Todos procuram preservar as aparências. Até onde suportam. Nos primeiros meses muitos chegam a afirmar: “essa crise eu tiro de letra”. Outros, por razões que até a razão desconhece, vão mais adiante e, mesmo antes de enfrentar, dizem: “já superamos a crise…”. Dias, semanas e meses passam, a situação se agrava, as primeiras vítimas não resistem e vão tombando pelo caminho. Sensações de desânimo, de perda de rumo, tonturas, raciocínio embaralhado e, mais cedo ou mais tarde, acabam recorrendo aos socorros e orientação médica.

E, assim, se passaram três anos, desde as primeiras manifestações até agora. O que ocorreu de verdade? Onde se encontra a fotografia da dimensão da crise? Nos remédios. Nos antidepressivos, especialmente, e também nos ansiolíticos. Segundo a “mãe dos burros”, a Wikipédia, são fármacos eficazes para tratar transtornos depressivos… Transtornos de ansiedade, distúrbios de sono e outros problemas de saúde.

No ano em que a crise finca sua marca, 2015, vendeu-se 5,4 milhões de unidades de antidepressivos no primeiro semestre. Em 2016, 5,2 milhões, e, em 2017, 5,4 milhões – tudo no primeiro semestre, de janeiro a junho desses anos. Primeira reação. Praticamente nenhum acréscimo, se a foto é essa a crise não foi tão grande assim. Calma. Estou me referindo aos antidepressivos referências, os de marca. Agora, vamos consultar nos genéricos: 11,6 milhões de unidades no primeiro semestre de 2015; 13,6 milhões, em 2016; e 16,5 milhões no primeiro semestre de 2017 (últimos dados disponíveis). É essa a verdadeira fotografia.

A partir do segundo semestre, a crise foi arrefecendo e já se sente no ar, neste início de 2018, uma suave brisa de recuperação. Parcela expressiva dos que mergulharam de cabeça na depressão em função da crise e nos últimos três anos, conseguirão superar e voltar a uma situação de normalidade. Outros tantos, no entanto, carregarão consigo e para sempre o hábito de medicar-se com regularidade. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a depressão afeta hoje 4,4% da população mundial. No Brasil, a taxa é de 5,8%. Mas onde os brasileiros são campeões absolutos é nas taxas de ansiedade: 9,3% da população, em menor ou maior intensidade, é ansiosa! Não é à toa, portanto, que os principais fundos e gestores de investimentos continuam de olho no negócio de farmácias em nosso país. O crescimento e a prosperidade, nos anos da crise que agora começa a se dissipar foi, simplesmente, espetacular.

Segundo dados divulgados pela Abrafarma – associação que reúne as principais (52) redes varejistas de medicamento em nosso país –, poucas vezes, em toda a história do negócio de farmácias, registrou-se crescimento tão consistente e expressivo como o dos anos da crise – 2015 a 2017. O faturamento das chamadas grandes redes saltou nesse período de três anos de R$ 34 para R$ 43 bilhões. O número de farmácias dessas redes foi de 5.274 para 7.083. A quantidade de empregados, de 100 mil para 118 mil.

Segundo os dirigentes do negócio de farmácias, além de uma procura maior por antidepressivos e ansiolíticos, as mudanças procedidas no mix de produtos das farmácias, principalmente nas metrópoles e grandes centros urbanos, fez e continua fazendo com que as pessoas deixem de comprar produtos de beleza e cosméticos em supermercados, e transfiram essas compras para as farmácias. Até no tocante a bebidas e alimentos específicos, as farmácias começam a roubar vendas dos supermercados. E, ainda, a grande revolução nas farmácias, enquanto ponto de saúde, mais do que de venda de remédios, em curso, não começou. Mas, está a caminho…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)