Nesta segunda-feira (9) comemoram-se os dez anos de lançamento do iPhone, primeiro smartphone da Apple. O que se celebra, no entanto, com a entrada da Apple no segmento dos telefones inteligentes (que àquela altura ainda estava engatinhando), é uma verdadeira revolução na economia moderna iniciada na palma da mão. A Apple lançou mais que um smartphone: criou um objeto de desejo para a maioria da humanidade, que ajudou a transformar muitas indústrias: a de software, a da música, a da publicidade. E ampliou para patamares antes inimagináveis o poder de comunicação entre as pessoas. Existe um mundo antes e outro depois do iPhone da Apple. 

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Na última década, o mercado mobile ampliou de forma exponencial, impulsionado pelo crescimento na penetração de smartphones, redes mais velozes e o mundo dos apps. “Não vejo um único fator sendo o mais importante e, sim, a soma de todos, que fizeram aparecer novos mercados, novos serviços e novas soluções com o crescimento das redes sociais, economia compartilhada e métodos de distribuição. O segmento da música deu uma guinada, o de filmes também e o de games descobriu no mobile um canal de distribuição poderoso. Grandes empresas, algumas das maiores do mundo, surgiram na última década e outras grandes não conseguiram acompanhar as mudanças. O mercado de publicidade teve – e está tendo – de se reinventar a cada ano com novas possibilidades tecnológicas, mas principalmente devido ao mobile virar preferência de acesso da maior parte dos consumidores”, diz Rafael Magdalena, presidente do Comitê de Mobile do IAB Brasil.

Primórdios
Curiosamente, o termo smartphone foi cunhado na década de 1990, e o conceito de telefones inteligentes – aparelhos móveis com funções alternativas além da simples execução de chamadas – foi criado pela alemã Frog Design em 1983 e apresentado, quem diria, à Apple Computers em primeiro lugar. Que não se interessou pelo projeto. Em 1994 veio o primeiro smartphone da história: o IBM Simon Personal Computer, aparelho com função de assistente pessoal e funções como agenda, recebimento de e-mails, um cartão de memória de 1MB. Em 2000, surgiu o primeiro aparelho efetivamente denominado smartphone: o Ericsson R380. Depois vieram inúmeros modelos: o Blackberry 957, por exemplo, nasceu em 2001.

O iPhone chegou efetivamente ao mercado americano no dia 29 de junho de 2007, 20 dias depois do histórico anúncio feito por Steve Jobs, então presidente e fundador da Apple. Ao anunciar o iPhone, Jobs declarou que de tempos em tempos surge um produto revolucionário, que modifica tudo. De cara, o que ele apresentou de revolucionário foi a interface totalmente touchscreen e o conceito de loja de aplicativos. Seu design acompanhava a história dos produtos da Apple: era belo, simples, e facílimo de usar. Seu sistema operacional era o mesmo dos computadores da Apple, com possibilidades semelhantes de atualização.

O iPhone foi anunciado como três produtos em um: um iPod widescreen com controles touch, um “celular revolucionário” e um comunicador de internet inovador. “Hoje a Apple reinventou o telefone”, anunciou Jobs, sob aplausos e assovios de uma entusiasmada plateia. Irônico, ele brincou com os smartphones existentes no mercado, não tão “smart” e ou simples de usar, cheios de botões e limitações.
Mais fino que qualquer outro aparelho, com uma tela grande e a possibilidade de usar os dedos no seu comando multitouch, o iPhone carregava o sofisticado software OSX, que lhe deu o status de um minicomputador com possibilidades únicas de áudio, vídeo e dados.

Mundo mobile
O iPhone, com sua interface simples e novas possibilidades de uso, transformou o celular definitivamente em mídia. Depois dele, todos os celulares caminharam em direção ao mundo colorido do touch screen e dos aplicativos. “O iPhone mudou tudo. Transformou o celular em um device de mídia e marketing. O mobile vai representar mais de 30% do total do investimento em marketing nos próximos anos. Como consumidor, é meu melhor amigo”, disse Greg Stuart, CEO da Mobile Marketing Association nos Estados Unidos.

O número de celulares em uso no mundo passou de 7 bilhões, sendo que 50% da média global de usuários web mobile usam o celular como meio primário ou exclusivo para acessar a internet. A Cisco prevê que em 2020 haverá mais pessoas no mundo com celulares do que com eletricidade, água e automóveis. Em cinco anos haverá 11,6 bilhões de celulares, dispositivos e conexões no mundo, incluindo 8,5 bilhões de telefones pessoais. Deles, 67% serão “inteligentes”.

Mundialmente, pela primeira vez em 2016, os investimentos em mobile marketing superaram aqueles em mídia online no desktop – o segmento superou investimentos de US$ 100 milhões, compondo uma fatia de 51% do mercado publicitário digital global, segundo dados do eMarketer. Vídeo, estratégias com geolocalização, deep links em anúncios, apps com anúncios, mídia nativa em mobile e conteúdo mobile first para marcas estão entre as tendências do efervescente mobile marketing no mundo hoje.

Mike Reynolds, diretor de mobile e vídeo do Internet Advertising Bureau em Londres, afirma que se no início o iPhone era privilégio de quem podia pagar, agora cerca de um em cada três habitantes do Reino Unido possuem um iPhone.

“O iPhone levou smartphones ao mercado de massa, e rapidamente se tornou o mais pessoal dos devices, aquele que as pessoas não vivem sem. Claro que isso trouxe desafios: com as audiências mobile crescendo, editores têm tido dificuldade de monetizar seus recursos mobile, bem como anunciantes em criar estratégias que atraiam seus consumidores. A boa notícia é que a maré está mudando e estamos vendo cada vez mais campanhas premiadas com o mobile no centro”, diz.

Segundo ele, com a chegada da era da Internet das Coisas e da tecnologia wearable, o papel do celular tende a se ampliar. “O celular é o que conecta os pontos entre todas essas coisas e se tornará o controle remoto que dará vida a tudo isso, o que tende a fortalecer a relação das pessoas com seus smartphones. Mais do que nunca, mobile se consolidará como essencial para as estratégias de marketing das marcas”.

No Brasil
Hoje, no Brasil, o mobile ocupa dois em cada três minutos e os aplicativos correspondem a mais da metade do tempo dedicado ao digital, segundo estudo da comScore Media Metrix no Brasil. O tempo digital nunca foi tão grande quanto hoje, e é liderado pelo consumo em smartphones. Segundo o estudo, o total de tempo digital triplicou desde 2014, com o mobile crescendo mês a mês e hoje sendo responsável por 67% do total de tempo navegado pelos brasileiros. Cada vez mais o engajamento cai no desktop e sobe em mobile: as audiências mobile representam uma contribuição cada vez maior para o total da audiência digital.

O consumo feito através do mobile já representa a maior parte de categorias-chave no Brasil como mídias sociais, busca, tecnologia e varejo. A imensa maioria do consumo de mídias sociais (70%) é feita através de apps para smartphones. O desempenho das categorias música e rádio se destacam no mobile em relação ao desktop: os usuários investem em média 98 minutos em sites/apps de música como Google Play, Spotify, SoundCloud. O Facebook tem cerca de 71 milhões de brasileiros ativos por dia via mobile.

Segundo um estudo da Mobile Marketing Association, os Millennials são, disparado, os que mantêm a relação mais assídua com os celulares, valendo-se do dispositivo em todos os momentos de ócio. Sua média diária de conexão é de cerca de 3 horas e 57 minutos. A média gasta no Brasil, de uma maneira geral, na internet pelo celular, é de 3 horas e 14 minutos. No Brasil, a Apple não domina o mercado de smartphones, mas o de tablets. Cerca de 83% dos smartphones no país são do sistema Android, com as marcas Samsung e  Motorola dominando a cena.

O consultor Simon Sinek costuma comparar a relação com o celular e com as redes sociais a vícios como a bebida, o cigarro e o jogo. Ganhar likes e receber mensagens representa dopamina pura injetada na veia. “A conturbada adolescência costuma ser a época em que as pessoas se tornam viciadas em relacionamentos virtuais, e esses adolescentes se tornarão adultos com pouca ou nenhuma capacidade de estabelecer relações significativas e profundas com pessoas no mundo real. A falta de equilíbrio no uso de devices e redes sociais é um problema”, destaca.

A psicóloga Lillian Stephan comenta uma nova questão que o uso de celulares trouxe para os consultórios de terapia: a Nomofobia, o vício em celular, que acomete tanto jovens quanto adultos e se caracteriza, basicamente, como uma dependência absoluta do celular, e a fobia de ficar sem ele. “Essa dependência tem ligações com baixa autoestima, depressão, isolamento, atitudes antisociais, timidez e solidão”, explica Lilian.