Presidente do Grupo Ogilvy Brasil, Fernando Musa acredita que a propaganda precisa fazer as pessoas pensarem. “A tecnologia está mudando o mundo como um todo, mas nós, como publicitários, não podemos perder a capacidade de ser humano, de observação”, afirma ele. Em sua opinião, esse momento de transformação é propício para a publicidade, pois “você consegue observar, aprender coisas e a partir daí criar”. Nesta entrevista concedida ao PROPMARK, o executivo também fala sobre o desafio de atrair e reter talentos nas agências, das oportunidades com a tecnologia e de suas expectativas de negócios para 2018.

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CRIATIVIDADE

A gente está conseguindo colocar bons trabalhos na rua. Para mim, os trabalhos mais emblemáticos deste ano foram o case de IBM, que a gente fez para a Pinacoteca com o Watson; o VR Vacina, para Hermes Pardini, que foi muito humano, delicado, em cima do medo de tomar injeção, com o vídeo que a agência criou em realidade virtual para distrair as crianças. Tem também o Meninas Fortes, para Nescau. A agência tem de ser medida pelo trabalho que vai para a rua, pois todo o resto você não tem como mensurar. Eu acho que a gente teve um ano bom em termos de criatividade. A campanha de Forbes também foi bacana, levantando a mão para a lista de Forbes, questionando se os dez primeiros da lista fossem mulheres. Acho que também é um trabalho bem feito de craft e de pertinência com o tema. A gente tem de levantar um ponto, fazer as pessoas pensarem.

SER HUMANO

A tecnologia está mudando o mundo como um todo, mas nós, como publicitários, não podemos perder a capacidade de ser humano, de observar a reação do ser humano. Com VR Vacina, por exemplo, criamos um serviço mesmo para ajudar as crianças a ter menos medo de tomar vacina. Acho que é isso, a gente tem de treinar essa capacidade e não perder esse lado humano, essa sensibilidade de se colocar no lugar do outro.

ATRAIR TALENTOS

Acho que hoje a maior dificuldade para a nossa indústria é atrair talentos. A gente, que sempre foi muito produtivo em trazer gringos e exportar brasileiros também, vê como é difícil hoje trazer alguém para trabalhar no Brasil e como é difícil reter, porque todo mundo que tem a chance, quer sair. Esse para mim é o maior drama, porque a nossa indústria vive de gente. Claro que a redução de investimento afeta, mas isso passa, são ciclos de altos e baixos. Agora o que não passa é a nossa falta de ambição local, falta de orgulho com o Brasil. Não é só o jovem que não quer ficar no Brasil, um profissional mais maduro, com filhos, se tem uma oportunidade também está indo embora, para Portugal, Estados Unidos. Acho legal exportar, mas é legal importar talentos também. Nos últimos dez anos, o mercado brasileiro se abriu. Agora eu sinto que está se fechando. Isso não pode acontecer.

TECNOLOGIA

É bom as agências e o tipo de trabalho estar em xeque. Isso vale para a papelaria da esquina, para todo mundo, porque a tecnologia está mudando a vida das pessoas. Vivemos uma nova era, tão grande ou maior que a revolução industrial. Ao mesmo tempo, é um momento oportuno para a publicidade, mudança grande na vida das pessoas. É um momento que você consegue observar, aprender coisas e a partir daí criar. Na Ogilvy, montamos recentemente um grupo de inteligência artificial, até a partir de conhecimento que a gente adquiriu por conta do trabalho da IBM.

O QUE É TANGÍVEL

Não tem área mais (dentro da agência). Acho que em uma agência todo mundo tem de querer meter a mão em tudo. Todo mundo tem de buscar um trabalho brilhante, outstanding. Trabalhar muito para ser médio é um desgaste desnecessário. Hoje, de verdade, o que pode nos diferenciar no nosso mercado? Só o trabalho que você coloca na rua, que você faz para o seu cliente, ter história para contar. Isso que é tangível, o resto é discurso.

ZONA DE CONFORTO

Só não consegue mensurar o valor da propaganda quem não sabe por que está fazendo. Qualquer ação de comunicação tem de resolver a dor de uma marca. Por um lado, fazer comunicação hoje é mais complexo, mas por outro lado, você tem muito mais ferramentas. Hoje nós temos todas as ferramentas, toda capacidade de interação e toda possibilidade de informação também. Dá mais trabalho? Exige mais? Faz com que você saia da sua zona de conforto? É isso. Vamos parar de procurar a zona de conforto. O mundo virou uma grande zona de desconforto, porque está em transformação constante. A gente tem de abraçar esse caos e dizer: hoje é assim, amanhã pode ser diferente. Tenho de estar preparado para mudar, fazer melhor e diferente amanhã.

EXPECTATIVAS

Ainda tem muita coisa para rolar até dezembro. Acho que até o fim do ano vamos trabalhar muito, porque 2018 vai começar mais forte que este ano, claramente. No ano que vem também tem eleição, Copa do Mundo. 2018 será um ano mais concentrado. Eu acho que será melhor que este, que já foi melhor que 2016. Eu realmente espero que a gente ande para frente como país.