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Até outro dia curadoria era um dos institutos do direito. Contemplado em nosso país no Código de Direito Civil com o objetivo de prestar assistência a pessoas por diferentes razões incapacitadas de gerirem suas vidas. Segundo o Código Civil de 2002, estão sujeitos à curatela, pessoas que, por enfermidade ou deficiência mental, não revelem e demonstrem o discernimento mínimo para atos e decisões; os que, por causa duradoura, são incapazes de exprimir sua vontade; assim como os deficientes mentais, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e, ainda, os excepcionais e os pródigos.

Aos poucos, e gradativamente, a curadoria foi invadindo o território das artes e, nas grandes exposições e museus, passou a pontificar a figura do curador – pessoa de reconhecido saber, conhecimento e cultura, capaz de ordenar, de forma mais eficaz, as manifestações artísticas de um ou muitos autores. Obras certas, na sequência certa.

E assim prosseguiria, não fosse o vendaval da internet. Onde, além de todo o conhecimento já existente, toneladas de novos foram despejados no digital muito especialmente através das redes sociais, enquanto, e simultaneamente, o mundo via a implosão de todas as categorias e espécies dando origem a milhões de novas categorias e espécies de produtos e serviços. E tudo virou uma grande bagunça, um megafurdúncio.

Diante da ameaça concreta de daqui a mais algumas décadas ver-se institucionalizar o chamado samba do crioulo doido, hoje recorre-se ao conhecimento, experiência e sabedoria dos que as têm – normalmente, pessoas mais velhas – para que deem uma ordem e qualifiquem tudo, facilitando a vida dos demais e preservando as bases da cultura relevante e prevalecente, até 1995, antes do dilúvio internet.

Assim, sem querer e muito menos imaginar, muitas pessoas passaram a ser requisitadas para ajudar a colocar certa ordem na bagunça. Viraram curadores. E hoje prestam um serviço inestimável. Facilitando a vida dos mais jovens ou menos experientes, preservando o genuíno da verdade das coisas e da história, e aquietando os ânimos.

No território do marketing e dos negócios, curadoria é o código prevalecente. Para formar mais e novos consumidores de determinados produtos, nada melhor do que recorrer à orientação de especialistas – os curadores –; assim como para ajudar as empresas a “curarem” eficazmente o conteúdo em suas manifestações no dia a dia de seus relacionamentos com seus cientes.

Talvez o mais emblemático dos exemplos sobre a Explosão da Curadoria sejam os clubes. Que pegaram carona na internet e hoje alimentam seus sócios com orientação e produtos! Dia desses a Folha, em seu Guia, trouxe uma matéria completa sobre os clubes – serviços de assinatura que garantem a seus clientes produtos previamente selecionados e sem sair de casa.

Dentre outros, talvez o mais bem-sucedido de todos, o ClubeW, que começou em 2010, tem mais de 200 mil sócios, e nas pessoas de Vicente Jorge e Manu Brandão seus curadores – “winehunters”. Tem também o ClubeER, para os aficionados pela cerveja, que começou em 2011.

E a “enxurrada” de clubes não para. Café, MokaClube; cachaça, Quintal da Cachaça; azeite, Clube do Azeite; surpresas para a cozinha, Bistrobox; “Made in Minas”, Ohminas!; carne, Sociedade da Carne; orgânicos, Santa Adelaide Orgânicos; restrição alimentar, Clube do Zero; snacks saudáveis, Farofa.La; livre de glúten, Glutenfreebox; ingredientes para uma receita, Les Gourmands; dependentes de esmalte, Esmalteria Club; flores, Flor da Cidade; produtos de beleza, Glambox; lingeries, Segredo Lacrado; sais, velas e amuletos, Sublimes Rituais; veganos, Veggiebox; kit de sobrevivência – cuecas, camisetas, laminas de barbear, desodorante e camisinhas –, Rabixo.

Atrás de cada um desses e outras muitas centenas de clubes – são mais de 500 – existem os curadores. Que se responsabilizam pela seleção que mais corresponda à expectativa dos sócios e que lhes garanta uma recomendação segura e de qualidade.

Nesse ritmo, muito brevemente, todos seremos curadores. Quem sabe sua próxima profissão. Prepare-se!