A propaganda normatiza a sociedade desde sempre. É na propaganda que muitas gerações viram o que é o padrão de família feliz, mulher bonita, homem de negócios e dentes brancos.

Durante muitos anos usaram a mesma estética para as mulheres: brancas, magras e sexualizadas. Alguns poucos momentos publicitários em que as mulheres não eram sexualizadas e não tinham seu corpo enaltecido por roupas justas e decotadas, eram nas campanhas de Dia das Mães e propagandas de produtos de limpeza. O que socialmente tem muito a dizer: o normal da mulher que casa e tem filhos ou a mulher que limpa a casa é ser uma mulher de aparência neutra sem sensualidade, diferente da mulher que serve cerveja aos homens (e que raramente bebe).

Com a entrada de diferentes figuras públicas através da internet, a entrada de profissionais mais novos e mais politizados nas agências de publicidade e obviamente com pessoas questionando essa padronização que aparece nas propagandas há anos; a tendência foi trazer uma diversidade maior entre as mulheres que são representadas ali. 

A mulher sempre esteve à frente de muitas campanhas, mas ainda carregavam muitos esteriótipos (que eram verdadeiros desserviços a nós) e traziam pouca diversidade. 

Mulheres negras, gordas, de cabelo curto, cabelo enrolado ou crespo, baixinhas ou sem maquiagem são exemplos de como a pluralidade da mulher era pouco explorada. Na minha opinião estes perfis ainda são pouco explorados na grande mídia, mas na internet já percebe-se que um movimento mais plural já começou, afinal é uma maneira mais sincera de conexão.

Uma menina plus size que nunca se enxergou em nenhuma propaganda com viés positivo (mulheres gordas sempre foram mostradas como algo pejorativo ou vergonhoso), quando vê uma campanha em que uma atriz gorda como ela performa uma atividade normal antes performada por uma mulher magra, alta e com estilo de modelo; ela se sente tocada pela campanha.

Mulheres negras que passaram anos sendo raridades as peças publicitária, hoje já conseguem sentir que há uma preocupação das campanhas em ter uma representante, mas questionam com razão o porque as mulheres negras ali são mostrada com um único padrão: magra, pele mais clara e traços finos – a representatividade vai além de colocar um exemplar de cada mulher numa propaganda, precisa de proporcionalidade, se metade da população é negra, porque encontramos apenas uma nas propagandas? Se existe uma vasta variação de tons, cabelos e corpos, por que se apegam a um só? 

Quando a publicidade usa diversos tipos de mulheres em uma campanha, ela mostra que entende quem é seu público alvo de verdade, mostra que sabe o que é real na sociedade, ela normatiza o comum e tira o glamour do referencial inalcançável. A propaganda deixou de ser referencial de como a vida deveria ser, hoje quem consome quer ver exatamente o contrário, quer ver que a vida real foi a referência pra determinada campanha. 

Infelizmente muitas campanhas tentam utilizar dessa diversidade sem acreditar nela, mas é fácil ver quando ela é falsa porque basicamente a verdade não aparece. 

Conhecer a sociedade em que vivemos é essencial pra vender coisas a ela. As mulheres estão mais atenciosas com o que consomem e especialmente como aquilo é ofertado a elas. Se manter numa fórmula antiga de representar pessoas é afastar as pessoas da vida real e atual da sua marca..

Maíra Medeiros  é YouTuber no canal “Nunca te pedi nada”