Nos últimos 45 anos dois movimentos mudaram, definitivamente, a história da bebida café. Protagonistas: Nestlé e Starbucks. Uma espécie de renascimento da bebida.

Starbucks criando milhares de ilhas nas metrópoles e principais cidades do mundo entre a casa e o trabalho das pessoas. Onde param, respiram, leem livro, jornal, revista, feicebucam, tuitam ou whatsappam, mais um café, e seguem o fluxo. Nestlé, quando seu departamento de pesquisa, em 1970, desenvolveu uma mais que revolucionária máquina de fazer café gostoso, dose a dose, mediante o encapsulamento do pó. O “briefing” que supostamente teria sido dado ao departamento era o de desenvolver uma traquitana-sistema capaz de produzir um café expresso de extraordinária qualidade e semelhante ao dos melhores baristas da Itália. Muito especialmente os da Via Veneto, em Roma, e os das galerias de Milão. Nascia, então, a Nespresso. E, à conquista do sistema/processo, agregou-se design na veia, comunicação superior e pontos de venda que se referenciavam em bonbonnières e joalherias.

A soma das duas conquistas multiplicou o consumo em doses do café ao infinito.

Sem concorrentes, a Nespresso deitou, rolou e abusou. Tratou seus clientes no tapa, durante mais de uma década e levou aos tribunais todos os que tentaram copiar seu sistema/processo/produto/cápsula. Durante algum tempo, enquanto processos e recursos tramitavam, atenuou sua arrogância e apenas comprou – mas não usou – as sandálias da humildade. Prazo dos direitos vencidos e derrotada nos tribunais, ganhou centenas de concorrentes em todo o mundo.

Alguns deles, ainda impactados com os supostos direitos autorais da Nestlé, apostaram em desenvolver e fabricar máquinas; e, depois, cápsulas para essas máquinas. O pior caminho. Todos os demais, referenciando-se na ciência e na arte de pegar carona, que é a senha do sucesso dos tempos que vivemos, decidiram montar no cavalo selado que passava à sua frente e invadia as casas e empresas – as máquinas do Nespresso em diferentes cores e modelos – e partiram direto para os finalmentes: concentraram-se exclusivamente na produção de cápsulas. As compatíveis com Nespresso. E é o que assistimos neste momento em todo o mundo e muito especialmente no Brasil.

Em Ribeirão Preto instalou-se a Kaffa. Uma empresa portuguesa que coloca o pó de café das melhores marcas em cápsulas compatíveis com as máquinas Nespresso. Começou a funcionar em agosto de 2014. Em cinco meses, já produziu 1 milhão de cápsulas e a previsão para este ano é de 24 milhões. Hoje já atende 50 clientes. Muito brevemente serão cem, talvez 200.

Com nova marca “compatível”, de novo, o consumo de café volta a acelerar. A Nestlé/Nespresso tendo de usar todos recursos possíveis e imagináveis para preservar as vantagens do pioneirismo e atenuar as marcas da arrogância. E os “dependentes” de café com novas e infinitas alternativas. Inclusive de levar para casa e oferecer para os amigos os cafés do Suplicy, Santo Grão, Coffee Lab, Octavio… E, mais adiante, o da própria fazenda ou daqueles pés de café no fundo do quintal… Lembra do coador?!

*famadia@mmmkt.com.br