Cris Duclos está contente. Mais do que isso: está à vontade no cargo que ocupa há pouco mais de um mês na Wunderman, depois de ter passado oito anos na Vivo, à frente da comunicação e do marketing da companhia. “Brinco que tinha uma agência na Vivo porque quase todas as disciplinas de comunicação eram in house. Claro que eu usava as agências, mas havia muita coisa interna. Eu meio que administrava uma agência do ponto de vista do cliente”, afirma.

 

Entre outras surpresas da contratação, está o fato de Cris ser também a brand leader da marca Vivo, o que, de certa forma, a faz voltar para a casa de onde saiu há pouco mais de um ano. Na posição atual, ela passa a se reportar aos líderes da Wunderman, Paulo Sanna e Caio Bamberg, CCO e COO, respectivamente, e a David Laloum, presidente da Y&R.

 

Ex-diretora de Imagem e Comunicação da Telefônica/Vivo, Cris tinha sob sua batuta na companhia as áreas de propaganda, mídia, eventos, patrocínios, branding, pesquisa, trade e fidelização, além de marketing digital, esportivo e direto. Não era pouca coisa. Pudera, a experiência dela em telecom vem de longa data. Antes da Vivo, a executiva somou 11 anos na concorrência, tendo iniciado a carreira ainda na BCP – que, depois, virou Claro. Ela entende muito de telecom.

 

No entanto, a partir de agora, Cris encara novos desafios e, portanto, mais trabalho, o que significa ampliar seu horizonte. No novo cargo, além da Vivo, ela assume Cielo, Via Varejo e Dell – com a empresa de telefonia, as quatro companhias formam os chamados Big Four da Wunderman, importante rede digital com mais de 130 escritórios espalhados pelo mundo. “Já fiz reuniões com alguns clientes. Para mim, é muito interessante conhecer outros segmentos”, garante. “Posso discutir com o cliente, entendendo o outro lado. Geralmente, quem trabalha em agência nunca foi cliente. Essa vinda para cá me dá um 360 graus, os dois lados da moeda.”

 

Além dos quatro grandes, a ideia é que Cris abrace todas as contas da agência, sempre em mídia, estratégia e atendimento, áreas que a Wunderman e a executiva consideram correlatas. “Meu universo aqui é amplo. Com certeza vou me tornar uma profissional melhor e mais bem preparada. Ainda estou tomando pé da situação porque acabei de chegar, mas há outras marcas, como United Health e Nestlé, que têm potencial enorme de crescimento.”

 

A ponte entre Cris Duclos e a agência foi Marcos Quintela, presidente do Newcomm, grupo que controla, entre outras empresas, a Wunderman. Na primeira conversa, afirma, ela soube que ali havia a necessidade de uma pessoa forte, que tivesse um viés de negócio, de marca, mas também uma visão de cliente. Em outras palavras, um profissional plural, exigência cada vez mais comum no mercado, que combina exatamente com o perfil da executiva. Mas, a princípio, ela estava convidada apenas para trabalhar na Wunderman.

 

Apesar da oferta tentadora, Cris diz ter demorado dois meses para tomar a decisão. “Quando deixei a Vivo, queria manter o meu viés de comunicação em marca, de construção de marca, sem me distanciar nem de tecnologia nem do digital.” Enquanto isso, ela falava com outras empresas. Outros convites surgiram, dois foram recusados, de acordo com ela, até que surgiu a proposta de acumular as funções na Wunderman e o cargo de band leader da Vivo. “Meu conhecimento em telecom, tanto na parte on quanto na offline, me levou a esse encontro, o que mostra que a minha relação com a Vivo é ótima.”

 

Em junho do ano passado, depois muitas glórias na Vivo, Cris se viu obrigada a deixar a companhia em meio a rumores pouco superlativos. Para ela, no entanto, esse processo está bem resolvido e finalizado. “Mexer com a reputação de um profissional é algo complicado. Não tem a ver com dinheiro, é o seu nome. Então, a minha briga foi pela minha reputação. A Vivo se manifestou, houve um desejo da empresa que esse mal-entendido, porque foi um mal-entendido, fosse resolvido. Nunca abaixei a cabeça, não parei de frequentar o mercado. Falei com várias pessoas, entre presidentes de empresa, veículos, agências, headhunters. Sempre construí muito bem a minha reputação não apenas pelo trabalho, mas pela minha abertura com as pessoas. Ninguém recusou me receber, ao contrário, e todo mundo entendeu que foi um mal-entendido.”

 

Entre a boataria que circulou nas rodinhas corporativas e nas redes sociais, a mais violenta foi que envolvia Cris em um desvio significativo de verba – R$ 27 milhões. A polêmica durou alguns meses e foi encerrada no começo deste ano, quando a Vivo divulgou anúncio isentando a ex-diretora da marca de qualquer irregularidade. A nota, assinada em conjunto pela Vivo e a própria executiva, fala que sua saída foi “amigável, sem justo motivo, com pagamento de indenização, decorrente de reestruturação na área de marketing”. Foi, como Cris diz, um enorme mal-entendido, já corrigido e encerrado.

 “Estou ótima, graças a Deus. Tenho saúde e muita vontade de trabalhar. Quando comecei na Wunderman, escrevi em uma rede social que trabalhar é uma bênção. Isso resume. Meu único instinto foi esse e é como encaro o trabalho, que é a melhor coisa que a gente pode fazer para amadurecer, aprender, ensinar, trocar e criar repertório. A Vivo é uma marca que adoro, que nunca deixei de acompanhar. Para mim, é um prazer poder trabalhar com eles e continuar fazendo um bom trabalho.”

 

 Sem camuflar sua animação com o futuro, Cris afirma estar segura com os próximos desafios. “Telecom é uma indústria que treina seus profissionais para muitas atividades. É produto, serviço e varejo.” Sobre a estrutura de que dispõe, ela ainda não sabe precisar. “São cento e poucas pessoas.” Com o pouco tempo de casa, ainda não conheceu todo mundo. Mas já sentiu que existe diferença entre a equipe que tinha na Vivo – mais sênior do ponto de vista etário, segundo ela – e a atual – majoritariamente jovem. “É outra abordagem porque há mais ansiedade para que as coisas caminhem rapidamente. Mas nem tanto ao céu nem tanto ao mar. Na minha carreira, sempre quis construir histórias de antes e depois, o que requer tempo.”

 

No mais, aposta suas fichas na Wunderman. “A agência se posiciona como multicanal, a integração do on e do off, que ainda é muito importante. Costumo dizer que é um mais o outro, que são meios convergentes e complementares. O ideal é ser multidevice porque somos multidevice”, ela dá a dica. “Estamos na TV, com o celular na mão, o tablet no colo.”

 

Só que ela sabe como ninguém que o mundo segue aceleradamente no digital e o celular já é acessório de primeira necessidade. “De todos os dados que temos, o acesso ao mobile é cada vez maior. Ainda gosto de ler no papel, mas baixei alguns livros no meu celular porque, se estou numa espera, pego meu telefone e leio. Ou seja, a espera virou produtiva, não ficamos mais sozinhos.”

 

Trajetória

Formada em administração de empresas, pós-graduada em marketing, com MBA em gestão empresarial pela Fundação Dom Cabral e post-MBA na Kellog University, Cris é testemunha viva da história do telecom no Brasil, apesar de ter iniciado a carreira em 1991, no marketing de uma empresa terceirizada de assistência 24 horas, que prestava serviços para grandes empresas como General Motors e Bradesco Seguros. Permaneceu até 1998, quando partiu para a BCP. “Ainda era uma startup de telecom. Entrei pouco tempo depois da privatização do mercado, que foi realizada um ano antes. Acho que fui a funcionária número cem da empresa, que contratou mil pessoas rapidamente e tinha uma meta muito agressiva em um mercado de demanda totalmente reprimida. Era fila para ter celular, lembra?”

 

As lembranças desse tempo são muitas – e em grande parte felizes. “Foram feitos um milhão de pedidos só para São Paulo. Quer dizer, era atender, atender e atender para suprir toda essa demanda.” Para ela, a BCP foi uma empresa avançada, com segmentação de base e metodologia moderna. Uma sofisticação para os modelos de negócios de 20 anos atrás. O fato é que a indústria de telecom se desenvolveu de forma ágil em um universo cheio de mudanças.

 

Nesse cenário, a BCP cresceu, virou Claro e Cris acompanhou de perto a mudança. Entre uma e outra empresa ficou 11 anos, tempo em que se tornou uma das maiores autoridades em comunicação e marketing. Foi ela a responsável por transformar a marca Claro mais aspiracional. Entre outras aventuras na companhia, ela esteve à frente do lançamento do 3G da marca. Aliás, muito bem-sucedido. “Era uma música do Queen, Kind of Magic, e mostrava um pouco de uma tecnologia futurista para a época”, lembra-se. Ponto para a Claro, para a equipe e, principalmente, para Cris.

 

Muito por conta desse trabalho, recebeu um chamado da concorrência. A convite de Roberto Lima, então presidente da Vivo, Cris aceitou o desafio. Primeiro, na área de CRM. Em seguida, se tornou diretora de marketing ou, como assinava no cartão de visitas, diretora de Comunicação e Imagem. “A Vivo era 50% Portugal Telecom e 50% Telefonica. Mas Roberto tinha muita autonomia e era extremamente atuante. Aliás, meu report era muito mais com ele do que com Hugo Janeba, VP de marketing e inovação.”

 

 Foram bons oito anos na Vivo, empresa que nasceu em 2003 e recebeu a executiva nove anos depois, justamente na ocasião em que a Telefonica ficou com os 100% da marca. “Foi uma ótima proposta, eu tinha uma equipe muito organizada. Os espanhóis queriam que mantivéssemos aqui no Brasil a marca Movie Star, como é chamada na América Latina. Mas, ao lado de Roberto, fizemos todo um trabalho para provar que a Vivo era top of mind. Foi uma campanha enorme, do novo posicionamento.”

 

E foi na Vivo, em 2014, que Cris levou os importantes prêmios, como Profissional de Marketing do Ano e Executiva de Marketing do Ano – Lide. No ano seguinte, ainda na companhia, recebeu o título de Woman to Watch – idealizado pela publicação norte-americana Advertising Age, a iniciativa propõe destacar mulheres que, em suas respectivas áreas de atuação, mostrem suas capacidades de liderança e criatividade. “Nunca mirei prêmios, eles sempre foram a consequência de um bom trabalho.”

 

Vida e trabalho

No caso de Cris Duclos, a vida pessoal e a vida profissional invariavelmente se misturam. Ela afirma que trabalha muitas horas por dia, dispensando uma contabilidade de horário porque se autodefine como ligada sempre. “Acordo trabalhando e vou dormir trabalhando. Tenho lazer, mas misturo um pouco. Uma profissional de coach me disse certa vez que, quando nós misturamos entretenimento e trabalho, talvez alcançamos o auge da performance. Para mim, trabalhar também é um pouco diversão porque é muito sedutor e desafiante estar nesse universo atual tão rico de informação.”

 

Telefonemas ou mensagens fora do expediente não a incomodam, garante, porque seriam atitudes normais. Além disso, Cris diz ter a capacidade de passar de um assunto mais prosaico a um de trabalho e voltar para o primeiro na maior facilidade. “Essas coisas não me tiram do sério porque fazem parte do meu dia a dia. Chego na Wunderman entre nove e dez horas da manhã e saio 20 horas, 20 e pouco.” A vida social de Cris é intensa, confessa, com muitos amigos e, melhor que isso, ela é presente na vida deles. “Não sou uma workholic o tempo todo, mas gosto muito de trabalhar.”

Aos 48 anos, a executiva é casada com Ricardo Chester, diretor de Criação da AlmapBBDO, um titã da publicidade. A união de 21 anos resultou em um menino de 14 e uma menina de 11, que ainda demandam a atenção da mãe – a caçula, diz, é a mais exigente. Por isso, à noite, depois do jantar com a família e os votos aos meninos de sonhos frutíferos com os anjos, ela volta a acessar suas fontes, que podem estar em livros, na internet, em pesquisas sobre outras marcas. Cris confessa que, enquanto os filhos ainda a requerem, prefere organizar programas de lazer em que eles possam ser inseridos. O que não dispensa (e nunca dispensou, mesmo nos momentos mais agitados de trabalho) é a ginástica. Pelo menos uma hora por dia de musculação e corrida. “Nunca parei, é importante para manter o pique e a saúde.” Nos fins de semana, costuma sair de São Paulo. Às vezes vai a praia, mas preferencialmente para o campo, e, sempre que pode, vai ao cinema.

 

Sobre Chester, seu marido, Cris diz: “É difícil ser casada com um homem criativo, mas ele me ensina muito. Chester sempre foi muito envolvido com a profissão dele. Quando ele me falava do nome das campanhas e eu trabalhava em call center, era algo muito distante. Eu fui aprendendo aos pouco. Comecei a ir para Cannes antes de começar a trabalhar para acompanhá-lo, vê-lo como jurado. Quando comecei a trabalhar, eu tinha um repertório gigante porque eu via o que o mundo todo fazia. Chester também trazia muitos trabalhos para casa. Até hoje, tenho repertório porque me lembro do que as marcas fizeram, porque estudo e olho. Mas passei a gostar desse universo a partir de um viés do Chester.” Vale lembrar aqui que Cris Duclos também representou o Brasil como jurada em premiações como Festival de Cannes, FIAP e Effie Awards, além de ter integrado o conselho do Interactive Advertising Bureau (IAB) em 2016.

 

O que garante a longevidade desse casal tão forte e poderoso no universo da comunicação? Cris dá a formula: “Nós trabalhamos muito e temos uma vida bastante independente. Respeitamos muito o espaço um do outro. Ele é superfã do meu trabalho, sou fã do trabalho dele. Brinco que, no início, eu era a mulher do Chester. Agora ele virou o marido da Cris”. Sem dúvida, Cris Duclos é uma mulher e tanto.