Armando Ferrentini1. Em recessão devido à crise econômica e política que o país atravessa, o mercado publicitário brasileiro começou a respirar melhor nos últimos dias.

Uma das causas pode ser atribuída ao bom desempenho – uma vez mais – do Brasil em Cannes, sempre motivo de lembrança da importância da atividade publicitária.

Como a cada versão do festival comparecem mais anunciantes, o que é visto no Cannes Lions estimula-os a usar o ferramental da comunicação, com a vantagem de perceberem e saberem distinguir o criativo do criativoso.

Outra causa – e esta ainda mais significativa – reside nos ainda pequenos, mas estimulantes, sinais de contenção da crise econômica (embora a política promete ainda ferver).

Se a propaganda, como se costuma dizer no mercado, é a primeira a ser cortada nas crises, o reverso também ocorre: ela é a primeira à qual se recorre quando o mau tempo amaina.

É bem verdade que, para muitos pessimistas, a crise vai atravessar o ano todo, com alguns deles prevendo que este segundo semestre já iniciado será ainda pior. Nesse sentido, os mais exagerados deles levam a duração das dificuldades até 2017.

A verdade é que previsões são fáceis de se fazer, principalmente as negativas, porque, se não se confirmarem, será um alívio para todos e ninguém irá reclamar dos seus profetas.

Mas os fatos, que costumam se sobrepor às previsões, começam a confirmar aquela velha teoria da nossa história econômica, que sempre lembra que o Brasil, em qualquer circunstância e época, é sempre maior que a crise.

Não deixa de ser verdade para quem já acompanhou muitas delas, e hoje a probabilidade de curta duração é ainda maior, porque duzentos e dois milhões de pessoas não podem ficar paradas muito tempo aguardando esses dois impostores chamados sorte e azar.

O que já se vislumbra de melhora é resultado puro e simples da reação de todos diante do naufrágio a que fomos submetidos: nadar e aprender a nadar, para quem não sabia, em direção à terra firme.

Significa, em poucas palavras, trabalhar mais e com mais afinco, gastar menos ajustando cada qual seus orçamentos diante da nova realidade e prosseguir vivendo, já que a vida não se repete.

2. Lamentável o comportamento de empresas gigantes como a PepsiCo, a Nestlé e a Unilever, as quais, segundo o online do propmark, podem ser multadas no Brasil em mais de R$ 7,9 milhões caso condenadas em processos abertos contra elas pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacom).

São acusadas de redução quantitativa de diversos produtos que fabricam, sem a devida informação ao consumidor, o que na prática é conhecido como maquiagem.

Segundo o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, em um primeiro momento foi verificado que os produtos com peso inferior tinham as dimensões da embalagem maiores do que a original, a despeito da redução da quantidade.

Em seguida, após a fiscalização, algumas empresas passaram a manter o tamanho das embalagens, com redução da gramatura das mesmas, também sem qualquer informação aos consumidores.

E o que agora se verifica é que a informação sobre o novo peso até existe, mas a redução do produto não é transmitida de maneira clara e ostensiva ao consumidor, como determina o Código de Defesa do Consumidor.

As empresas acima citadas, com exceção da PepsiCo, ainda não notificada oficialmente, já se pronunciaram, sem todavia e em nossa opinião convencer.

3. O Ministério Público do Trabalho deu início a uma campanha contra o assédio moral no trabalho, lembrando que se trata de um abuso que prejudica não só o trabalhador.

O copy do anúncio impresso lembra que “quando o seu chefe humilha, ameaça ou hostiliza você, muita gente sofre. Você fica deprimido, desanimado e até agressivo. E isso se reflete na sua família. Prejudica a sua vida e a vida de quem você mais ama. E só existe uma maneira de evitar o assédio moral. Você precisa reagir. Exigir respeito. Se você passa por isso, denuncie. Sua família agradece. Assédio moral é coisa séria”.

Em outro momento do país, a campanha mereceria elogios. Mas, na crise moral em que determinadas autoridades da República provocaram no governo, com a chefe de Estado obtendo míseros 9% de aprovação na sua função, a campanha pode sugerir querer tapar o sol com a peneira, como diziam nossas avós.

Além de dar a impressão de um objetivo condenável: jogar, nas costas da iniciativa privada, o peso de um comportamento reprovável que todo o país abomina. E que presentemente não é restrito ao relacionamento empresários/chefes/subordinados.

4. Aumentos: Eletropaulo, 17% a mais nas suas tarifas a partir deste sábado (4), vitimando ainda mais o já combalido bolso do consumidor. Pedágio nas estradas paulistas: aumento no início das férias escolares, quando parte significativa da população viaja mais pelas rodovias. Falta de consideração e excesso de desprezo ao usuário.

5. Pêsames: à família de Ricardo Alonso, diretor do Cenp, morto prematuramente na madrugada da última quinta-feira (2). Ricardo foi filho do saudoso Geraldo Alonso, fundador da extinta Norton e um dos principais líderes da publicidade brasileira. Era também irmão de Geraldo Alonso Filho, que dirige o Instituto Cultural da ESPM e que comandou a Norton após o falecimento do pai.

* Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing