Se é que há algo de bom na crise é o seu efeito didático e acelerador de decisões. Em tempos de bonança, nos damos ao “luxo” de deixar para depois importantes medidas que poderiam garantir maior eficácia na gestão dos nossos negócios ou mesmo da nossa vida pessoal. Historicamente, aconteceu isso no universo das agências de propaganda.

Sob pretexto de atuar numa indústria criativa, a agência, de uma maneira geral, negligenciou sua gestão. Sistemas de gestão e de controles eram vistos como “engessadores” do processo criativo. Parecíamos viver num mundo à parte, cheio de glamour e de informalidade.

A chegada dos grandes grupos internacionais e a crise econômica, porém, vêm forçando uma mudança de postura por parte das agências de propaganda.

O processo das crises é Darwiniano. Entrarão em extinção aqueles que não souberem se adaptar a esses tempos que vieram para ficar. Sobreviverão e sairão mais fortes aqueles que souberem se adaptar aos tempos bicudos. E a adaptação, não importa o setor de atuação, está intrinsecamente atrelada, entre outras coisas, a uma atenção especial à gestão de negócios.

Não se perdoam mais desperdício de recursos, alocações inadequadas e o descontrole de receitas e despesas, de forma geral.

Por mais que fique clara essa necessidade de maior foco à gestão, ainda notamos um mercado resistente a essa questão. Em pesquisa recente, realizada pela Agência Sys, uma empresa provedora de serviços nessa área, vemos que 72% dos diretores das agências declaram dedicar pouco tempo à gestão do próprio negócio.

E mais da metade declara um baixo (ou nenhum) gerenciamento de estratégias para retenção de clientes.

Essa mesma pesquisa mostra que 27% dos respondentes declaram que não conseguem mensurar o retorno financeiro de cada conta. Esses dados demonstram com clareza a necessidade de uma mudança de postura por parte dos empresários do negócio agência de propaganda.
Além da gestão administrativo-financeira, há ainda outras formas de gestão igualmente importantes. Recentemente, fui convidado a mediar um painel com CEO de agências de propaganda em evento dedicado especificamente à Gestão de Projetos de Agências de Propaganda, organizado com competência pela Mestre GP.

Fiquei impressionado com o nível de debate em torno do tema e como algumas agências já incorporam a disciplina às suas atividades, atraindo profissionais especializados.

E, finalmente, há outra faceta de gestão que demandará atenção crescente por parte das agências. Refiro-me à Gestão de Conteúdo.

A sua agência tem total controle de todos os textos, imagens, vídeos e demais componentes de conteúdo desenvolvidos para seus clientes? Entenda controle por ter total gerenciamento das peças de conteúdo por tipo, por uso, por prazo de validade de licença de uso…

Nesses novos tempos, aumentou abruptamente a quantidade de peças de conteúdo geradas para cada cliente.

Será que a foto 25, usada na última promoção, ainda está válida? Será que o vídeo postado em redes sociais no mês passado serve para a apresentação que estamos preparando para a convenção?

As agências tendem a ganhar características de publishers e, como tal, precisam de um suporte para um bom CMS (Content Management System). São novos termos que as agências devem incorporar ao seu glossário.

Recentemente, conheci um provedor de software específico para gerenciamento de conteúdo (WoodWing). Depois de uma breve apresentação, ficou clara para mim a importância desse tipo de gestão para agências provedoras de serviços mais abrangentes para seus clientes.

Por isso tudo, estou convencido de que há duas palavras mágicas para as agências em 2017: flexibilidade (para poder adaptar-se rapidamente às demandas fluidas dos nossos tempos) e gestão (para ter total controle do seu negócio).

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (alexis@fenapro.org.br)