Alê Oliveira

1. A comemoração da distância de exatamente um ano para a largada dos Jogos Olímpicos no Brasil traz para a comunicação do marketing um alento de retomada que não pode ser desprezado.

Tanto quanto a Copa do Mundo da FIFA, a Olimpíada galvaniza o interesse dos grandes anunciantes, que a ela se juntam para aproveitar a atenção do planeta voltada para suas disputas.

Os Jogos Olímpicos são ainda mais importantes, pela sua larga história que se iniciou na Grécia Antiga, pela diversidade dos esportes que compõem o mosaico olímpico e pelo grande número de países que nele são representados por seus atletas.

Nestes últimos dias que envolveram a simbólica distância de apenas um ano para o início da grande competição mundial em nosso país, sentimos a força da propaganda de patrocinadores já atrelados ao megaevento e o que ocorrerá nesse curto período de apenas 12 meses que nos separam do mesmo.

Embora algumas previsões estejam dando como certa a retomada da economia somente entre o segundo semestre de 2017 e o início de 2018, na atividade publicitária o que antigamente chamávamos de reversão de expectativas já vem lentamente ocorrendo, e os Jogos Olímpicos muito contribuirão daqui para frente, e até o seu dia final, para que ao menos nesse importante segmento da economia, que é a comunicação, essa retomada seja antecipada.

2. Se a Olimpíada é um grande fato em si mesma, outro fator de adiantamento da recuperação do nosso processo econômico pode ser a ocorrência de uma significativa mudança na condução político-administrativa do país.

A saída da presidente Dilma Rousseff do comando do Executivo nacional, sem rupturas jurídicas, pode significar a antecipação desse longo tempo de espera que alguns experts em Economia preveem para somente dentro de dois anos.

A verdade é que a grande maioria da população, tanto de trabalhadores, como do empresariado, começa a se exaurir e a dar sinais de esgotamento diante da falta de perspectivas a curto e médio prazos que paira sobre todos.

Além do mais, há o fator credibilidade, importante para qualquer comando que se proponha a modificar determinado cenário, ainda mais quando este foi produzido pelo mesmo comando.

Nesse particular, as últimas pesquisas de opinião pública, com destaque para o Datafolha, são estarrecedoras no tocante à aprovação do governo de Dilma Rousseff. Apenas 8% ainda nela confiam, o que se traduz no pior índice alcançado por um presidente da República desde o fim do período militar.

A solução institucional pode residir em Michel Temer, vice de Dilma e seu sucessor natural em caso de impedimento da titular. Há quem fale em novas eleições, o que seria por demais oneroso para o país, não só pelos investimentos necessários a isso, como também pelo tempo a ser transcorrido até a posse dos eleitos.

O país não aguentaria passar incólume por todo esse longo período, que traria novamente uma campanha política igual ou ainda pior que a do ano passado, quando Dilma Rousseff foi reeleita, dizem os seus (hoje poucos) simpatizantes, de forma legítima, contrapondo-se ao outro lado que nela não votou e que tem sido engrossado nos últimos tempos por descontentes e desconfiados.

Michel Temer é um político tarimbado, foi professor universitário, tem trânsito livre nos mais diversos segmentos da população, com destaque para o político, onde é respeitado por correligionários e adversários, dada a sua habitual serenidade e capacidade para somar opiniões.

Se o Brasil tiver sorte, e isso apesar dos pesares não nos falta, poderemos repetir o surpreendente Itamar Franco, que, no vácuo deixado pelo impeachment de Collor de Mello (cujo duro golpe, vemos agora, não lhe serviu de lição), soube se conduzir de forma segura e pacificadora até o final restante do mandato, brindando o país com o início do melhor plano econômico desde 1500, que elegeu seu ministro da Fazenda como seu sucessor (FHC).

3. Nos anos 60, também conturbados em nosso país por crises institucionais, um exemplo de arrojo e criatividade de uma jovem agência através de um anúncio publicado nos principais títulos da mídia impressa brasileira, sob o título “Oh! Que delícia de crise”.

O texto foi o que segue (recordar é viver): “Quem teria a coragem de abrir uma nova agência de propaganda justamente numa época em que só se falava em crise, crise, crise?

Nós tivemos e não nos arrependemos. Até pelo contrário. Graças à crise, pudemos provar muitas coisas. Nascemos mais ou menos no mesmo momento e talvez por isso sempre nos entendemos bem. A crise foi para nós o grande desafio, um motivo a mais para trabalharmos. Enquanto muitos se lamentavam e maldiziam a situação, sentíamo-nos estimulados. Ora, fazer anúncios e promoções quando os consumidores estavam em euforia compradora, não tinha graça. Principalmente porque a aferição de eficiência do trabalho de comunicação era quase impossível: comprava-se tudo, com anúncio, sem anúncio e até mesmo a despeito de anúncios.

O novo clima impôs novas regras. As providências tradicionais ficaram logo superadas. A pouca idade de nossa agência deu-lhe a necessária maleabilidade para ajustar-se de imediato às contingências. Tivemos que buscar novos caminhos, partir em novas direções, um bom exercício mental que nos trouxe valiosíssimas experiências.

Propaganda é investimento. Tem que valer o seu custo. O anunciante, agora, aprendeu a exigir da agência os serviços que lhe são devidos. E precisa exigi-los. Precisa saber quando há uma falha ou muitas falhas. E também contribuir para corrigi-las. Anunciante e agência, por filosofia ou questão de sobrevivência, têm que ser intolerantes com a mediocridade. Tudo isso é a lição boa da crise.

Foi a lição que aprendemos no justo instante em que nossa agência apareceu, lição que diariamente recordamos e atualizamos. Achamos que por isso tivemos êxito. Estamos crescendo como também estão crescendo os nossos clientes. E a crise? (a) Mauro Salles Publicidade”.

*Diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing