Acabei de receber de um grande banco, onde mantenho a conta da minha empresa, um bônus de R$ 500 para gastar no Google Adwords. E, ainda, me concedendo o direito à criação e manutenção de um website “profissional” e “dois meses gratuitos dos serviços de presença digital (…)”.

Confesso que demorei um pouco para entender. Até onde aprendi, vivenciando a coisa de dentro, sei que isso tudo custa dinheiro. Porque também custa dinheiro a quem presta o serviço. O banco está pagando a alguém para que crie, produza e entregue os “brindes” que oferece aos clientes. Esse fornecedor tem um nome: ReachLocal. E um endereço: Woodland Hills, na Califórnia, mas com escritórios comerciais espalhados pelo mundo. É uma espécie de supermercado virtual de produtos e serviços de marketing digital.

Até aí, tudo bem, é o negócio deles. O que me impressiona, no entanto, é imaginar que uma empresa especializada em marketing consiga vender seus serviços para uma outra para que essa outra bonifique seus clientes com os serviços daquela. Como assim? Quanto o banco estará pagando por esse “pacote”, que justifique repassar como “brinde” a seus correntistas?

A promoção fala que, passados os “dois meses gratuitos” e eu querendo continuar, devo aderir ao combo de serviços “ao custo mínimo de R$ 500” com pagamento exclusivo, através do cartão do banco. Um combo de serviços por R$ 500? Eu não me lembro de ter cobrado R$ 500 por uma revisão de texto. Certamente, pequenos e micronegócios do mundo inteiro devem estar demandando para que essa “indústria” de serviços online produza e entregue o que promete.

Suponho que centenas de formiguinhas estão criando websites a toque de caixa e criando campanhas de presença digital! Por aqui, se apenas as pequenas e microempresas que têm conta nesse banco resolverem aproveitar a oferta e, passados dois meses, se sentirem atraídas a continuar a relação com o mesmo fornecedor de serviços digitais, pagando R$ 500 por um combo, é de se supor que um grande número de potenciais novos clientes para as nossas agências estarão fora do mercado.

E o que é pior: estarão acreditando que esse negócio é igual a comprar refrigerante naquelas máquinas de aeroporto. E aí?

Como se sente quem precisa bancar uma equipe para oferecer um trabalho dedicado aos projetos de seus clientes? Como se sente quem perde metade do tempo e da energia buscando justificar aquilo que cobra? Como se sente quem passa a noite fazendo e refazendo orçamentos para continuar competitivo e com uma margem que permita que o seu negócio continue sobrevivendo?

O que eu teria a dizer a um cliente que me chegasse com a tal mala direta do banco, oferecendo de graça aquilo que eu cobro para fazer? Posso falar por mim, que recebi a oferta. Fiquei impressionado. E só não vou desfrutar dela em respeito ao negócio em que estou há mais de 40 anos. Em respeito ao que aprendi sobre planejar, criar e produzir. Em respeito aos meus colegas de profissão e empreendimento.

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing