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Capa de Exame, edição 1108, Fernando (Unilever), Fabian (Dow), Duda (J&J) e Bernardo (Ambev). Todos chegaram lá. Entraram trainees e hoje são presidentes. Who cares? Quem os inveja? “Se para chegar lá for preciso tudo isso, tô fora”.

Essas empresas e outras centenas dançam numa espécie de Baile da Ilha Fiscal. A última grande festa da monarquia antes da Proclamação da República Brasileira. Empresas de um mundo bolorento e carcomido; empresas despedindo-se, de um execrável mundo velho.

Onde se flexionava sarcástica, burra e odiosamente expressões como “reter talentos”, “ofertar cenouras”, “estalar chicotes”. Onde erros e merdas eram festejados com tomatadas. Onde o bullying funcional era o padrão corporativo. Onde executivos ficavam de castigo e de costas para a parede.

A suposição é que depois da crise estrutural, do lado de lá da crise, continuará existindo o execrável mundo velho. E a revista afirma isso com todas as letras, saudando algumas empresas que continuam apostando no lamentável “fazer carreira” e alimentando a ignorância de pais e familiares que vibram quando seus filhos ingressam como trainees nessas empresas.

“Um levantamento exclusivo aponta as empresas brasileiras que mais formam os próprios executivos (coitadas!). Continuam a investir na formação de pessoas mesmo na turbulência – e dizem que isso será fundamental para sair à frente dos rivais”. Errado!

Com nos ensinou Gertrude Stein, “Não existe lá mais ali”. O outro lado não tem mais nada a ver com o lado original. É absolutamente novo e diferente. E as empresas descobrirão no amanhecer de um novo dia que pegaram o caminho errado, que trafegaram na contramão e desembocarão no mesmo lugar de onde partiram, no passado. No execrável mundo velho.

Fernando, Fabian, Duda e Bernardo, com certeza profissionais da melhor qualidade e seres humanos queridos e admirados pelos seus liderados – por isso sobreviveram –, fazem parte de uma geração ensanduichada. São os growing up digital, precedidos pelos babyboomers, sucedidos pelos grown up digital e milênios. São os 40 de meu artigo aqui publicado no início deste ano, 20, 40, 60. Recomendo a leitura para uma melhor compreensão e entendimento.

Nesse artigo, num dos parágrafos, explico: “Os de 40 sofrem. Educados pelos que hoje têm 60, seguiram à risca a educação e os exemplos que receberam, sentem-se na obrigação de dar a seus filhos o mesmo ou mais que receberam dos pais, não se conformam com as facilidades, folgas e descontração dos de 20. Procuram enquadrar-se, de forma constrangedora e desajeitada, na idade que têm em função do quando nasceram, assim como sonham em voltar para os 20 e, quando tentam fazer, o resultado é mais constrangedor e trágico…”.

Fernando, Fabian, Duda e Bernardo são lideranças jovens envelhecidas. Pior ainda, lendo-se a matéria toda, descobrem que tudo o que a revista quis deles foi que pousassem para a foto, que ilustrassem a matéria. Vestidos de forma elegante e clássica.

A reportagem toda é abastecida pelas empresas de seleção de executivos do execrável velho mundo. Repetem, 50 anos depois, os mesmos chavões, as mesmas insossas, insipidas e inodoras receitas. Quer envergonhar-se? “As empresas mais capazes de formar gente dentro de casa têm arraigados mecanismos de formação de profissionais, os quais continuam a existir com ou sem crise…” ou “precisamos de gente boa para continuar a crescer…” ou “alocação dinâmica de recursos…” ou “Os riscos de errar aumentam muito e é preciso que os profissionais tenham com quem dividir os problemas sem medo…”.

Do lado de lá, o que existe é um Admirável Mundo Novo. Onde pessoas se engajam a causas e permanecem, enquanto a causa preservar-se viva, relevante, inspiradora. Treinamento e capacitação e atualização serão inerentes ao processo, inserem-se na rotina dos trabalhos que de rotina não têm nada. Preservam suas individualidades. Não são, estão. E, enquanto estiverem apaixonadas e acreditando, ficam, contribuem e excedem. Desencantadas, partem no fim da tarde. Quem sabe mesmo, antes do almoço. Para nunca mais voltar.

Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing