Alê Oliveira

1. Como nos antigos filmes do faroeste americano, quando os defensores da lei e os transgressores sacavam suas armas e ordenavam mãos ao alto ao seu contraponto humano, tornou-se corriqueiro no Brasil o gesto das mãos erguidas, não para se render, mas para o estabelecimento de qualquer tipo de diálogo cujo teor é confidencial.

Mãos à boca, diríamos melhor, em qualquer conversa que terceiros não podem ouvir e nem sequer fazer leitura labial.

Os jornais da última sexta (4) estamparam foto do presidente da Câmara Federal conversando com Paulinho da Força Sindical, ambos de braços erguidos e mãos à boca. O que estariam dizendo um ao outro?

Nos jogos de futebol, a tevê com frequência flagra imagens de árbitros e auxiliares conversando desse jeito entre si, após um lance mais agudo do jogo.

Até nas ruas a moda pegou, quando o que se fala é de natureza considerada particular ou comprometedora.

Com as mãos ao alto, o Brasil ansiosamente aguarda que novas e esclarecidas lideranças ocupem o espaço dos velhos cowboys do mal, para que ao menos a esperança volte a ocupar seu espaço na vida nacional.

Este Sete de Setembro, sempre festejado pelo seu significado histórico, deve levar às ruas, como nos tempos finais do governo Collor, brasileiros vestidos de verde-e-amarelo e brasileiros vestidos de preto.

Curiosamente, os sinais são os mesmos: com as cores da bandeira nacional os defensores do governo e de preto aqueles que já não aguentam tanto descalabro.

E, também curiosamente, os grupos estão invertidos: uma parte dos que saíram de preto forçando a deposição de Collor estará usando verde-e-amarelo, enquanto que uma parte dos que saíram vestindo verde-e-amarelo naquela época – e foi pouquíssima gente – hoje em grande número deve usar roupas pretas.

Há um clima de provocação no ar que deve ser evitado pelos brasileiros de bom senso. O acirramento do debate político não pode ultrapassar esse limite, sob pena dos bons perderem para os maus, como o registro da História costuma revelar.

2. Laura Carvalho, professora do Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for Social Research (NYC), defende em artigo na Folha (4/9) a tese de que o governo deveria se endividar para salvar empregos e superar a crise.

Embora pareça difícil ao nosso atual governo escolher essa trajetória, porque é mais fácil e de efeitos mais rápidos para seus cofres a criação de novos tributos e o aumento dos já existentes, pouco se importando se a população de todos os níveis sociais já não suporta mais a carga tributária que lhe é imposta e se iguala às mais escorchantes do planeta, não deixa de ser uma solução a se pensar.

Afinal, que diferença faz para o Estado fechar suas contas, se o país caminha para a falência da sua economia em todos os níveis e segmentos?

A tese da professora Laura Carvalho merece reflexão por parte das autoridades econômicas que só pensam naquilo. Parece óbvio, a qualquer cidadão minimamente informado, que a revitalização dos diversos segmentos econômicos, mesmo comprometendo o erário no curto prazo, redundará em benefícios para todos, ainda que possivelmente em prazo um pouco mais dilatado.

Há que se considerar nesse raciocínio que o Estado é uma figura de ficção, enquanto os 202 milhões de habitantes do país são seres vivos, pessoas que precisam no mínimo comer, beber (água) e dormir (de forma razoável) para ter uma vida minimamente digna.

3. O Brasil deve repensar suas embalagens da maioria dos produtos. Certa feita, indagado pelo propmark sobre o porquê na sua opinião as nossas embalagens são em sua maioria tecnicamente mal feitas, sendo um dos seus grandes problemas abri-las, nosso entrevistado saiu-se com esta: “Elas são feitas para fechar e não para abrir”.

Tirando o caráter jocoso da resposta, não deixa de ser uma possível verdade: será que os técnicos que formulam as embalagens dos produtos atingem nos seus cálculos apenas a necessidade de fechá-los, sendo o passo seguinte a ser dado pelo consumidor um ato esquecido pela engenharia de embalagens?

Se o leitor ainda não teve nenhum problema em abrir embalagens no seu cotidiano, considere-se um felizardo.

4. A campanha da Seara foi considerada pelo Instituto Datafolha como a de maior impacto em lembrança de marca, obtendo também o primeiro lugar no quesito preferência em propaganda de TV.

Deve servir de exemplo para o mercado anunciante, uma vez que a Seara – com o bom trabalho da sua agência WMcCann – não só não diminuiu o ritmo da campanha mesmo agravando-se a crise econômica do país, como fez questão de preservar o mote do apelo criativo da mesma.

Como se dizia ontem, se diz hoje e sempre se dirá, propaganda funciona. E a boa propaganda, mais ainda.

5. A preocupação com o futuro da mídia – em especial da TV aberta – que muitas matérias e ensaios jornalísticos vêm mostrando ultimamente, precisa considerar para o seu alívio e ainda mais em se tratando do mercado brasileiro, que a TV no seu todo prossegue detentora de mais da metade do bolo publicitário (investimentos) nacional.

Além disso, trata-se da mídia que mais tem inovado no seu conteúdo, mesmo nos espaços dedicados à programação de maior audiência.

É inegável a preocupação da TV em investir na melhoria e modificação do que apresenta ao público, procurando preservar dessa forma a sua liderança dentre todas as mídias.

O anunciante agradece.

*Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing