Alê Oliveira

Os primeiros sinais dos novos tempos brasileiros começam a aparecer, mesmo contra a vontade e consequentes críticas de uma parcela de simpatizantes do velho regime, muitos dos quais identificados com algum tipo de favorecimento recebido.

O mais importante para o governo de Michel Temer neste momento é manter e até aumentar o grau de credibilidade que a sua presidência interina despertou em mais de 70% do nosso povo.

Não é tarefa fácil, pois, além de as finanças do país estarem quebradas, reina ainda em muitos escalões oficiais uma resistência à nova ordem, que somente a muito custo será suplantada.

Seria normal esse estado de coisas se não tivéssemos pressa. Mas temos e não é pouca. Se o governo anterior perdurasse por mais dois ou três meses, o Brasil quebraria de vez e muito possivelmente de nada mais adiantaria o vice-presidente assumir e trocar o Ministério.

Quando o presidente interino da República falou no seu discurso de posse que o essencial é trabalho, muito trabalho, citando emblematicamente uma placa que vira em uma das estradas do interior paulista (e que depois foi noticiado pela imprensa tratar-se de uma iniciativa de um pequeno empresário que após a placa afixada acabou fechado o seu comércio), apenas apontou o caminho. Os dizeres da mesma sugeriam às pessoas não reclamarem da crise e trabalharem mais.

Sem dúvida, um bom exemplo para um discurso de posse no principal cargo público brasileiro, mas ao mesmo tempo ineficaz para quem já havia sofrido as consequências dos desmandos oficiais na economia do país.

Daí a pressa que todos temos em fazer com que o mercado como um todo volte à normalidade e, para isso, tendo em vista as graves circunstâncias dessa crise, devemos todos contribuir.

Os players do mercado publicitário, por exemplo, devem encontrar forças para retomar seus negócios em busca do nível de volume que havia antes de se instalar a presente situação adversa.

Vamos todos voltar o filme destes últimos dois anos para o seu ponto inicial e reescrevê-lo, mudando o enredo e aproveitando a troca dos personagens, lembrando que a propaganda é a mola propulsora do desenvolvimento.

Os anunciantes, principal força desse mercado, têm a obrigação de liderar esse movimento como já foi feito em outra época, com o ministro Delfim Netto aconselhando as empresas a reforçar suas verbas publicitárias e o povo a comprar.

Pode parecer exagero, mas deu certo. Porque naquela ocasião, muito semelhante à atual, o então novo ministro das Finanças já havia tomado as primeiras medidas para reverter o cenário, mas precisava da colaboração das empresas e dos consumidores, sem o que ficaria apenas na teoria.

Seu esforço e sua crença deram certo. É do que precisamos agora. Não falar mais em crise, acreditar que estamos fazendo o certo e, no mercado em que o PROPMARK mais atua, esperar de todos atitudes positivas.

Se assim for, os resultados veremos em pouco tempo, como, aliás, já estamos vendo os primeiros sinais de melhora.

O que passou, passou.

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O editorialista elogiou no online do meio da última semana um anúncio da mcgarrybowen, que aproveitou a onda contra o Ministério exclusivamente masculino do presidente interino Michel Temer, mostrando o inverso na agência: o presidente amarrado e amordaçado em uma cadeira giratória, ladeado por quatro mulheres livres, leves e soltas para tomar decisões em prol do desenvolvimento dos seus negócios.

Vice-presidentes e diretoras de suas respectivas áreas de atuação representavam no anúncio o necessário contraponto ao Ministério de Michel Temer, o que nos levou à lembrança de um passado recente, quando os fatos principais e controvertidos do mundo político serviam de inspiração para anúncios e até campanhas de grande impacto junto ao público.

Lembramos o leitor do online de um artigo do nosso colaborador Stalimir Vieira, publicado no impresso deste jornal, edição de 11 de abril, de título Janaína merecia um anúncio, referindo-se à atuação da advogada Janaína Paschoal no processo de impeachment da então presidente da República Dilma Rousseff.

Nesse artigo, Stalimir Vieira lamentava exatamente o abandono pela criação publicitária não só dos fatos da política, como também do cotidiano em geral.

Foi aí que recebemos de Gustavo Bastos, da agência 11:21, do Rio de Janeiro, e-mail reclamando a injustiça que fizemos nesse texto do nosso online com a sua agência, criadora de inúmeros e recentes anúncios e campanhas de oportunidades, inclusive com algumas peças veiculadas neste jornal.

Sempre bem-humorado, Bastos lembra os vários anúncios feitos para a cerveja Rio Carioca abordando o contexto político do país. Alguns títulos: Combina com coxinha e mortadela, É tudo lúpulo do mesmo saco, Não vai ter gole e outros mais.

Temos de admitir a verdade da presença constante da 11:21 nesse quesito criativo, lamentando porém que seja uma exceção à regra geral, que evita os temas mais populares do momento.

Talvez por falta de apoio dos anunciantes, talvez por quererem nossos criativos trilhar novos caminhos criativos e talvez até mesmo por trabalharem tanto e em boa parte do tempo isolados do mundo exterior, deixando com isso de perceber e registrar a riqueza do nosso cotidiano.

De qualquer forma, está aberto o debate. É um bom tema para discussão.

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A inegável força do PROPMARK junto ao mercado está mais uma vez demonstrada em uma edição comemorativa como esta, com 164 páginas e repleta de conteúdo editorial e de anúncios das mais diversas pessoas jurídicas do trade.

A todos, os nossos agradecimentos pelo indispensável apoio, na certeza de que o compromisso com a verdade, que abraçamos desde as primeiras linhas do embrião deste jornal, no já longínquo 21 de maio de 1965, será por nós sempre respeitado.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda