A jornalista Mônica Salgado fará sua estreia em júris de festivais no Cannes Lions, na recém-criada área Social & Influencer. Brinca que só participou de júris do Miss Brasil. Para ela, o convite para o Cannes Lions é um verdadeiro Oscar, que reconhece o trabalho de uma profissional que abraçou o universo das redes sociais muito antes da maioria, enfrentando toda sorte de dificuldades e narizes torcidos nos tempos em que liderava uma revista impressa. Mônica aprendeu na prática e acredita que sua experiência de desbravadora vai contribuir bastante no júri. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Divulgação

Surpresa e orgulho
Recebi o convite com surpresa e orgulho. Sou jornalista de formação e atuei 20 anos na imprensa escrita. Criei-me e estudei para isso. Cheguei onde eu queria: dirigi uma revista e, mais do que isso, ajudei a construir a versão nacional, cheia de personalidade, de um título bem-sucedido mundialmente. Na Glamour, minha relação com redes sociais foi intensa: nascemos logo depois do Instagram e abraçamos esse universo. Elementar: as estrelas nascentes das redes sociais à época conquistaram uma conexão com suas leitoras/seguidoras que as revistas começavam a perder em níveis preocupantes. Surfar nessa onda e trazer essa galera para revista, além de manter a relevância do meu veículo, foram minhas obsessões. Então, diante desse histórico do qual me orgulho, o convite foi meu Oscar!

Prática
Vejo um mercado desbravando essa realidade à medida que ela acontece. É tudo muito novo, desafiador e veloz. Sinto que o mercado carece de profissionais que realmente entendam o mundo dos influenciadores. Na teoria e na prática. Levo para o festival um histórico de quem foi testemunha ocular e ativa dessa revolução. Tenho a prática e venho estudando a teoria. Meu conhecimento é empírico, intuitivo e baseado no que testemunhei e vivi na pele. Minha visão é vida real. Não respondo por uma agência ou um cliente/marca.

Credibilidade
Seleciono bem meus jobs para não perder meu principal asset: a credibilidade. Então, minhas atividades profissionais hoje são variadas e um tanto difíceis de definir. Tenho o quadro no Vídeo Show, faço palestras no Brasil todo, presto consultoria, gero conteúdo para marcas, medio talks, faço mestres de cerimônia e licencio produtos com a minha marca. Quero ser influente, influenciadora, veículo e marca.

Marcas
Cada caso é um caso. Faço palestras em shoppings para público final. Faço palestras para franqueados e representantes de marcas tradicionais que precisam introjetar a importância das redes sociais em seus negócios. Falo em eventos como o Vtex Day, para citar o mais recente, abordando os influenciadores da moda desde o século 17 até os dias de hoje.Enfim, como as redes sociais mudaram a moda e o mundo (e como fazer isso trabalhar pelo seu negócio) é um assunto que me fascina.

Mercado editorial fashion
Difícil convencer leitores a pagar por um conteúdo que eles encontram de graça online. Levam vantagem os títulos premium, que funcionarão cada vez mais como coffee table books, obras caprichadas e bem acabadas, com ensaios e análises especiais, que não se encontram na internet. A força da marca faz muita diferença aí. É um endosso de um material confiável. Lá fora, há títulos como a Teen Vogue e a Glamour UK, que reduziram suas edições impressas a duas por ano. Há os títulos que amo (Tatler inglesa, adoro a Poder, a Vogue inglesa também adoro…), mas que não necessariamente são cases de renovação. São irreverentes, não se levam a sério. Tenho muita aflição de títulos esnobes que se levam a sério demais. A leitora não tolera mais isso. E ela quer sonhar, mas também se identificar. As revistas de moda fizeram parte, por muito tempo, de uma elite de moda que dizia o que era moda e o que não era. As editoras se mantinham ali em seu tronos, impondo visões e construindo ou destruindo reputações. Hoje, esse conhecimento fashion não é mais privilégio de um ou outro. Esse conhecimento é de todos nós. Não acho que as revistas superaram isso de vez. Vivem de branded content e eventos. Isso as deixa vulneráveis, muito dependentes do comercial. É o fim deste mercado como nós o conhecemos. É entender isso ou morrer.

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