citados brasileiros, sob a inspiração e as bênçãos do iluminado mestre Aldir Blanc, trouxeram à luz dos holofotes momescos o Bloco dos Kbroxas, agremiação cujo objetivo é promover integração e troca de experiências de foliões comprometidos com a esbórnia.

O Bloco dos Kbroxas tem dois tipos de participantes: os sócios-atletas e os agregados. São sócios-atletas, também chamados de fundadores e aptos a receber os privilégios destinados pelos estatutos, aqueles que puderem provar que não tiveram uma única ereção desde o impeachment, que entrou nesta história apenas para marcar uma data, sem nenhum viés político-partidário. É preciso muita atenção para este detalhe devidamente registrado na Constituição do bloco, parágrafo que não foi chamado de Cláusula Pétrea porque no bloco nada é Pétreo: “será considerado Fundador Emérito do Kbroxa aquele cidadão que através de alguma maneira, valendo inclusive declaração de próprio punho (epa!) garantir que, desde o último Carnaval, não foi agraciado com uma única ereção”. E daí, pode perguntar alguém menos chegado ao pensamento altamente sofisticado: qual é a vantagem? Respondo: talvez esta seja uma das importantes descobertas para o lado psicológico da disfunção erétil (também conhecida como fuga venosa) que eu já tenha ouvido falar: transformar em orgulho aquilo que é considerado digno de vergonha ou pena.
Se é por aí que caminha a história, por que não caminharia nesse campo? Continuando, me permita dar outras características da agremiação. Sua sede é na Rua República do Peru, no Rio de Janeiro, uma rua sobejamente conhecida por ser pequena e morrer na praia. Como característica musical, o Kbroxa se identifica por não tocar samba e sim tocar dobrado. Outro diferencial é que o bloco permanece permanentemente em concentração. Ou seja: um bloco que não sai. E também não entra. É também a única agremiação carnavalesca cuja bandeira é hasteada a meio pau. Mesmo sem nenhum defunto. Ou melhor: exatamente em homenagem aos defuntos, sei lá. A esta altura, meus parcos (porém sinceros e participativos) leitores devem estar se perguntando o que eu tomei no Carnaval para escrever tanta besteira. Pois eu respondo: tendo Romero Jucá declarado que o foro privilegiado deve ser uma suruba para todos, após Trump ser declarado louco como um beija-flor pela entidade máxima da psiquiatria nos Estados Unidos (ou – pelo menos – ter comportamento que se enquadra nesta definição), depois da notícia que o Brasil vai importar café, depois do que acontece diariamente neste país e no mundo, sobre o que escreveria eu que tivesse alguma importância?

Não sou cientista político, profissão que cresce neste país como erva daninha (não que eles sejam daninhos, longe disso, a comparação é com a capacidade de crescer), não sou economista, não sou analista de nada, sou um basbaque diante de mentes iluminadas como a de nosso prefeito, cuja primeira atitude diante da privatização da Companhia de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro, para o estado poder pagar a folha dos servidores, foi declarar que pretende… criar uma empresa municipal de águas e esgoto. Pois foi no Carnaval, um amigo meu acordou num motel com uma calcinha no bolso e afirma que não tem a menor ideia do que aconteceu com ele. Outro encontrou a ex num bloco e propôs que os dois voltassem a viver como era antes. Ela concordou, agarrou um saradão que passava e saiu sambando. Ela entendeu que ele queria continuar a ser corno. Feliz Ano Novo!