Em comemoração aos seus 50 anos de circulação ininterrupta, a revista Marketing solicitou à Academia Brasileira de Marketing uma lista das 50 marcas publicitárias mais relevantes destas cinco décadas, tendo sua redação realizado previamente uma seleção das que foram mais citadas pela publicação ao longo deste tempo.

Alguns princípios foram estabelecidos pela Marketing, como o de serem desconsideradas aquelas marcas que, apesar de terem sido muito bem-sucedidas em determinados períodos, sucumbiram.

Exemplo emblemático, dentre muitos outros em uma economia que deixou de ser estável em nosso país para se transformar em mutante a cada curta passagem do calendário, sofrendo com certa frequência as consequências de largos momentos de inflação e alta de juros, podemos encontrar na pioneira Varig.

Uma empresa aérea que foi padrão no seu tempo e, com o novo governo militar de 1964, ganhou as concessões internacionais da então extinta Panair, a Varig impulsionou-se de forma elogiável na época, para linhas rentáveis como Nova York e Paris, dentre tantas, alcançando o máximo de atrevimento empresarial quando alçou voo para Tóquio pelo Pacífico, com escalas em Lima e Honolulu, em um voo de 24 horas de duração.

Há que se considerar nesse arrojo as especificações técnicas das aeronaves que percorriam essas rotas, logicamente inferiores do ponto de vista técnico e de conforto dos passageiros, ao que se tem à disposição hoje no mercado.

Além de se transformar em um grande modelo empresarial nas décadas de 1960, 1970 e 1980, além do início dos anos 1990, a Varig sempre esmerou na quantidade e qualidade da sua publicidade, tendo rapidamente alcançado a condição de um dos maiores anunciantes do Brasil, explorando temas que até hoje fazem sucesso em outras marcas, como falar da cultura brasileira, com destaque para costumes regionais de localidades deste imenso país, que sequer possuíam aeroportos para servirem de pouso às suas grandes aeronaves.

A Varig, contudo, não resistiu ao próprio crescimento e a uma economia globalizada que passou a lhe fazer concorrência de forma mais avantajada para os consumidores. Além disso, sempre viveu o drama de, em determinado momento ainda curto da sua longa trajetória, ficar atrelada a uma fundação (Rubem Berta), o que, em termos empresariais, significa uma catástrofe. Veja o leitor o caso da Antarctica, que só se safou por uma “engenharia” jurídica que reduziu seus laços com a Fundação Zerrener, soltando-se para uma aliança com a Brahma, outra gigante do setor na época, daí surgindo a AmBev, hoje com tentáculos internacionais.

A marca Varig, apesar de todo o seu passado, não chegou aos 50 anos da revista Marketing e também por isso não está no rol que hoje o PROPMARK apresenta aos seus leitores e ao mercado em geral.

Já a AmBev, agora através das suas grandes marcas Antarctica e Brahma, encontra-se relacionada, exatamente pelo seu trilhar empresarial diferenciado, em busca de uma vertente que lhe proporcionasse sustentabilidade para enfrentar concorrentes internacionais mais preocupados com os lucros e toda a escala financeira daí decorrente, do que com as fórmulas de cervejas e refrigerantes.

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O Fora Temer, hoje um grito de guerra dos simpatizantes de candidatos (diretos ou indiretos) derrotados no 1º turno das eleições municipais para prefeitos e igualmente derrotados na composição das novas Câmaras Municipais em todo o país, perde força não só diante dessa outra manifestação popular através das urnas, como também porque o presidente da República tem demonstrado agir com sabedoria e sem arroubos.

Sendo este um jornal voltado para a comunicação do marketing, julgamos caber-nos uma observação sobre um início de campanha publicitária assinada pelo governo federal, relacionando os colossais números negativos que encontrou na administração pública, ao assumir o vice, em decorrência do impeachment.

Boa a iniciativa, com um pecado já sanado: acirrar os ânimos de um conflito político e politizado com os perdedores e principalmente com os seus simpatizantes, muito deles pertencentes a uma faixa etária bastante jovem e, portanto, trazendo para o ringue a frase que Sartre gostava de repetir: “Todo jovem é de esquerda, todo velho é de direita”.

Antes de ser uma ofensa, a frase revela um ensinamento da vida. Só depois de viver muito, percebe-se a enorme diferença entre utopia e realidade.

Temer já não é mais um jovem e reconhece razão no autor da frase. Por isso, preferiu uma vez mais evitar o confronto e determinou aos seus auxiliares a continuação da campanha, porém sem o trocadilho da retirada do país do vermelho em sua contabilidade.

A cor vermelha de longa data foi apropriada pelas esquerdas em todo o planeta e no Brasil não poderia ser diferente. A bem da verdade, ela acabou por ter sido muito usada nas últimas campanhas eleitorais, tornando-se um símbolo não só de determinada ideologia política, como também de determinados grupos ligados ao protesto pelo protesto.

Com sabedoria, já que não mais disputa o poder, mas está nele, Temer evitou a presença da provocação na campanha, que vai prosseguir, mas dirigida a todos os brasileiros e não apenas aos simpatizantes do ideário político do centro à direita.

O quadro, ainda grave na economia, é de união e não mais de confronto. Todos devemos entender essa necessidade que não é de a ou b, mas de todo o país.

A declaração do presidente Temer no último dia 6 reflete essa preocupação: “Quero ter aplauso daqueles que estão desempregados e não tenho nenhuma preocupação com popularidade”.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda