Chega de brincadeira. Desta vez é para valer. Que todos somos vítimas dos pós-brancos estamos cansados de saber. Presentes em nossas vidas desde o nascimento, seguem conosco até o final. Segundo muitos pesquisadores, esse final poderia ser bem mais adiante e prolongado caso procedêssemos a uma revisão radical no consumo desses dois pós brancos: o sal e o açúcar.

Livros e livros já foram escritos sobre o assunto, mas, até o fim do século passado, com resultados pífios. Desta vez, porém, sintomas de uma mudança radical e consistente em nossos comportamentos. Tanto em relação ao sal como em relação ao açúcar. E, pressionadas pela opinião pública, as indústrias que exploram a compulsão e dependência dos seres humanos por doces e salgados começam a se movimentar. Muito especialmente e porque, agora, todos os conselhos de décadas começam a calar mais fundo e provocar sensíveis mudanças nos comportamentos de consumo.

De um lado, indústrias reduzindo substancialmente a quantidade de sal em seus produtos. E de outro, indústrias adotando a mesma postura em relação às suas doces guloseimas, leia-se açúcar; e muitas delas, diante da queda de consumo, fechando fábricas. E ainda, as maiores e de capital aberto, com um compliance mais rígido, sendo cobradas por seus acionistas para que caiam fora imediatamente de determinados negócios. Como acontece neste exato momento com Nestlé, Unilever e Procter, por exemplo, entre outras.

Meses atrás foi publicado na revista Lancet o mais completo estudo já realizado sobre o quanto o aumentar-se punitivamente o preço de doces, bebidas e tabaco é capaz de frear o crescimento das chamadas doenças crônicas. O estudo levou em consideração os dados de 13 países onde procedeu-se a substanciais aumentos de impostos sobre esses produtos.

Durante anos, prevaleceu a tese de que os únicos afetados por essa medida seriam as populações pobres, responsáveis pela maior parte do consumo desses produtos. Mas o estudo concluiu que isso eventualmente só acontece no curtíssimo prazo e logo após os aumentos, mas que, mais adiante, há ganhos substanciais com a saúde e com o desempenho no trabalho.

Assim, uma nova e grande guerra em prol de uma alimentação mais saudável em curso, e depois e à semelhança da guerra contra o tabaco travada em quase todo o mundo, doces e salgadinhos na alça de mira da sociedade. Em alguns países onde essa medida – aumento das taxas e impostos e, por decorrência, aumento nos preços – vem sendo testada, resultados mais que animadores. Um desses países é o México, onde essa nova política entrou em vigor em 2014 e vem conseguindo quedas no consumo de doces e salgadinhos a uma taxa média superior a 10% ao ano.

Em nome dos fabricantes, suas associações – Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) e Abur (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas) se
manifestaram. Em comunicado conjunto, disseram estar comprometidas em promover ações conjuntas para combater o problema com a redução voluntária de sódio, gordura trans e açúcar. Muitos não acreditavam. Leva tempo. Mas, um dia, acontece. Parece que estamos criando juízo. As nossas crianças, principalmente elas, mesmo não entendendo exatamente as razões e motivos, agradecem. Como tudo, demora, mas chega. Chegou a hora da verdade para os pós brancos. A de colocar o sal e o açúcar em seus devidos lugares e, principalmente, medidas.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)