Você começa a se perguntar e num instante já está imerso em conceitos facilmente misturáveis: intuição, criatividade, conexão milagrosa, epifania? Você pode se sentir profundamente inspirado, verdadeiramente impelido a alguma forma de criação e, por um ou dez motivos, isso não se realizar. Então, acho que a criatividade, no sentido de conceber e prototipar, é um passo esperado por quem se sente inspirado, porém não está umbilicalmente ligado à inspiração.

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Dizem que o que te inspira tem a ver com o que você previamente já conhece do mundo. Sejam essas coisas reais ou imaginárias. Eu tendo a concordar com essa levada. Porque minha inspiração vem sempre de uma coisa que eu quero conhecer mais, que eu discordo, que eu queria gritar para o mundo e ouvir o que as outras mentes pensam.

Nunca pensei que diria isso, mas os maiores inspiradores da minha atual carreira de palestrante foram os clientes de minha consultoria 5 Years From Now. Um porque me desafiou, outro porque me provocou, outro porque levantou a minha bola. Meu primeiro tema de palestra se encaixa neste último caso: As Cinco Gerações no Mercado de Trabalho é a que eu mais ministrei até hoje. Tem sete anos! Ícaro Verniz foi taxativo: “Nunca ouvi ninguém falar de gerações como você fala. Você tem que montar uma palestra sobre isso!”

O que me desafiou a criar o tema da inovação foi bem complicado. Silvana Torres não me inspirou de imediato. Mas, quanto mais pensava, mais aquilo me incomodava. Até que um dia, aquela coisa: a tal conexão, um siricutico dentro de você, um desconforto confortável. Um ímpeto. Uma coragem. Uma energia súbita. Um toque. Não vou parar até chegar ao fim disso. E nasceu a palestra Inovar ou Morrer. Dos meus temas, o segundo mais pedido.

A provocação veio da Endeavor. Que meninos e meninas mais adoráveis! Oliver Alexander e Felipe Braga queriam que eu falasse do Futuro Conectado para empresários, no formato TED. Estamos falando do início de 2011. Uma palestra de 29 minutos era muito ousada! Ontem fiz uma de quatro minutos. Exponencialidade!

Se as minhas palestras surgiram da inspiração de fora, meus artigos, minhas viagens e vídeos seguem a mesma toada. Em termos de inspiração própria eu sou bem medíocre. Se não fossem pelos amigos, clientes, fotos, filmes e pelas notícias, eu ficaria sentada no pudim.

Quando eu era pequena, meu apelido era manteiga derretida, porque eu chorava fácil. Em se tratando de falar com autoridades – diretoras de escola, pais etc. – sempre fui a spokeswoman. Mas nos sentimentos, buá! Por isso, acho que os filmes e as fotos têm grande efeito sobre mim até hoje. Continuam a me inspirar e são meus instrumentos para inspirar outros.

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Acho que não falei o mais importante. Normal, né? A gente fala, fala e esquece do principal. Ciente do que te inspira, cuide de levar uma vida rica de elementos, sinais, sons, cheiros, frios na espinha, luzes enigmáticas, cores triunfantes, abraços sensuais, banhos de cachoeira (tô precisando de um), poetas russos, balés pina bauscheanos, Amys e todos motivos do Tim-Maia-Me-Dê-Motivo.

E hoje, indo ao supermercado, encontro Evandro, poeta amigo, que diante da lama que nos atinge disparou em pleno ponto de ônibus: “Deus… que diabo é você?”. E me levou a pensar no escritor mais amado de meus pais, Machado: “O acaso… é um Deus e um diabo ao mesmo tempo.”