Por: Armando Ferrentini

 

Uma das célebres frases produzidas pelo brilhantismo de Sartre, era “O homem está condenado a ser livre”, muito repetida por ele durante os movimentos de 1968 na França e que acabaram se espalhando pelas esquerdas mundo afora.

Curiosamente, o movimento pendular da História fez o conceito escapar do domínio da gauche e ser bandeira de luta hoje em países onde seus governos se dizem de esquerda, mas o que ocorre com o povo é o oposto do que a gauche prometera.

Estamos vendo no Brasil a síntese desse sentimento: um país que acreditou no socialismo, elegendo em quatro pleitos presidenciais sucessivos candidatos comprometidos com os movimentos sociais, vendo-se às voltas com uma das piores crises econômicas da sua história, com altas taxas de desemprego, retorno da inflação, subida desenfreada dos preços e os principais governantes atolados em escândalos e ameaçados de envolvimento em processos judiciais que poderão levá-los a cadeia.

Muitos cidadãos isentos da disputa política se perguntam onde foi que erramos. Acredito que nosso principal erro foi escolhermos pessoas despreparadas para assumir os postos para os quais foram democraticamente eleitas.

O caso Lula da Silva é o mais emblemático, pois a transcrição de conversas telefônicas que teve com outros dirigentes políticos, revela uma personalidade canhestra, com ausência de modos para dirigir qualquer entidade séria deste país, muito menos a Presidência da República, que ocupou por dois mandatos seguidos, ajudando (e muito) a eleger e reeleger sua sucessora e, pior ainda, prometendo voltar em 2018.

A partir desse erro crasso do eleitorado brasileiro, pois se para ser um médico, um advogado, um engenheiro o cidadão percorre praticamente duas décadas de bancos escolares, além de especializações que se dispõe a fazer em seguida a sua formatura, para melhor aprender e entender o ponto ao qual se propõe dedicar na carreira profissional, o que deveria ser exigido de um cidadão que se candidata a Presidência da República?

Por acreditarmos que a voz do povo é a voz de Deus, fechamos nossos olhos e tapamos nossos ouvidos para essa questão extremamente crucial, deixando inclusive de considerar que nem sempre Deus está concordando em nos atender.

Não pretendo com o raciocínio acima, ofender quem não teve a oportunidade de frequentar escolas. Deste grupo de pessoas, felizmente cada vez menor no Brasil, saem cidadãos exemplares, bons chefes de família e muitos deles propensos a galgar os espinhosos degraus para vencer na vida.

Estamos falando porém do mais alto cargo da administração pública brasileira, que é a Presidência da República. Basta olharmos para trás e vermos as biografias de grandes Presidentes que o Brasil teve, todos com cursos superiores completos e um alto grau de preparo intelectual, pelo menos aqueles que produziram boa gestão.

Nem precisamos ir tão longe. Aqui mesmo, nesta edição comemorativa dos sessenta anos da revista, temos depoimentos de empresários e profissionais que atingiram altos cargos em suas carreiras, discorrendo sobre as transformações sofridas pelo trade nestas últimas seis décadas.

O que vemos são textos muito bem redigidos, com depoimentos de grande valor de conhecimento, revelando preparo intelectual acima da média para poderem exercer a responsabilidade das suas funções.

Ninguém chega ao topo sem condições. E nas vezes em que isso ocorre, sempre há as exceções, as pessoas não se sustentam, pois têm a obrigação de se revelarem a cada instante da sua jornada diária, serem aptos a desempenhar o papel que lhes cabe.

É nosso dever de povo cujo país está situado entre a sétima e a oitava economia do planeta, respeitar esse tipo de exigência, que não é em absoluto discriminatória.

Mesmo cumprindo esse protocolo, correremos o risco de errar na escolha. Mas, sempre será um risco menor diante do que estamos vivendo nestes últimos tempos no Brasil.